As conseqüências políticas e morais da pornografia

Essa é uma época propícia para falarmos de pornografia.

“O que você tem contra a pornografia?! Cada um vive como quer! Viva a liberdade!” – Essa é a posição padrão hoje em dia. Mas e se a pornografia tiver conseqüências graves para a vida em sociedade, e para os indivíduos que a consomem? A esfera da sexualidade humana tem raízes muito profundas na nossa natureza. A relação de um casal que se ama profundamente e constitui uma família é algo bem diferente da masturbação de um homem solitário perante a foto obscena de uma anônima. Em qual dos dois casos o sexo é algo realmente humano e bom? E em qual deles ocorre sua perversão?

Este artigo da revista online InsideCatholic trata tanto das conseqüências sociais quanto individuais da pornografia (nos comentários, há exemplos concretos sobre as conseqüências dela nas famílias). No que tange a política, concordo com o ponto do autor de que o que garante a liberdade dos homens é a virtude (ponto feito pelos próprios founding fathers dos EUA). Só acho um pouco ingênuo crer que seja essencial proibir a pornografia, e discordo que o Estado deva coibir vícios individuais que não violem a propriedade alheia. A preguiça também tem efeitos sociais desastrosos; devemos voltar com a prisão por “vadiagem” e cobrar multa de quem fica na cama até tarde? Além disso, falar da castidade como “primeiro princípio político” é, no mínimo, um exagero. Ainda assim, essa primeira parte do texto oferece pensamentos valiosos sobre a importância da virtude da castidade (não confundir com celibato) para a ordem social.

O ponto alto do artigo é a segunda parte, que trata dos efeitos da pornogragia nos indivíduos e na cultura como um todo. O que ela faz com a auto-estima de quem a consome? E com sua capacidade de amar?

Enfim, o texto faz alguns pontos polêmicos, mas sempre com profundidade de análise e disposição de embasar suas teses na realidade observável.

13 comentários em “As conseqüências políticas e morais da pornografia

  1. Pingback: Lula um trabalhador: Dêxa uômi difcançá!!!! « La Fúria de Ocram

  2. Creio que há ainda um outro fator para se pensar quando o assunto é pornografia – a vida dos que vendem seu corpo para o prazer alheio. O consumidor de pornografia dificilmente se pergunta sobre a vida daquela mulher ou daquele homem anônimo que seus olhos só vêem como objeto. Que caminhos levaram ela ou ele a aceitar aquela condição? Que caminhos terá pela frente depois de passar por aquilo? e não venham me dizer que um ser humano é capaz de passar incólume por uma experiência como essa – a de trabalhar em um filme pornô ou de tirar fotos pornográficas, sabendo que a partir daquele momento está exposto ao mundo.

    Quanta infelicidade, meu Deus, estará por trás de cada página de revista, cada fotografia que transita pela Internet, cada imagem encenada de depravação?

  3. O grande mérito do artigo é levantar o ponto sobre as consequências individuais e sociais da pornografia. Mas, como bem levantado pelo Joel, a proibição da pornografia é só uma entre tantas que seriam levadas a cabo caso o estado interferisse para preservar a moral individual/social. Mas não concordo que o autor tenha demonstrado empiricamente sua tese. Citar o aumento de gastos com pornografia e, logo em seguida, afirmar que o aumento da violência se deve a esses gastos não demonstra nada. Acusar o Marquês de Sade pela revolução francesa também é ingenuidade. E utilizar filmes como “Alien 3″ para corroborar com o argumento é o fim!
    Concluindo, um cheiro de moralismo ficou no ar, principalmente depois que eu li o comentário do “Frizero” acima. Se as pessoas ficassem tão infelizes assim, será que iriam realmente se vender?! Utilizar o estado para “proteger” essas pessoas, mesmo sem ouvi-las, é só mais um passo.

  4. Ah! E relacionar pornografia com Serial Killers é a mesma coisa de relacionar pedofilia com Padres. Há pedófilos que são padres e há serial Killers que são viciados em pornografia, mas não posso generalizar, nem muito menos culpar o celibato e a pornografia por esses crimes.

  5. Excelente artigo. Excente. As pessoas tem uma falsa noção de que moral é necessariamente ligada à religião. Isso não é verdade. Existem morais religiosas e não-religiosas.

    Porém discordo dos comentários. Não porque as idéias estejam erradas, mas porque já se baseiam em premissas erradas sobre o texto lido.

    Não é o Estado que vai interferir na liberdade individual. O novo dado é que o “Vício” reduz a liberdade. Ou seja, a falta de liberdade é uma opção da liberdade do indivídio. Sucumbindo ao Vício, eu obscureço minha capacidade de escolha. Cabe ao Estado “criar condições” do desenvolvimento individual da virtude e não ser permissível publicamente ao víciol porque isso seria tirar a liberdade das pessoas. É isso que o defende. Só uma coisa a liberdade não é livre para fazer, acabar coma própria liberdade;

    Em nenhum momento “se relaciona pornografia com Serial Killers” como CAUSA e EFEITO como o autor do comentário lançou como “petição de princípio oculta”. E quero lamentar o empobracimento do discurso com a desnecessário erístico argumentum ad Hominem “relacionar pedofilia com Padres” que apenas visa desqualificar o texto da Inside Catholic por ser católico. Afinal, casos de pedofilia acontecem com religiosos de todas as denominações, e também com não religiosos. Fingindo argumentar o contrário, insidiosamente se associa pedofilia ao catolicismo. O que é um argumento erístico deplorável que apenas reduz o debate.

  6. Muito bem, Antuenes, é isso mesmo.

    Os modernos em geral ficaram impregnados dessa idéia Cirenaica da vida, de que hedonismo = liberdade, quando diversas obras elementares da filosofia clássica (mesmo as exortações!) negam esta identificação.

  7. Ver pornografia e violência como causa e efeito direta é mesmo ingênuo.

    Mas apontar que grande parte dos serial killers era consumidor ávido de pornografia, e ainda o depoimento de alguns deles de que a pornografia teve seu papel em formar o caráter deles, me parece relevante.

  8. Prezados,
    Acredito que nas festas que os “governantes” fazem para cooptarem seus aliados políticos, para determinada votação, importante para o país, ou até mesmo, somente como cumprimento de dever, fico a imaginar: que tipo de “governantes” nós temos? Pois precisamos do “sexo pornográfico”, comprado, vulgarizado, para termos um projeto legislativo aprovado…Antonio J.J. Venturin

  9. Falar da castidade como “primeiro princípio político”, ou sequer como princípio político, é coisa de puritano. Não é a toa que uma sociedade protestante como os EUA historicamente tenha apresentado leis moralistas quanto a conduta individual (mais do que países teoricamente confessionais), sendo os Eua um estado que faz do laicismo um de seus pilares. Sei que o texto é de uma revista católica, mas essa abordagem traz essas questões, mas como se mencionou os founding fathers e história americana, acho importante ressaltar a influênca protestante nessa situação.

  10. Demorei em responder, mas pensei muito no texto.

    Todos os argumentos do autor podem ser rebatidos com alguma facilidade, e posso dar exemplos assim que conseguir mais tempo. Mas a questão permanece:

    A pornografia é um vício? E, sendo um vício, corromperá a sociedade?

    Minha resposta é não para as duas questões. Os argumentos para demonstrar isso são mais complexos.

    Vamos supor, no entanto, que a resposta fosse sim, que a pornografia, ao contrário do meu entendimento, que é curto, seja um vício. Robert R. Reilly propõe, antes de se clamar pela censura, tomarmos consciência dos motivos para se proibir a pornografia.

    Vejo alguns motivos para tomar consciência, mas nenhum motivo para por em prática qualquer tipo de censura. Não há razão suficiente para confiar a qualquer corpo de sábios, burocratas, juristas ou partes interessadas a responsabilidade de chegarem a alguma conclusão inteligente.

    E a dificuldade de uma conclusão inteligente pode ser intrínseca ao problema, talvez a questão seja de responsabilidade individual, intransferível a qualquer coletivo. Um exemplo são as leis americanas sobre o mercado da pornografia.

    A pornógrafa Dian Hanson foi editora por muitos anos das revistas softcore do grupo Glamour. Num dos editoriais da revista Leg Show ela comentou sobre a dificuldade de se fazer leis. A grande barreira seria a imaginação e o gosto dos legisladores e cita o exemplo de uma das distinções entre a distribuição de softcore e hardcore, distinção necessária para permitir ou restringir os pontos de venda e a circulação das revistas:

    Um dos itens acordados anos atrás é que nas revistas softcore não poderia haver descrição gráfica (fotografia ou desenho) de uma mão segurando um pênis ou do pênis enfiado numa boca ou no ânus.

    Tudo simples, perfeito e acordado, e as revistas continuaram, ou passaram a, fazer ensaios com as modelos tocando e massageando pênis com os pés. Os censores não haviam pensado na variedade das revistas de fetiches e parafilias. Não lembraram ou não quiseram pensar que alguém se excitaria com união de um pé a um pênis.

    A exuberância das parafilias, que é manifestação da exuberância humana, aumenta o ridículo da idéia de censura.

    Há quem se excite vendo mamães lidando com bebês. Pela lei, e aos olhos de alguém mal-intencionado ou sem noção, a descrição gráfica num “Livro do Bebê” de uma mãe limpando o pênis de seu filho na hora do banho poderia se enquadrar no rótulo de hardcore. E, do vendedor ao editor, todo mundo poderia ser multado e processado.

    Já uma mãe tocando o pênis do bebê com seus pés, situação muito mais obscena, seria softcore e, se não fosse claramente pornografia infantil, poderia circular na maioria das livrarias e bancas de revista.

    Outro exemplo de visão curta é a minha. Em vez de censura eu exigiria que os filmes ofensivos fossem dublados e legendados em espanhol. Mas sempre haverá o parafílico que apreciaria ainda mais essa versão.

    É uma questão de trave e cisco, conforme Mateus 7:3-5. O common sense do legislador pode deixá-lo aquém da amplitude da questão e a falta de common sense nos reclamantes e patrulheiros da sociedade ameaça a todos. Motivos suficientes para que se busque a consciência sobre a questão, e que não se faça nada de censura.

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