Pois é, meus amigos. O homem morreu, aos 91 anos, de causas naturais, segundo a sua família.
O que dizer?
Segundo um colega meu, era simplesmente o escritor mais perfeito em termos técnicos que já existiu.
Ouso dizer que ele também atingiu o sublime em termos emocionais. Ou alguém nega que não ficou emocionado com o final de “Franny & Zooey”?
Era também o autor de, pelo menos, cinco contos que deveriam constar em qualquer manual de como saber escrever. E, meus amigos, escrever um conto é uma das coisas mais díficeis do mundo.
Diziam que era paranóico, recluso, que gostava de garotinhas.
Nada disso mais importa.
O que importa agora é imaginá-lo ao lado da Senhora Gorda.
(Repararam que eu não citei The Catcher in the Rye de propósito?)
P.S. ATUALIZADO DEPOIS DE HORAS REVOLTADO COM OS OBITUÁRIOS E PENSATIVO SOBRE A FINITUDE DAS COISAS:
Tudo bem que, neste momento, para provarmos que somos mais salingerianos do que o próprio Salinger, achemos que O Apanhador é um livro menor.
Não é coisíssima nenhuma. Pode ser o seu mais famoso, mas não é um livro menor.
Na minha modesta opinião, O Apanhador tem o mesmo impacto na literatura americana que teve, por exemplo, O Estrangeiro, de Camus, na francesa.
Aliás, exceto pelo fato de que Holden não mata ninguém por causa do sol, os dois falam sobre o mesmo tema: o sujeito totalmente possuído pelas mentiras românticas que foram transmitidos, advinhem?, pelo mundo hipócrita dos adultos.
Se em Camus, Mersault termina no inferno, Salinger faz Holden atravessar a viagem própria de quem descobre que o mundo não é como nós queríamos. Ele passa pela metanóia da verdade romanesca.
(E se você não gosta que eu cite René Girard, go fuck a duck your phoney)
Por isso, O Apanhador não pode ser desprezado, nem pelos próprios fãs de Salinger. Se não fosse por este livro, como entenderíamos Seymour, Franny – e, claro, a revelação de que existe a Senhora Gorda?
O que nem os fãs entendem é que a obra de um grande escritor não pode ser vista a partir de dois ou três livros, e sim como um todo. E, no caso de Salinger, isso é mais do que necessário pois tenho a impressão que ele disse o que tinha de dizer nesses quatro livrinhos de quase duzentas páginas cada um.
E o resto é silêncio, etc. e tal.
Que bom que vc não citou Catcher in the Rye, porque Salinger é muito mais contos e Família Glass (chuifs) do que o romance lá. Estou (chuifs) de luto chuifschuifschuifs.
Martim,
Desculpe-me pela ignorância mas quem é a “Senhora Gorda”?
Wagner
A Maria Celina tirou as palavras da minha boca. Deviam aproveitar a morte dele para reconhecer o quanto esse romance é meia boca e que o ouro está nos contos.
Caro Wagner:
Leia “Franny & Zooey” e vc saberá quem é a Senhora Gorda. Garanto-lhe que não se arrependerá.
Abraços
Martim
Só pra ser chato, reparei que o parênteses foi de propósito. E uma correção de uma pequena falha. É THE catcher in the rye. Não DE catcher…
Caro
Eu sei do THE. Mas na rapidez do momento e da emoção as coisas saem com falhas.
Obrigado pela dica.
Abraços
Martim
A senhora gorda é a Mercedes Sosa?
Estes contos a que você se refere estão no “Nove estórias”?
Fernando, o “Nove Estórias” é o ápice do Saliger. Mas “Franny & Zooey” também é interessante. Mas para mim a obra-prima dele é a injustamente pouco citada novela “Seymour, uma introdução”.
Não sei quanto à parte técnica, mas, sentimentalmente (momento mulherzinha) eu prefiro “Franny & Zooey”.
Nove Estórias é muito bom e tem contos da família Glass, inclusive o famoso (?) “Um dia perfeito para peixes-banana” (fica bonitinho até em português <3).
"Seymour, uma introdução" é realmente injutiçada, Jonas, pois é muito bom. Mas eu acho que é pra ler depois dos outros contos, depois de conhecer melhor a família Glass.
Hm, quem sabe agora não relançam Salinger com novas traduções melhoradas? Acho que nunca vi Franny & Zooey para vender, alguém já viu?
Sei que há duas traduções para a dupla Seymour, an introduction/Raise high the roofbeam, carpenters, que ficou Seymour/Pra cima com a viga, moçada (antiga tradução) e Seymour/Carpinteiros, levantem bem alto a cumeeira (nova).
Nove Estórias tem numa edição antiga. Só?
Essas nossas editoras, francamente…
Pingback: Tweets that mention Salinger morreu | Dicta & Contradicta -- Topsy.com