Discutindo mentiras

Sua esposa está dormindo e alguém do trabalho dela liga para sua casa. O que você responde? “Ela não está.”, talvez? Bem, trata-se de uma mentira. Não sei se justificada ou não, mas não há dúvida de que suas palavras não correspondem à sua crença. Num caso como esse muitas outras saídas são possíveis: “Ela não pode atender”, “Será que eu posso anotar o recado e ela te liga depois?”, etc., então o dilema não é tão forte.

Vamos dificultar um pouco as coisas. Seu amigo escreveu um poema destestável. A cada verso lido você franze a testa perante tamanho mau gosto. As rimas são todas de verbos no infinitivo ou oxítonas terminadas em “ão”. Contudo, ele se dedicou muito à obra-prima. Eis que ele aparece, todo ansioso, e pergunta: “E aí? Gostou?”. O que se deve dizer? Aqui muito depende do jeito que se fala, e acho que a maioria das pessoas concordaria que, se ele pressionasse mesmo, o certo seria falar sinceramente a verdade (ainda que, na prática, predomine a mentira branca preservadora de egos).

Mas e aqueles casos em que a verdade traz uma consequência grave? O melhor exemplo é o do oficial nazista que pergunta se você está escondendo judeus em casa. Você está. Qualquer resposta que não seja um “Não!” direto e reto, qualquer tentativa de equivocação ou mudança de assunto, ele interpreterá como uma evasiva e invadirá sua casa atrás dos judeus. Nesse caso extremo, a grande maioria julgaria que o correto é mentir.

Contudo, na história da filosofia, muitas figuras de peso disseram que a mentira é errada sempre. E não estou pensando só no Kant, não! Sto. Agostinho e Sto. Tomás de Aquino, por exemplo, chegaram à mesma conclusão: a verdade deve ser dita sempre não importando as conseqüências. Se possível, em alguns casos, é lícito fazer algum tipo de equivocação (“Achei esse o seu melhor quadro!”, sem dizer que você detestou todos, e que mesmo o melhor é uma porcaria) ou evasiva, mas mentir nunca. Punha-se uma ênfase excessiva na verdade literal das palavras, sem levar tanto em conta a intenção de enganar.  Afinal, na mentira e na equivocação a intenção é a mesma: enganar; a diferença é apenas que, no segundo caso, as palavras são literalmente verdadeiras.

Tomás de Aquino diferenciava entre três tipos de mentira: a viciosa, que visa enganar por um fim vil mesmo; a oficiosa, que visa algum bem (por exemplo, a vida da pessoa); e a jocosa, que visa divertir ou entreter. Essas duas últimas são, na opinião dele, pecado venial, ou seja, não muito graves, mas ainda assim moralmente erradas.

Hoje em dia, a maioria de nós (inclusive eu) pensa diferente. Mentir é errado, mas há casos que o justificam, como salvar a vida de um inocente, por exemplo. E  para outros bens, menores do que a vida? Contar uma pequena mentira para tirar um inocente da prisão? Ou para ajudar alguém a conseguir um emprego? Ou para não ferir sentimentos? É um pouco arbitrário dizer que só se pode mentir para salvar uma vida e excluir outros valores importantíssimos (liberdade, honra, dignidade, sustento, bem-estar material). Uma vez feita a exceção, fica difícil impedir que novas desculpas entrem em cena. Ou a verdade deve ser sempre obedecida e dita, ou então é sempre uma questão de ponderar a verdade com outras considerações.

E se os beneficiados com a mentira formos nós mesmos, e não outra pessoa, a licitude da mentira muda? Se a vida ou o emprego na berlinda forem meus, posso mentir para mantê-los?

A posição radical me parece a mais adequada para a formação do caráter. A outra, mais liberal,  parece que aos poucos cria o hábito de mentir, ou pelo menos torna-nos insensíveis à mentira, de forma que mentir se torna quase um reflexo para sair de situações embaraçosas, para não ferir os sentimentos de um conhecido, etc. Mas, ao mesmo tempo, não acho nada errado mentir nos casos extremos em que algo sério está em jogo. Como sair dessa inconsistência?

15 comentários em “Discutindo mentiras

  1. Não creio que haja uma inconsistência. A moral não é um sistema. O que diz, na prática, o que é melhor é a prudência. Nos casos extremos citados, simplesmente a pessoa não tem o direito de saber a verdade. É simplesmente imoral entregar um judeu a um nazista, além de imbecil. Só temos o dever de dizer a verdade quando há um direito contraposto, justificado de acordo com os fins, os meios e as circunstâncias. Há o dever de calar, há o dever de dizer “não” quando a resposta, dentro do sistema lógico, deveria ser sim. Mas as circunstâncias, os fins, etc., não o permitiriam – basta “olhar” para o que acontece quando você entrega um judeu a um nazista (você é simplesmente co-autor do crime de homicídio). E isso só se consegue ver num caso concreto, fora dos livros, ou estou enganado. De qualquer modo, a posição radical, quando for prudente no sentido clássico, não tem nada de radical: é a reta razão, longe das soluções idealistas e whatnot, incluindo a razão prática kantiana.

  2. Mas dizer que a prudência resolve é não resolver; o que um prudente faria?

    A resposta clássica parece que seria a de dizer a verdade para o oficial nazista. Ao menos nunca vi, nem em Agostinho nem em Tomás, qualquer exceção aceitável para mentir.

    A idéia de que se o interlocutor não tem o “direito de saber a verdade”, então pode-se mentir sem problemas é questionável.
    Ninguém de fora do círculo mais próximo tem o direito de saber sobre a vida íntima dos outros; isso não quer dizer que seja correto mentir acerca ela.

    Alguém não ter o direito de saber algo significa apenas que você não tem a obrigação de falar sobre isso se a pessoa lhe perguntar. Ou seja: tem o direito de se calar, de responder “Não é da sua conta!”. Mas a mentira não deixa de ser mentira dependendo do interlocutor.

    Por isso mesmo o “direito de saber a verdade” nem aparece no tratamento clássico da questão.

    Mentira é manifestar externamente algo diferente do que se acredita. O “direito à verdade” do interlocutor parece algo acidental demais, e esvazia o significado de mentira. Uma mesma afirmação sabidamente falsa seria mentira para o interlocutor X e não o seria para o interlocutor Y.

    Concordo que é bem sensato, no exemplo dado, “olhar” as conseqüências de se dizer a verdade ao oficial nazista. Mas e nos outros casos (nos casos nos quais uma mentira pode dar a liberdade ao inocente, salvar um emprego, alegrar a vida de alguém, etc), também devemos apenas olhar para o que acontece?

    Acho essa resposta, assim sem maiores qualificações, muito consequencialista. Depende de uma “pesagem” de valores, de uma comparação entre o valor de se dizer a verdade e o valor daquilo que se resultará da mentira. Essa abordagem, se aceita, relativiza completamente o valor da veracidade; ela se torna mais um peso a ser levado em conta, um mero “meio”, que pode ser dispensado se o fim for importante o bastante.

    Na verdade, pelo consequencialismo, tudo se transforma em “meio” potencialmente dispensável – mentir, roubar, matar, torturar: estaríamos dispostos a fazer isso por um fim suficientemente valioso.

    O que estou procurando são os critérios, os princípios, que potencialmente justificam uma mentira (que não apenas atenuem sua gravidade – todos concordamos que há mentiras mais ou menos graves – mas que realmente a tornem uma ação boa). Ainda não encontrei uma resposta satisfatória; o que não quer dizer que tal resposta não exista.

  3. Joel,

    Há o recurso à restrição mental, não?

    Além disso, parece-me que cabe a consideração de escolher, como justificativa à mentira, que se escolhe o “mal menor”.

  4. Haha, tenho certeza que você foi ambos, Cláudio!

    Algo de que me lembrei agora é que o objeto da mentira também é relevante para se julgar se ela é lícita ou não.
    No caso do oficial nazista, todo mundo concorda que é lícito mentir. Eu mesmo diria : “Não, não tem nenhum judeu aqui”.

    Mas e se um oficial ordenasse que eu negasse a minha fé, caso contrário mataria vários inocentes? Nesse caso, não vejo compromisso possível: mentir ao oficial e negar a minha fé, mesmo que da boca para fora, será invariavelmente uma ação má.

    Há coisas, aquelas mais profundas da consciência de cada um, as quais nunca é lícito negar, não importa quais consequências ruins a verdade possa trazer.

    No caso do oficial nazista, nega-se apenas um fato contingente, que poderia tanto ser quanto não ser que eu continuaria igual. No segundo, nega-se uma convicção muito profunda, que me define como pessoa. Se mesmo ela é negociável, então não há nada que não o seja.

    Lembro que Sto. Agostinho faz essa distinção: mentir sobre coisas importantes, da fé ou da moralidade, por exemplo, é sempre gravemente errado. Outras mentiras, sobre assuntos de menor importância, são bem menos graves (mas sempre erradas!).

  5. Wagner:
    Bom, a saída do “mal menor” é consequencialismo, é a comparação de diferentes valores. Um grande problema dele é que são coisas impossíveis de se comparar: o que é mais importante: dizer a verdade ou a vida de um inocente? O que é pior: um inocente morrer ou uma mentira grande?

    Não gosto nada da idéia da restrição mental. Será que estamos falando da mesma coisa? Por restrição mental entendo algo do tipo que alguns jesuítas supostamente faziam na Inglaterra ao serem perseguidos: um interrogador perguntava: “Você é padre?”, ao que o padre jesuíta respondia em voz alta: “Não sou sacerdote…” e completava apenas mentalmente: “… de Apolo em Delfos”.

    É isso que você chama de restrição mental? Se sim, acho uma distinção descabida. Se for lícito fazer essa restrição mental, então é lícito mentir também (tudo o mais constante, claro).

    Se se aceita a distinção como moralmente relevante, então a ética se reduz a um jogo de cláusulas mentais e malabarismos de linguagem, sendo que o que está sendo feito é, em todos os sentidos relevantes, a mesma coisa. Em ambos os casos fala-se algo contrário ao que se acredita, com a intenção de enganar quem ouve, para se evitar um fim mau.

    Não estou dizendo que a mentira nunca seja lícita. Estou dizendo que, se a restrição mental for, então a mentira também tem que ser (nos mesmos casos).

  6. Vou aproveitar para resgatar a honra dos jesuítas: muitos deles não aceitavam a restrição mental. Ela era um tema de debate dentro da ordem, e nunca foi algo ampla ou facilmente aceito.

    O fato é que pegou muito mal para eles, especialmente na Inglaterra, onde o lado contrário apressava-se em exagerar ou inventar delitos e imoralidades em propagandas anti-católicas de baixo nível. Por muito tempo, o Catolicismo era (mal) interpretado como uma religião na qual os fins justificam os meios: para defender a Igreja, seria permitido mentir e até assassinar.

  7. a) Outro, Fileleno: o episódio da passagem da herança de Isaac a Jacó em Gn, 27. Embaraçoso para muitos leitores, o ardil na realidade evitou que o terceiro patriarca fosse o Esaú amigo das lentilhas. O Salmo 134 (135), 4, aponta Deus mesmo por trás da escolha de “Jacó, seu servidor”. b) “A moral não é um sistema. O que diz, na prática, o que é melhor é a prudência. ” A afirmação do Lemos é rigorosamente aristotélica. Está lá na Ética a Nicômaco; wikipedia to the rescue: “Virtue (arete) then is a settled disposition of the mind determining the choice of actions and emotions, consisting essentially in the observance of the mean relative to us, this being determined by principle, that is, as the prudent man would determine it.” (Book II, Ch. 6). c) Na mesma linha, muitos lembrarão, vg, de São Josémaria fingindo-se de louco durante a perseguição na Espanha dos anos 30. d) Sei de muita gente séria, entretanto, que se lembra de Santo Tomás como na alusão de JP. O assunto rende.

  8. A definição do Catecismo, em sua primeira versão, é a seguinte: 2483. “Mentir é falar ou agir contra a verdade com o objetivo de enganar alguém *que tem o direito de saber a verdade*”.

    Há alguns anos, creio eu, a última parte foi retirada na nova versão, provavelmente em razão de uma sutileza teológica (de modo algum para alterar a doutrina clássica). O fato dela constar na primeira edição é uma prova de que não consiste num erro tout court. Acredito que seja para evitar julgamentos precipitados, do tipo “ah, ele não tem o direito de saber”, quando a rigor o tem.

    O direito de saber a verdade não só é um ponto clássico na discussão, como é a doutrina oficial em teologia moral.

    Para que seja uma mentira, é preciso que (i) o fato seja objetivamente falso, (ii) seja dito com o objetivo de enganar e (iii) seja cometido contra quem tenha o direito de saber a verdade. Se uma só dessas condições não estiver presente, não se trata de uma mentira, sequer venial.

    No caso do nazista, o fato é objetivamente falso, tem como objetivo salvar a vida de um judeu e, por fim, é dito a um criminoso que não tem sequer o mínimo direito de saber a verdade.

    E justamente, Joel: “o que um prudente faria” implica um caso concreto; a minha referência à prudência tira à discussão o seu caráter puramente sistêmico.

    A doutrina de Aquino não discute casos práticos, mas os seus princípios são totalmente válidos. Cabe em cada caso, em que nos envolvamos direta ou indiretamente, decidir. Se for uma mentira, então é uma mentira. Não é possível ir além disso em termos ideais e “sistêmicos”, e Aquino sabia disso.

    Pode-se, por exemplo, usar um passaporte falso em caso de guerra, em certas circunstâncias, a fim de salvar a própria e a vida de outros. Não tem como objetivo enganar as autoridades, aliás ilegitimamente constituídas, do Estado de exceção, e etc.

  9. Talvez essas palavras de Eric Stoutz ajudem a entender a mudança na segunda versão do CIC:

    “Some differences of interest did concern content. The wording explaining the nature of a lie was changed. The first edition, number 2483 defines lying as “to speak or act against the truth in order to lead into error someone who has the right to know the truth.” This last clause “who has the right to know the truth” was deleted from the revised Catechism because it was more confusing than helpful for a number of the faithful.

    Properly understood there is no doubt that the older formula is valid. The notion of “lying” can never be considered apart from the issue of the kind of truth being sought, the party who is seeking the truth, and whether they are really entitled to it (the classic case of Nazi’s demanding to know whether there are Jews in the house).”

    De qualquer modo, concordo totalmente com você quando diz que uma noção mais flexível é sempre perigosa. De modo que Ratzinger não foi bobo ao aceitar a sugestão e mudar o texto.

    Mais flexibilidade na definição, mais sutileza exigida: mais sutileza, mais lassidão, ao menos para a maioria…

    Parecem haver duas escolas sutilmente diferentes, embora envolvam justamente o problema da prudência e da maturidade no que diz respeito à decisão moral. Por isso não devemos encarar a moral como um sistema. A questão nunca termina se não reconhecemos esse ponto.

  10. Prezados amigos, Ave Maria Puríssima!

    Chego meio atrasado ao debate, mas não posso deixar de notar que bastaria abrir um bom manual de moral para ter a resposta, tintim-por-tintim.

    Por exemplo, Frei Royo Marin OP, tomista, na clássica Teología Moral para Seglares (B.A.C.), explica que a restrição mental pode equivaler ou não à mentira, dependendo de se é restrição mental estrita ou lata. O Wagner lembrou bem da pertinência da restrição mental, mas faltou acrescentar essa distinção.

    Toda mentira é imoral, por menor que seja, do contrário os fins justificariam os meios, o que é evidentemente inaceitável.

    Exemplo clássico: se (por absurdo) contando uma mentirinha oficiosa se conseguisse tirar todas as almas do inferno e do purgatório, ainda assim não se a poderia dizer. Parece duro para quem não se atém com frieza aos princípios, mas é assim: jamais se pode ofender Deus, portanto jamais se pode mentir.

    O exemplo do mau jesuíta é igual a uma mentira pura e simples, portanto imoral. Por quê? Porque não havia como quem perguntou nem sequer imaginar aquilo que o mau jesuíta acrescentou, só no pensamento, ao que efetivamente disse. Logo, esse tipo de restrição mental é uma mentira.

    Já o exemplo da resposta ao telefone é uma restrição mental lícita e está errado dizer que seja mentira, como se faz no início do artigo: “Não, minha mulher não está… (e em pensamento:) para atender o telefone”. Pois quem liga prevê que a pessoa com que deseja falar possa estar ocupada e sem poder atender.

    Sempre que é possível, pelo contexto, imaginar a verdade, ainda que o primeiro e mais imediato sentido do que é dito induza a pensar o contrário, nesse caso não há mentira propriamente dita, mas aquele tipo de restrição mental que, em certos casos, é lícita e até mesmo obrigatória.

    O mesmo se aplica à resposta ao nazista, ou, para citar o exemplo clássico, à resposta do sacerdote sobre se sabe algo que ele ouviu no sacramento da penitência: um rotundo “Não”, isto é, “Não, não sei… para lhe dizer” (aliás, neste caso, ele praticamente não sabe nem para dizer a si mesmo, por assim dizer).

    Pois se quem pergunta não tem o direito de perguntar, então prevê que possivelmente não obterá a resposta adequada; logo, não há mentira. (Sobre isso o Julio Lemos já tratou suficientemente).

    No caso de Esaú e Jacó, o fato de Deus ter aprovado a bênção já dada não significa que tenha aprovado a mentirinha por meio da qual foi obtida, nem tampouco me parece claro que a Sagrada Escritura a aprove. Os Santos Padres parecem discordantes no que toca a essa questão, mas jamais me aprofundei e, como eles só têm autoridade vinculante quando em consenso etc., isso não me tira o sono.

    Enfim, com certeza teria sido mais claro apenas citar quem explica isso melhor (por exemplo a obra referida no início), mas espero que esse improviso tenha dado para entender.

    Abraços,
    Em JMJ,
    Felipe Coelho

  11. Bom, estive fora por uma semana, e só voltei agora. Não vou recomeçar debate já esfriado, apenas delinear algumas respostas que eu daria.

    Júlio, obrigado pelos comentários. Concordo que a prudência seja sempre importante; contudo, dizer que “é preciso prudência para resolver” não ajuda a resolver a questão, porque esse mesmo comentário pode ser feito à toda e qualquer questão moral. A pergunta é: existe alguma situação em que seja correto dizer o contrário do que se acredita ser a verdade com a intenção de convencer o interlocutor disso?

    Em Tomás de Aquino não encontro uma definição de mentira que inclua o direito do outro a saber a verdade. Encontro, isso sim, passagens em que ele define a mentira da maneira tradicional e de senso comum, que é manifestar externamente o contrário daquilo que se acredita, com a intenção de enganar a outra pessoa.
    E ele é bem explícito em dizer que não se pode mentir nem mesmo para evitar um homicídio. Concede o direito de ocultar a verdade, mas nunca de manifestar algo que se sabe falso.

    Em todo caso, não se trata de procurar autoridades para defender esta ou aquela posição, mas sim de entender como o problema era tratado. O direito da outra pessoa de saber a verdade é relevante? Parece razoável dizer que sim.

    Concordo que a moral não é um “sistema”; não ficou claro para mim o que na minha posição você ataca ao dizer isso. Até onde posso ver, tratamos a questão de forma similar, apesar de discordar em algumas definições.

    Felipe Coelho: A distinção feita por você parece válida (não por ela ter vindo de um manual de moral, mas por ser, em seus próprios méritos, relevante): em alguns casos, uma afirmaçào pode ser levada em mais de um sentido, e espera-se que o interlocutor a quem se quer enganar interprete-a no sentido contrário do que pensamos.

    Algumas expressões, pelo uso, acabam adquirindo sentidos mais amplos. “Ela não está”, de fato, é uma fórmula que, no uso comum, já significa “ela não pode atender”. Agora, no caso do oficial nazista esse certamente não é o caso. A situação é bem clara de que a resposta só pode ter um sentido.

    Outra questão: o direito do oficial de saber se há um judeu na casa depende da finalidade que ele quer dar a esse conhecimento? E se ele perguntasse apenas para fazer um censo populacional, seria ainda assim moralmente correto responder “não” para ele?

    Bom, isso fica para outras discussões.

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