A defesa das humanidades, no estado de inédita decadência do seu estudo em algumas centenas de anos, é uma boa bandeira?
John M. Ellis, professor de literatura alemã na Universidade da Califórnia, acredita que sim. Mas não do modo pelo qual muitos a têm empunhado:
And so “Defend the Humanities” is a most attractive flag to sail under. The trouble is that for those who are now using it, it is a flag of convenience only, and a deeply dishonest one. For the conception of the humanities set out above is despised by those who now ask for our help in saving the departments they run. Long ago, they took aim at it, defeated it and abolished it, and that is precisely the source of their present troubles. The story of how they did it and why is well-known. A virulent strain of Marxist radicalism took refuge in college humanities programs just as it was being abandoned in the real world because of catastrophic results world-wide. This created a mismatch of temperaments: humanistic scholars are naturally animated by a profound respect for the legacy of our past, but all the instincts of political radicals go in the opposite direction. Their natural instinct is to denigrate the past in order to make the case for the sweeping social change that they want. That’s why they don’t look at the past and see accumulated knowledge and wisdom, but instead only a story of bigotry, inequality and racial and sexual prejudice that needs to be swept aside. Political radicals are interested in the utopian future and in their present-day attempts to achieve it, not the cultural past which must be overcome to get to where they want to be.
O leitor interessado na questão pode ler o texto completo aqui.
É preciso ter cuidado, todavia, com o discurso de o tempora, o mores. Muito da pompa da defesa das humanidades é injustificável: o culto do passado é um fetiche. As humanidades precisam de critério, seleção e qualidade, e não de passadistas e disseminadores da paranóia, que tendem a — felizmente — desaparecer. A meu ver, a qualidade do que se faz em humanidades, da literatura à sociologia, depende da mentalidade vigente nos ambientes de relevo, dentro e fora das universidades. Uma atitude positiva, não-ideológica, é essencial para a sua sobrevivência.
Se querem um bom exemplo, o Blog da Crítica, por assim dizer o antigo Crítica na Rede, voltou.
Haverá Dicta 10?
Sim, Ângelo. Está quase pronta para impressão.
Não gostaria de usar este espaço para fazer comentários fora do assunto, mas não posso mais evitar: Julio, ainda teremos aquele artigo sobre Leibniz e a aplicação da ars combinatoria a problemas jurídicos?
Alexandre, pode fazer os comentários que quiser. Acredito que sim, sobre Leibniz; eu tenho apenas um esboço a partir de uma pesquisa que fiz no final do ano passado. Só preciso transformar em algo palatável para o público. Abraços.
Boas notícias.
O que pode haver em comum entre um graduado em ciências exatas (e.g. um engenheiro formado pela Poli-USP) e uma pessoa que trabalha com Direito (e.g. um Promotor de Justiça, só para exemplificar)? Há alguma ligação entre essas áreas? Alguma área comum de estudo?
Sim, e não é novidade. Os melhores juristas que conheci tinham formação em exatas, formal ou não (o melhor deles é Pontes de Miranda). Hoje é comum lá fora, e será comum aqui, usar ciência da computação. O velho estilo do foro e a picaretagem retórica estão com os dias contados.
Um exemplo aleatório: http://computationallegalstudies.com/
Uma tendência especialmente saudável é o estilo “politécnico” (coincidência de termos!): http://computationallegalstudies.com/2013/05/02/some-brief-thoughts-on-the-failure-of-crits-and-leftist-law-professors-to-defend-progressive-causes-by-brian-tamanaha/
A ideia é trazer para o direito a expertise em outros campos. No Brasil ainda predomina o nefasto estilo “autorreferente”: sabe-se pouco direito e nada de áreas técnicas contíguas, como engenharia, biologia, criminologia, computação, matemática.
O último link me fez sorrir. Não custa sonhar com o dia em que deixarão de ser referência para nossos juristas as vetustas carrancas de nunca assaz citados mestres do saber (que nas últimas décadas vêm sendo substituídos por ideólogos “progressistas” em vários círculos acadêmicos, mas a autoridade da vetusta carranca funciona da mesma maneira – sobre eles, vale conferir o artigo completo aqui http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2256725).