Trust is all we need

Os dois maiores fatos desta semana não têm uma relação aparente: a prisão de Julian Assange, criador do Wikileaks, e o discurso de Mario Vargas Llosa em Estocolmo, na semana em que recebeu o Prêmio Nobel de Literatura 2010.

Ah, mas eles têm sim senhor. Em artigo curto e lúcido de Theodore Dalrlymple sobre o assunto, o nosso amigo doutor aponta a verdadeira razão para que o Wikileaks seja considerado um braço do totalitarismo cultural que nos enreda atualmente:

The idea behind WikiLeaks is that life should be an open book, that everything that is said and done should be immediately revealed to everybody, that there should be no secret agreements, deeds, or conversations. In the fanatically puritanical view of WikiLeaks, no one and no organization should have anything to hide. It is scarcely worth arguing against such a childish view of life.

The actual effect of WikiLeaks is likely to be profound and precisely the opposite of what it supposedly sets out to achieve. Far from making for a more open world, it could make for a much more closed one. Secrecy, or rather the possibility of secrecy, is not the enemy but the precondition of frankness. WikiLeaks will sow distrust and fear, indeed paranoia; people will be increasingly unwilling to express themselves openly in case what they say is taken down by their interlocutor and used in evidence against them, not necessarily by the interlocutor himself. This could happen not in the official sphere alone, but also in the private sphere, which it works to destroy. An Iron Curtain could descend, not just on Eastern Europe, but over the whole world. A reign of assumed virtue would be imposed, in which people would say only what they do not think and think only what they do not say.

Se o nosso amigo está correto ou não, só o tempo dirá. Contudo, tivemos com Mario Vargas Llosa o exemplo de que a confiança ainda impera nas relações humanas – e da forma mais amorosa possível. Em seu discurso, Vargas Llosa fez um elogio à literatura e à leitura como forma de libertação interior dos possíveis totalitarismos que poderemos enfrentar. O momento mais emocionante não foi a declaração de amor à Madame Bovary ou a Dom Quixote, mas sim à uma pessoa mais próxima, sua esposa Patrícia, que, durante 47 anos, organizou a sua vida inteira para a única coisa que sabia fazer direito: escrever.
http://www.youtube.com/watch?v=2FTcWGi0QQs

Quem não se emocionar com tamanha prova de confiança, tenha certeza de que não é um ser humano.

3 comentários em “Trust is all we need

  1. Pingback: Tweets that mention Trust is all we need | Dicta & Contradicta -- Topsy.com

  2. Eu poderia dizer, por exemplo, que os comentários contra o Wikileaks aqui citados não vão além de um chororô desmedido, ou pior; paranóia.

    Porque parece que não há, pro autor, distinção entre a esfera pública e a esfera privada. A comparação entre a exposição de questões de Estado e de segurança pública com segredos privados foi extremamente infeliz.

    É claro que sou a favor da exposição das questões de Estado e de segurança pública (o que é, afinal?) aos seus cidadãos. A discussão é se deve haver ou não um limite para essa exposição, pois que se não toda a nossa (porca) diplomacia ficaria comprometida.

  3. O que Theodore Dalrymple quis dizer, no meu entendimento, é que o WikiLeaks não será responsável por uma “era de transparência” na esfera pública, como muitas mentes infantis pensam.
    A diplomacia internacional sempre foi feita de segredinhos sujos, quem não sabe disso? E me parece vital que continue assim. E vai continuar, com ou sem WikiLeaks. O que provavelmente ocorrerá é uma adaptação, como ele diz, onde “as pessoas dirão apenas o que não pensam e pensarão apenas o que não dizem”.
    O velho mito da transparência total não se sustenta, seja na esfera pública ou privada. Sem segredos e meias verdades ainda estaríamos dentro das cavernas.

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *

Você pode usar estas tags e atributos de HTML: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>