Um convidado bem perturbador

Os primeiros sintomas de que a sociedade está doente são a descrença de que o mal existe e a insensibilidade em relação ao bem, já dizia Jean Bodin.

É o que acontece atualmente no Brasil – e no restante do mundo.

Querem provas? Nem falo da eleição que já está decidida desde o início dos tempos, muito menos da imbecilidade que reina nos centros pensantes dos EUA e da Europa.

Falo de um sentimento que, apesar de ser pouco palpável, algumas pessoas podem sentir no zeitgeist: a cegueira do ser humano em saber que é capaz de realizar atrocidades – sempre com as melhores intenções, é claro.

Anos e anos de iluminismo, anos e anos de razão, anos e anos de ciência e progresso – e para quê? Para termos Auschwitz, Dachau, Treblinka. Os Gulags. O 11 de setembro.

Como disse Theodore Dahlymple em artigo magistral para o City Journal, o mal é sempre uma presença incômoda em nossas vidas, que queremos vê-lo embaixo do tapete, mas não podemos porque, afinal, ele é a verdadeira prova de nossa tão querida igualidade: a capacidade de ferir o seu semelhante.

Além disso, há um outro problema: o mal tem uma persistência assustadora. Ele sabe se disfarçar. Sabe se esconder. E é incapaz de chegar ao seu ladinho e disser: “Olá, eu sou o Mal, prazer em conhecê-lo”.

Mas o fato é que as pessoas pensam dessa forma. Acreditam que ele se anuncia como se tivesse um mínimo de sensibilidade. Meus caros, esqueçam tal idéia pois ele não tem essa politesse, apesar de, muitas vezes, se camulfar na aparência de um gentleman (leiam King Lear, ouçam Sympathy for the Devil e saberão do que falo).

Quando entramos nessa espiral, não há retorno. Pode demorar, mas a derrocada é inevitável. A doença se alastra pela sociedade e não se pode fazer mais nada. Exceto, é claro, dançar um tango argentino e fantasiar de que o mal possa ter a aparência de um Peter Sellers.

5 comentários em “Um convidado bem perturbador

  1. Martim:

    Sem trocar totalmente de assunto, já leste “Os Excluídos”, da autora chinesa Yiyun Li?

    Uma grata surpresa me deparar com uma trama tão bem articulada, escrita com elegância, apesar da aspereza do tema, que versa sobre do período pós-Revolução Cultural da China.

    Abraços.

    Job

  2. Pingback: Anônimo

  3. O mal é uma ilusão de ótica provocada pela a exposição frequente à notícias trágicas.

    As mídias alastram acontecimentos em questão de segundos. Mas isso não significa que existam mais tragédias acontecendo.

    No bojo acho que o mundo nunca foi tão bem.

    Os povos são mais tolerantes, e as diferenças são mais bem aceitas. A própria Europa, já chamada de “barril de pólvora” atualmente está pacificada

    E quanto a esses exemplos que vc citou, apenas o 11 de setembro é relativamente recente. Os outros já aconteceram a muito tempo, e não tem perspectiva nenhuma de voltar a ocorrer.

    E analisando bem o 11 de setembro nem é exatamente um genocídio, pois teve menos de 4 mil mortos…

  4. O mal hoje é “revolucionário”, por mais que mate, trucide, estupre, vicie. O mal hoje é o prenúncio do bem, representado pela revolução libertadora. São os fins justificando os meios, como sempre (quando, na verdade, esses fins não se justificam nem a si próprios).

    Atentados, tráfico de drogas, quebra de sigilo: tudo, tudo é justificável se ajudar o “povo” a se “libertar” da “opressão”. Na mente doentia de quem idolatra o mal relativizando o bem, botar a sociedade de cabeça pra baixo é o que há de mais sublime na existência humana.

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