Filosofia a serviço da fé

Tenho aprendido muito sobre a filosofia no Brasil lendo o livro Conversas com Filósofos Brasileiros, organizado por Marcos Nobre e José Marcio Rego, que reúne entrevistas (todas feitas para o livro, tendo inclusive algumas perguntas que se repetem para todos os entrevistados) com 16 grandes nomes da filosofia nacional. Tendo sido publicado em 2001, veio em boa hora: Miguel Reale, o padre Henrique de Lima Vaz, Gerd Bornheim, Benedito Nunes, Bento Prado Jr., Carlos Nelson Coutinho e Balthazar Barbosa Filho faleceram desde então.

Uma crítica comum ao livro à época da publicação é a de que não se trata de conversas com filósofos, mas com estudiosos, acadêmicos e historiadores de filosofia, o que é coisa muito diferente. A crítica é justa, mas não é dela que quero falar. Há um ponto mais particular que despertou minha atenção: um fato da história do ensino de filosofia no Brasil que é pouco lembrado e que reflete um capítulo importante da filosofia aqui e no mundo.

“Na época da universidade, reinava [nas universidades do RS] um tipo de filosofia que está quase esquecida aqui no Brasil – o tomismo.” A citação é da entrevista com Bornheim. Ele, Raul Landim, Oswaldo Porchat e, evidentemente, o Pe. Vaz – que era um pouco mais velho, tendo nascido em 1921 – tiveram algo em comum em sua formação: passaram pelo tomismo de manual ensinado como doutrina pronta e acabada, uma filosofia perene, um verdadeiro fim da filosofia. Em certo sentido era mesmo, se pensarmos no fim como o túmulo.

Landim relata uma história que, imagino, deva ter sido comum: a decepção com a mediocridade filosófica desse tomismo manualístico, que tinha em Maritain seu maior e melhor expoente. Lembro-me de quando li a Introdução à Filosofia do Maritain (republicada em 2005). Embora naquela época – creio que em 2006 – eu fosse bem mais propenso a confundir boa filosofia com tomismo militante, ainda assim o livro me marcou como antifilosófico; uma sequência de argumentos visando defender, contra erros opostos, o “realismo moderado” de Aristóteles e S. Tomás, um pico entre dois vales. Parecia-me algo muito inferior ao “tomismo” com que eu estava mais familiarizado, de autores como Brian Davies, Herbert McCabe e Ralph McInerny. Eles, ao contrário de Maritain, não pareciam considerar a filosofia como um jogo em que fosse preciso defender um time. Mas eu era um universitário lendo aquilo por conta própria; imagine ter obras ao estilo desse catecismo filosófico como o norte do estudo de filosofia!

Bem, Landim conta que a exceção a essa regra foi o contato com Lima Vaz, que trazia outros ares para a Faculdade de Filosofia de Nova Friburgo. Conta Landim:

“O curso era estruturado da seguinte forma: durante três anos eram estudadas cem teses tomistas que versavam sobre questões de ontologia, de teoria do conhecimento, de antropologia, de ética e de cosmologia. Essas teses eram ensinadas segundo o método medieval de exposição e de demonstração de teses filosóficas. Os termos das teses eram definidos, em seguida eram citados os seus adversários (diga-se, de uma maneira vaga e simplista), provava-se, então, a tese como conclusão de um ou vários silogismos e, finalmente, eram refutados os adversários da tese. Vaz nos seus cursos incorporava esse método a um método pessoal que continha duas partes: a indução histórica e a redução crítica. Pela indução histórica era estudada a gênese histórica de cada uma das teses analisadas; pela redução crítica eram examinadas e criticadas as diversas posições dos diferentes filósofos que tinham abordado a questão. O método do padre Vaz de fato adaptava o método medieval às exigências do ensino contemporâneo.

Nessa época, ele foi vítima de muitas incompreensões. Essas incompreensões acabaram por obrigá-lo a sair de Friburgo e a se transferir para a UFMG.”

Em meio a um curso em que tudo se resumia a S. Tomás, Lima Vaz introduzia seus alunos a autores como Kant, Descartes e Hegel, assim como autores diferentes dentro do próprio neotomismo. Nem é preciso dizer quem rendeu mais frutos filosóficos, não só em Landim mas no cenário brasileiro de maneira geral. O esquecimento de nossa fase tomista é completo (a bem da verdade, o esquecimento é a regra no Brasil; o positivismo, outra de nossas correntes fundadoras, também não deixou rastro).

A trajetória de Landim lembra a de um filósofo inglês certamente conhecido por quem se interessa por Tomás de Aquino: Anthony Kenny. Mais conhecido no Brasil, talvez, por sua história da filosofia, ele tem diversas contribuições em psicologia filosófica, filosofia da linguagem e desenvolve, à sua maneira, uma maneira de filosofar que deve muito a Tomás e Wittgenstein.

No início de seus estudos acadêmicos, Kenny se preparava para o sacerdócio católico, e por isso foi mandado da arquidiocese de Liverpool para o English College em Roma. Lá, cursou os três anos de filosofia na Universidade Pontifícia Gregoriana. Retiro um breve relato de sua experiência de seu livro de 2006 What I Believe (uma descrição mais detalhada de sua história intelectual pode ser encontrada em The Path from Rome).

“The ‘Greg’ was run by Jesuits; lectures were given in Latin to audiences of hundreds, and conformed to a pattern of studies laid down in an encyclical by Pope Pius XII, Deus Scientiarum Dominus. Many of our Jesuit teachers were learned men, but it took quite unusual gifts, which few of them possessed, to be able to inspire students within the constraints of medium and curriculum. From 1949 to 1952 I was instructed in Thomistic philosophy – ‘philosophia ad mentem Sancti Thomae’ as the Papal instructions had it – but the course involved almost no study of Aquinas’s own writings, only of textbooks written by our professors. I found much of the philosophy unconvincing and repulsive, and on vacation in England after taking my third-year licentiate I seriously considered abandoning the course and leaving the seminary.”

Depois dessa experiência negativa com o tomismo, as coisas melhoraram com o curso de teologia, muito mais interessante, e Kenny se graduou. Mas a repulsa ao tomismo perdurava. Foi só na pós-graduação que ele vislumbrou uma mudança:

“I had the good fortune to be assigned as my supervisor at the Gregorian Fr. Bernard Lonergan S.J., who was to become well known as a philosopher for his book Insight. He tried to make me see that St. Thomas should not be judged by the dehydrated versions of his thoughts in textbooks. It was necessary to come to grips with his original massive works – and Lonergan would describe to me his own decades of striving, as he put it, ‘to reach up to the mind of Aquinas’.”

Finalmente, de volta à Inglaterra, o contato com filósofos como Herbert McCabe, Peter Geach e Elizabeth Anscombe ajudá-lo-ia a desenvolver seu próprio pensamento e cimentando a importância de Tomás nele.

O divisor de águas dessa fase do pensamento católico foi, sem dúvida, o Concílio Vaticano II e as profundas mudanças que ele trouxe. Ao olhar a sério para o que o mundo produzia, deve ter ficado impossível sustentar a ingenuidade, e também a arrogância, do tomismo de manual. Esse meio de mediocridade disfarçada de zelo doutrinal (e, por que não, que também cultivava coisas boas como a objetividade, o apreço pela argumentação lógica e a definição dos termos) era letal justamente para as mentes mais criativas e independentes, e que poderiam fazer as melhores contribuições para a filosofia.

Sem dúvida que os autores e professores do tomismo ou neotomismo oficiais eram inteligentes, bem intencionados e honestos. Vejam esse trecho do prefácio às Lições de Filosofia Tomista de Manuel Correa de Barros, publicado nos anos 40:

“Agora, [com as lições] publicadas em volume, não me é possível saber a que mãos irão parar. Se for às mãos dum católico, inclinado a olhar com simpatia a filosofia tomista, por causa da aprovação que a Igreja lhe tem manifestado publicamente, não quero deixar de lhe apontar o exemplo de S. Tomás, que nunca hesitou em abordar, com a maior objetividade, os grandes problemas intelectuais do seu tempo, convicto de que todos, se forem encarados com largueza de vistas, se podem resolver dentro da mais rigorosa ortodoxia. Se for às de um não católico, disposto, pelo mesmo motivo, a ver o tomismo com desconfiança, devo lembrar-lhe insistentemente que não se trata, para S. Tomás, de proselitismo, mas duma tentativa honesta, dum esforço sincero de compreensão da realidade. Quando S. Tomás pretende convencer, e fá-lo sempre com firmeza e simplicidade, não é para chamar os outros ao seu campo, mas para lhes levar o que, segundo pensa convictamente, é a expressão da verdade. A exemplo de S. Tomás, também eu não defendo o sistema tomista por espírito de partido, mas por julgar que esse sistema, pelo menos nas suas grandes linhas, e compreendido no seu espírito mais do que nas palavras que às vezes podem traí-lo, se deve considerar verdadeiro.”

Apesar das boas intenções e da inteligência, o projeto fracassou. Pior: o ensino filosófico por eles praticado matava a filosofia nas almas dos melhores, ou seja, daqueles que não se satisfaziam simplesmente aceitando doutrinas, mas que queriam filosofar. Contraste isso a Correa de Barros, que em dado momento gaba-se do fato de que, dentre todos os tomistas, havia 24 teses de comum acordo (uma referência a um documento de S. Pio X, no início do século 20); mostrando um inegável progresso se comparado a outras filosofias que naufragaram: ramos sem frutos como Descartes ou Kant.

Tanto em Landim como em Kenny, o tomismo patrocinado pela Igreja apareceu como algo sem sentido, descolado de qualquer preocupação real e cujas respostas fáceis não convenciam. Em ambos os casos, foi um professor fora da curva, um filósofo não bem visto pelas alas mais conservadoras de suas instituições (não pretendo com isso igualar os méritos de Lonergan e Vaz, e nem expressar adesão às ideias deles), que “salvou” sua formação.

Dado isso, pergunto-me se a postura filosófica, ou talvez antifilosófica, da Igreja Católica, não tenha contribuído para a perda da fé de tantos intelectuais que começaram seus estudos imbuídos de convicções religiosas ou ao menos inquietações espirituais.

Voltando ao Conversas com Filósofos Brasileiros, é interessante notar quantos dos atuais filósofos brasileiros (ou – como queiram – professores de filosofia) partiram de inquietações ou convicções religiosas. Além dos citados Raul Landim e Lima Vaz, também Porchat, Balthazar Barbosa Filho e mesmo Paulo Arantes (que participara da Juventude Universitária Católica) – para não falar de Miguel Reale – tiveram na religião aspectos importantes de seu ímpeto filosófico inicial. Ao mesmo tempo, os meios religiosos não fomentaram, nem de longe, o tipo de pensamento necessário ao amadurecimento filosófico; e agora correm atrás do prejuízo. Praticamente toda a elite intelectual do mundo vive alheia, quando não avessa, à ideia de religião. A culpa não foi da malvada modernidade antropocêntrica…

Um dito medieval dizia que a filosofia é criada da teologia. Philosophia ancilla theologiae. Se interpretado no sentido de que a teologia trabalha – também – com premissas fornecidas pela razão, de forma que tenha que se alterar quando a razão filosófica descobre ou propõe coisas diferentes, é um lema muito saudável; mantém o sentido de realidade no pensamento teológico. Se significa, entretanto, que considerações teológicas devem guiar o pensamento filosófico, servindo como motivo para rejeitar possibilidades intelectuais, então ele decreta a morte da verdadeira filosofia. A história do neotomismo católico, que muitas vezes não foi fiel nem mesmo ao pensamento de Tomás de Aquino, preferindo as facilidades das fórmulas, o ilustra perfeitamente. Está aí uma empregada que, na falta de seus direitos legítimos, não trabalhará.

43 comentários em “Filosofia a serviço da fé

  1. Joel,

    Muito interessante esse seu artigo!

    Li, recentemente, o “Pensamento católico no Brasil”, de Antonio Carlos Villaça, que analisa autores em comum com a obra que você cita. Chamou-me a atenção alguns pensadores católicos modernos, por ele citados, cuja filosofia me parece distante da neotomista, apesar de não contradizê-la: Damião Berge e, principalmente, Henrique Vaz. Esse último lembrou-me, posso estar equivocado, Zubiri.

    A que postura “filosófica ou anti-filosófica” da Igreja você se refere? À indicação de Tomás como uma espécie de “porto seguro”?

    Minha dúvida é se esse considerar Tomás como o “fim da filosofia” é exatamente o que a Igreja pregou ou se é, antes, um espírito de corpo que se apodera dos seguidores do Aquinate e o transforma numa ideologia.

  2. Saber se foi mesmo “a Igreja” quem pregou Tomás como o ápice e, na prática, fim da filosofia, dependerá de saber quem é ou quem fala pela Igreja. Se a tomarmos no sentido usual (e, creio, errôneo) de alta hierarquia, então sim, a Igreja apoiou explicitamente o projeto do neotomismo e de se tomar Tomás como a verdade última alcançável à razão humana, embora, é claro, ainda restassem detalhes a se aperfeiçoar. Isso se manifesta, por exemplo, com as repetidas afirmações magisteriais dos papas.

    Não encontrei em português, mas aqui vai em espanhol a Aeterni Patris, encíclica de Leão XIII que se diz ter dado início à renascença de estudos de S. Tomás e ao chamado neotomismo.
    http://www.vatican.va/holy_father/leo_xiii/encyclicals/documents/hf_l-xiii_enc_04081879_aeterni-patris_sp.html

    A postura antifilosófica a que me refiro é exatamente essa de focar-se em teses (por exemplo, as 24 elencadas por Pio X) e em defesas padrões delas, transformando a filosofia em uma apologética. Se não se está disposto a abrir mão da estrita ortodoxia, é muito improvável que se consiga fazer e ensinar filosofia (a esse respeito, as universidades medievais eram notoriamente o berço de muita heterodoxia). Sem liberdade intelectual, não dá para fazer filosofia. E se a meta do estudo e do ensino é defender um certo corpo doutrinário, então não há liberdade intelectual.

    Não digo nem que as pessoas que fazem filosofia têm que necessariamente se despir de qualquer intenção de defender certas teses ou ortodoxias anteriores à filosofia. S. Tomás não o fez. Aliás, duvido que algum filósofo de hoje em dia seja completamente neutro, completamente aberto a aderir seja aonde for que os argumentos os levem. Por exemplo: estariam dispostos a aceitar a licitude moral do racismo, do estupro? A negar o valor cognitivo da ciência? Provavelmente não, e isso não é problema. Mas o meio do caminho precisa ser livre, com total liberdade para se questionar e se propor coisas completamente fora do padrão. Para mim, há mais valor filosófico em alguém que, depois de muito ler, discutir e pensar sobre algo, diga “Acredito em X, embora reconheça que há forte argumentos contrários que não consigo responder” do que em alguém que simplesmente elabore algumas defesas de X para melhor se acomodar a um sistema de pensamento. E as filosofias profissionais, manualizadas, são isso: criam seu próprio mundinho conceitual confortável, onde tudo funciona, fechando os olhos para o universo que existe fora dele, e tentam vender esse peixe como filosofia pronta para os estudantes.

  3. Não é correto dizer que um dos maiores teólogos do século XX, Ratzinger, não é tomista? E mesmo outros igualmente relevantes como Lubac e Balthasar? \ou, antes disso, Newman?

  4. Sim, claro. E antes do Vaticano II, passaram por maus bocados! Acho que De Lubac chegou a ser silenciado por Pio XII, ou algo do tipo.

    Ainda assim, pelo que diz Kenny, o ensino de teologia era muito mais interessante e rico que o de filosofia. Havia provavelmente uma liberdade maior, talvez mais contato com autores diferentes (Santos Padres talvez, que pouco tinham a dizer sobre filosofia em sentido estrito).

  5. Joel,

    Veja que curioso esse trecho de uma carta de Newman, em 1846, enviada de Roma logo após sua conversão:

    “Passamos a falar do estudo do grego em ‘Propaganda’ e lhe perguntei se os jovens estudavam Aristóteles. ‘Oh não – disse-me -, Aristóteles não é bem visto aqui em Roma e nem tampouco Santo Tomás. Eu li Aristóteles e Santo Tomás e, certamente, devo-lhes muito, mas passaram da moda em toda Itália’ […] Perguntei-lhe que filosofia adotavam. Respondeu-me que nenhuma. ‘Pedaços escolhidos’, como os Stromata, de Clemente de Alexandria. Aqui não temos filosofia. Fatos: isto é o único que importa. Exegese, não teorias'”

  6. Marco, o Joel pode responder ao mérito, mas permita-me apenas esclarecer dois pontos equivocados: (i) apenas um dos membros do IFE, Martim Vasques, deixou o instituto e (ii) a revista nunca foi cristã, nem no início, e nem agora; e muito menos era, ou passou a ser, liderada por membros de nenhuma instituição. Se quiser, leia o ideário do IFE, que cito aqui: “1. Como norte, parece-nos essencial reafirmar o clássico ideal da unidade e universalidade do saber. Sabemos que este ideal só se pode realizar hoje em torno de uma Ontologia e de uma Antropologia filosófica que não sejam reducionistas e ideologizadas, mas harmonizem o saber clássico com as contribuições das diversas correntes de pensamento modernas, das ciências e das doutrinas das liberdades cívicas. Sabemos também que esse ideal, pela sua amplidão de horizontes, está além das forças de qualquer indivíduo, sendo necessária a cooperação de várias pessoas com mentalidades, formação, inclinações e opiniões diversas.” O ideário é incompatível com uma revista confessional ou oficial. Há muitos veículos para tal, mas a Dicta&Contradicta nunca foi um deles. Um abraço!

  7. Excelente o seu comentário, Marco. Um bom título para ele teria sido “A filosofia a serviço da destruição da fé”. Afinal, é significativo que o Pe. Vaz, saudado pelo Joel como uma das “mentes criativas e independentes” da era (neo)tomista, tenha por fim abraçado o hegelianismo, sendo até hoje uma referência importante da TL. É verdade que o Joel afirma no artigo não querer expressar adesão à filosofia dele nem à dos outros autores citados, mas se for para defender o livre pensamento e a separação entre fé e razão, que os defenda até as últimas consequências.

    Joseph Pieper escreveu um ensaio (“O caráter problemático de uma filosofia não-cristã) que apresenta um contraponto extraordinário ao artigo do Joel. Nele Pieper defende não só a legitimidade de uma filosofia cristã contra Heidegger, como ainda sustenta a inviabilidade de uma filosofia digna do nome que não o seja. “Uma pessoa que, pela fé, admita como verdadeira a mensagem cristã, deixaria de filosofar seriamente no exato instante em que ignorasse deliberadamente os dados provenientes do âmbito supraracional”, afirma Pieper.

  8. Joel, não me recordo precisamente, mas quando li o livro “Desenvolvimento e Cultura – O Problema do Esteticismo no Brasil”, de Mário Vieira de Mello, inclusive recomendado e comentado neste blog em diversas ocasiões, lembro-me de que, segundo ele, toda a história cultural do Brasil até o início do século XX se resumia à herança jesuítica (que traz na bagagem o tomismo), o romantismo-liberalismo, na linha de Rousseau, etc., e o materialismo-positivismo (Comte, Haeckel, Spencer, Constant, etc.), motivo pelo qual gente como Augusto dos Anjos sofria tanto de asma e melancolia. Esses bisavôs e avôs filósofos que você cita no primeiro parágrafo, provavelmente sofreram com essa falta de mais referências. Talvez seja a geração deles que ampliou o panorama. Quanto ao neotomismo particularmente, diz Olavo de Carvalho que teriam existido dois: um decadente e “manualístico” de Jacques Maritan e outro mais profundo e nuançado, de um tal Joseph de Maréchal e outros. Provavelmente os bisavôs e avôs só tenham tido acesso ao primeiro, daí a decepção.

  9. Marco, tenho alguns pontos a responder ao seu comentário:

    1- É perfeitamente válido que, no ensino de futuros sacerdotes, se dê alguma explicação geral, que necessariamente terá algum tipo de base filosófica, sobre o que é o universo, o homem, bem como algumas noções metafísicas para entender o mundo em que vivemos. Claro que essa base filosófica não precisa ser especificamente tomista; vide tantos bons clérigos humanistas e anti-escolásticos que se formaram da Renascença pra frente.

    O problema, parece-me, está mais num tipo de pretensão arrogante de se estar expressando uma verdade absoluta que se traduz no dogmatismo característicos desses manuais, diretamente proporcional à superficialidade e a leviandade com que tratam as questões. O livro de Maritain é, para mim, o exemplo máximo disso. A base filosófica, que deveria ser algo para ajudar o indivíduo a se situar no mundo e a pensar por conta própria, sendo capaz de dialogar – criticamente e com abertura – com outras visões que se lhe apresentarem, vira um esquema pronto e fechado a ser defendido com unhas e dentes. Como é, de fato, quase todo o “tomismo” (que, o próprio Lonergan o disse a Kenny, não necessariamente é o pensamento de S. Tomás – e isso na Gregoriana!), que não raro chega até a imitar o estilo literário da escolástica. Algo está errado aí!

    Nenhuma área do pensamento se dá bem nos manuais. Como estudante de economia, vi bem suas limitações; afirmações aparecem do nada, defendidas com argumentos muito frágeis. Mas se na economia isso já não é o ideal, na filosofia isso me parece inaceitável. Filosofia não é nada sem argumentação. Travesti-la num manual, tratá-la como uma ciência à qual chegamos a alguns “resultados” que podem ser aceitos na largada para que novos avanços sejam feitos é perdê-la de vista. Está aí uma ciência que está sempre voltando aos fundamentos.

    2 – “Além disso, a frase acima contradiz todos os exemplos que o próprio autor destaca. Todos eles, de acordo com o próprio autor, passaram pelo ensino dessa filosofia, e, ao contrário do que é afirmado na frase, não matou a filosofia nas suas almas.”

    Não há inconsistência nenhuma. Veja só: os dois autores que peguei de exemplo foram grandes justamente porque conseguiram se libertar do tomismo de manual. Não nego nem que esse tomismo também tivesse seus méritos e que tenha, afinal, tido um papel na formação deles, como uma etapa que legou algumas qualidades mas que teve que ser superada. Agora, só foi boa porque foi superada. Se não tivesse sido, teria sido nefasta; teria, na minha expressão, matado a filosofia na alma deles. Muitas coisas são assim. Você cita, no seu post, o fato de ter deixado o Opus Dei. Não quero entrar em uma discussão pública de sua vida pessoal, mas aposto que você leva consigo algumas coisas boas de sua passagem por ele e que são parte de quem você é hoje, embora imagino também que veja problemas sérios que, afinal, justificaram sua saída.

    3- “Seria uma fé bastante duvidável essa que se perde porque a maioria dos seus irmãos na fé não concordam com sua visão filosófica pessoal.”

    Eu não disse que eles perderam a fé exclusivamente por causa da pobreza filosófica do Catolicismo até meados do século XX. Disse que isso pode sim ter sido parte do processo. Ou por acaso as mesmas exatas leis que valem para explicar mudanças de crença e convicção em diversas áreas perdem, milagrosamente, todo e qualquer poder explicativo quando falamos da Fé? É assunto da graça totalmente alheio à natureza?

    4 – “Seria uma ingenuidade pensar que se a Igreja tivesse aderido oficialmente a essas tendências, então teria protegido o mundo intelectual da aversão à religião.”

    Essa frase expressa bem nossa divergência. Mas não é a divergência que você imagina. Eu não proponho que a Igreja adote algum outro programa filosófico, passe a elaborar manuais com base nele e assim formar uma nova geração de fieis e padres XXXistas. Desejo uma Igreja aberta a diversos tipos de pensamento, preocupada em dar a seus fieis e seus clérigos (bem, já a estou hipostatizando indevidamente: os fieis e os clérigos são a Igreja neste mundo) uma formação sólida na fé mas plenamente consciente de que não há respostas prontas para quase nada; que dogmatismos que visam defender a fé podem acabar sendo enormes tiros no pé (ex: Copérnico e Descartes no Index). Às vezes nem sabemos bem o que é e o que não é de Fé. Nosso entendimento muda, e é tolo querer parar esse processo; ao contrário, deve-se beneficiar dele e contribuir com ele. A Igreja, aliás, deveria protagonizá-lo no mundo. Bem, na verdade tenho a felicidade de ter nascido numa época em que a Igreja já tinha, há décadas, se antecipado ao meu desejo! E na verdade, é provavelmente o exemplo dela que me fez assim desejar.

    “Acompanhei o primeiro ano dessa revista e sei bem que nessa época adotava-se uma linha editorial que tinha como critério a complementariedade entre fé e razão.”

    A Dicta nunca foi uma revista especificamente cristã, embora muitos de seus membros e colaboradores o sejam, eu inclusive. Por isso mesmo, não vejo incompatibilidade entre fé e razão, embora não creia em nenhuma grande síntese específica entre as duas (não deixando, contudo, de ver valor enorme em S. Tomás, que é objeto do meu mestrado, e outros pensadores que tentaram algo similar). Se você notar, os dois autores que citei como filósofos também eram cristãos: Lima Vaz e Lonergan. Aliás, a ambição de Lonergan, pelo que eu saiba, era exatamente conseguir formular uma síntese dessas, e fazer algo similar a S. Tomás em nosso tempo. Se ele conseguiu ou não, não sei.

  10. Henrique, em nenhum momento propus que a pessoa abandonasse sua fé ou demais convicções “na hora de filosofar”.

    Tradicionalmente, à filosofia que é feita partindo de dados da fé, dá-se o nome de teologia, sem dúvida uma empreitada necessária para o pensamento cristão.

    Curiosamente, o (neo)tomismo mais militante gosta de se gabar de não depender da fé em diversos âmbitos, colocando-se assim como o suprassumo do uso da razão natural também.

  11. ha ha ha

    Pobres carneirinhos. Talvez vocês não soubessem, mas garanto que a motivação e apoio recebido para o IFE e para Dicta não tinha como objetivo “debater o mundo”. Talvez vcs quisessem isso, os que apoiaram queriam as suas almas – se isso é bom ou ruim, é outra discussão.

    Júlio, sério!? Ler o ideário do ife? Acho que vamos precisar acrescentar mais uma santa (além da santa coação, santa intransigência, qual era a outra?), a santa ingenuidade. Se bem que vc sabe (bem) que não foi assim. Ou vai querer acreditar que as “entidades mantenedoras” foram fundadas por pais e professores livres como passarinhos que, por um acaso, encomendaram o cuidado espirital a determinada instituição? Tenha paciência, santa paciência! E um pouco menos de – ah, lembrei – santa desvergonha!

  12. Júlio, obrigado pelo esclarecimento, tenho que admitir que posso ter me equivocado no que diz respeito à minha avaliação sobre o IFE e a Dicta. Nunca participei de nenhum dos dois, apenas os observei de longe. Desde aquela época, tinha formado uma idéia enviesada sobre o IFE e a Dicta. Deixemos para um historiador desinteressado, em um futuro mais remoto, o estudo da sua história de formação e sua evolução inicial.

    Joel, boa réplica, ajudou-me a te compreender bem e esclareceu todos os pontos. Destaco um ponto importante de seu texto:

    “(…) uma formação sólida na fé mas plenamente consciente de que não há respostas prontas para quase nada; que dogmatismos que visam defender a fé podem acabar sendo enormes tiros no pé”.

    Estou de acordo e agora compreendi melhor o que você quis dizer. Conheço bem a inflexibilidade intelectual produzida por uma incorporação dogmática de um sistema filosófico.

    De qualquer modo, mantenho minhas opiniões iniciais, mas admito a possibilidade de erro, parcial ou total, na minha avaliação sobre a Dicta.

    Vou recomendar no meu blog a leitura da sua réplica.

  13. Caio, você está mais por fora que bunda de índio (na época do descobrimento). Informe-se.

    PS: Mandei-lhe e-mail.

  14. Vinícius: é bem verdade, trata-se de um processo de formação de pensamento, e é muito injusto julgar uma etapa anterior com todas as facilidades posteriores que dela dependeram e a superaram.

    Agora, acho que não faço bem isso na minha crítica: acho que aponto problemas na formação filosófica ligada à Igreja que seriam plenamente corrigíveis caso quem ditasse as cartilhas não fosse a linha mais dura e reacionária. A filosofia foi transformada num treinamento acrítico para a defesa de um sistema.

    Sim, há tomistas e tomistas. Eu mesmo, em questões de filosofia moral, gosto muito da abordagem de Germain Grisez e John Finnis, que são tomistas à sua maneira.

  15. Criticar “os manuais” é muito fácil e tem sido feito por onde vi, com uma imbecilidade tremenda. Eles são indicados principalmente aos graduandos ou àqueles que precisam de certa base e fundamento para seguir nos estudos. Ademais, olhar o manual como a totalidade do ensino é ridículo. Obviamente que o professor, segundo suas capacidades, é quem expõe as teses, as complementa, dialoga, responde dúvidas.
    De todos os testemunhos contra “os manuais” nunca vi um ponderado. Um que tratassem de tal ou qual manual ou que fosse uma crítica que levasse em conta o tempo de curso, a tarefa de um curso de graduação, as qualidades do professor, a tarefa do professor, A TAREFA DO ALUNO, as qualidades do aluno, sua maturidade e capacidade de pensar e julgar bem as coisas que são ensinadas, qualquer que sejam elas, a tradição de ensino ou educação.
    O engraçado é que os adeptos dessa crítica idiota são em geral aqueles que saem da graduação, do mestrado e do doutorado com a cabeça cheia de erudição vazia, quando muito. Muitas vezes péssimos filósofos, na esteira de Descartes, Kant. E além disso, além de padecerem muitas vezes dos defeitos que criticam – quantos não vem com suas apostilinhas e livrinhos cheios de defeitos? -, sem contudo se darem conta, padecem de defeitos muito piores, como o serem arrebatados pelo que dizem certos filósofos, sobretudo com ajuda da imaginação que submete o pensar, crendo-se em muito elevado pensamento, quando na verdade nem as coisas pensam, mas apenas suas fantasias. Dentre estes insensatos é curioso o tipo que louva a suma teológica de santo Tomás. Criticam “os manuais” sem se dar conta que a Suma teológica é um grande manual, de teologia, é verdade. Vai entender!
    Agora, se alguém acha que em um biênio, o que prevalecia, ou em um triênio da graduação, dá para ficar em leituras intermináveis de filósofos medíocres, e para mim o são, como Kant e Descartes, e sair com alguma coisa que preste… que se farte nas faculdades hodiernas e poderão se gloriar de saber muito sobre nada.
    Por fim, recomendo aos leitores a leitura de Antonio Livi, Il principio di coerenza. Livro que não recomendo aos sumos amantes de si e de Kant, Descartes, etc, que certamente criticam a brevidade dos manuais direcionados aos jovens estudantes por sua brevidade ao tratar de tais autores já que lhes ferirá o coração não encontrar volumes e mais volumes explicando as doutrinas deles para só depois atacá-las, na verdade teriam, para satisfazê-los, que concordar com eles, aliás, sobre esses autores, tais amantes inveterados, até estarem curados de sua loucura, não deveriam ler nada contra eles.
    Nada contra o autor do texto acima, ter escrito bobagens, e eles escreveu muitas, todos estão sujeitos a isso, mas corrigir-se, poucos o fazem.

  16. Julio Lemos,
    Neste ponto não sou produto do Brasil, se o fosse eu teria a opinião contrária sobre Descartes e Kant, como a sua. Talvez produto do Brasil seja você. Ou será que você vê frequentemente no Brasil opinião semelhante à minha? Embora o Brasil produza um número infinito desses seus “luminares”, temo não dever muito dessa minha “luz” a este país.
    Mas é bom falar em produto do Brasil.
    A maioria dos estudiosos da filosofia no Brasil me lembra um peixe, o Suckerfish. O Suckerfish é um peixe que tudo que se lhe aparece pela frente ele come. Falta-lhe o critério e sua boca só fica aberta, receptiva a tudo justamente pela sua disposição corporal e falta de critério. A mim contentaria e seria excelente remédio se tais estudiosos se dedicassem um pouco à reflexão e sobretudo olhassem para si mesmos, para o que estão dizendo, pensando, fazendo e o que supõem e buscassem a razão dessas coisas. Esses estudiosos me lembram também as sereias, encantados com o canto dos filósofos sem lhes descobrir a verdadeira razão e natureza. O encantado não é senhor de si e é levado onde o encantador quer. Para mim uma atitude fundamental do filósofo é o senhorio de si e para isso há que se examinar, e também criticar as próprias ideias e atos, principalmente os intelectuais, e as alheias. Infelizmente tem sido difícil ver o brasileiro fazendo isso.

  17. O Leonardo que escreveu acima não sou eu, mas, bem que queria ser. Esse artigo que, se propõe a ser uma crítica à filosofia manualesca, supostamente presente na base dos cursos de filosofia ou de formação filosófica da Igreja Católica, peca por vários motivos. Atira para todos os lados, desejando apresentar um quadro histórico e crítico (que não condiz em nada com a realidade) que explicaria o “esgotamento” intelectual das filosofias que sustentam a doutrina católica, e termina por fazer apologia de uma filosofia “que obrigue os outros a dialogar”, alegando que filosofia que “parte dos dados da fé é teologia”. Enfim, erros, aproximações, generalizações totalmente sem sentido para afirmar que a formação de alguns gatos pingados, como Raul Landim, quase se desvirtuou devido aos deletérios tomistas manualísticos, que não falavam de Kant, Hegel ou algo que o valha. Well, a coisa é tão, como diria, estapafúrdia que falta realmente um pano de fundo onde encaixar tamanho sambalelê. Para começar, ao contrário do que o senhor Joel Pinheiro apregoa, ou seja, de que não houve “progresso” intelectual por parte dos setores católicos-dogmáticos, que que se pode dizer então de pessoas como Maurice Blondel e sua filosofia da ação? Se os setores intelectuais do catolicismo são, assim, tão avessos ao “diálogo”, que é a palavrinha mágica da contemporaneidade, como diabos puderam produzir um Dietrich Von Hildebrand? E uma Edith Stein? E uma Ascombe? Um Lonergan? Veja: NENHUM dos citados é levemente tomista. No entanto, são católicos, para desespero do Sr, Joel Pinheiro. E antes que ele diga que isto é mera opinião minha, digo que não é: É opinião de A. Mcyntire, que em livro recentemente publicado e resenhado pela Dicta (God, philosophy, universities: A Selective History of the Catholic Philosophical Tradition ) cita mais uma batelada de filósofos católicos, NÃO tomistas. O próprio Mcyntire, incluso. Curiosa essa “falta de diálogo” não é mesmo?

    Mas, a coisa não termina aí. O “autor” (porque todo cara que faz mestrado em filosofia, evidentemente, é “autor”) apresenta como FATO um dado inquietantemente não comprovado: de que a base do ensino acadêmico da filosofia brasileira foi tomista. Para isso, toma como referência os depoimentos de Gerd Bornheim, O. Porchat, Raul Landim e Pe Vaz. Cotejando o livro em questão, em referência a O. Porchat, temos o seguinte:

    “Eu adorava língua latina [no secundário], tinha tido bons professores, e queria fazer isso para o resto da vida. Então, entrei na FACULDADE DE LETRAS e fiz o curso de Letras clássicas, onde aprendi também o grego(…)como eu podia fazer matérias optativas FORA DO CURSO, fiz um curso que o Professor Livio teixeira, do departamento de filosofia, ofereceu sobre Platão (…) eu já gostava de filosofia desde há muito, mas os meus conhecimentos eram mais de filosofia tomista e neotomista: São Tomás de Aquino e Maritain. O Professor Livio teixeira me incentivou para que eu me dedicasse á filosofia grega, e fiquei realmente desejoso de trabalhar em filosofia, mas eu já tinha ganhado uma bolsa de pós-graduação para a França, onde eu ia estudar filosofia grega. E, com isso, tinha resolvido deixar a filosofia para mais tarde.” Para quem l~e o resto do depoimento, descobre que Porchat fez filosofia na França, em Rennes,e não no Brasil. Tb fica bem claro que o professor tinha base tomista sim, mas do ensino secundário, ou talvez de leituras avulsas, e não da faculdade. Nem creio que seja necessário comentar os demais citados, fazendo especial menção ao Prof. Gerd Bornheim, que cursou a UFGRS, que, como todo mundo sabe teve sua faculdade de filosofia formada em 1942 com a ajuda de …padres jesuítas. Como natural da matriz, evidentemente o curso, naquela época, primava pelo ensino dos clássicos e da filosofia tomista, afinal, era o nucleo de pensamento dos seus recém-contratados professores. Enfim, Joel Pinheiro, num exercício de manipulação simplesmente FALSIFICOU as origens de pelo menos DOIS dos citados, para afirmar que o “tomismo” era a filosofia predominante no Brasil. Nunca é demais lembrar que a primeira faculdade OFICIAL de filosofia do Brasil foi a da USP, em 1934. Seus professores, ao invés dos temidos tomistas, eram todos egressos da frança, chegando-se ao cumulo do curso, em determinada época, ser dado em FRANCÊS.

    Uma coisa é analisar, escrutinizar, comparar e criticar dados da realidade. outra é inventá-los com o propósito evidente de falsificação para se concluir, então, com algo que jamais existiu: que o Brasil teve sua formação filosófica UNIVERSITÁRIA moderna (que começa em 1934) impregnada pelo espírito tomista

  18. Leonardo (Lopes), na verdade é bastante comum. A minha formação é também aristotélica e em parte manualística; eu tinha grande apreço pela obra Elementa philosophiae aristot.-thom. do Gredt. Durante séculos, foi o que formou a intelectualidade brasileira. E agora existe uma moda de pensar que é possível fazer filosofia à margem de tudo, especialmente da academia. Em grande parte é uma boa tendência, mas nunca quando exige afirmar, por exemplo, que a filosofia moderna é medíocre, ou que só isolando-se e furtando-se à revisão por partes é possível pensar (é bem o contrário disso). Essas sentenças que condenam Descartes e Kant como “péssima filosofia” são iguais, em intensidade e erro, às que condenam Aristóteles e Tomás de Aquino como irrelevantes. Fazer precisamente o contrário — e só o contrário, trocando o sinal — do que faz a moda francesa (na linha do pós-modernismo) é incidir no mesmo erro.

    Filosofia feita em casa, “olhando para si mesmo”, já tem nome: yoga. Senhorio de si é pressuposto para qualquer coisa, e em filosofia esse tipo de discurso é pura retórica.

  19. Leonardo Mesquita: onde eu disse que tomismo era a única coisa que existia no Brasil? Menciono explicitamente a existência de pelo menos uma outra corrente: o positivismo. Acalme seu ímpeto inquisitorial, e atenha-se ao que foi escrito.

    No mais, suas acusações demonstram a baixa qualidade da leitura que você fez: onde eu disse que Porchat teria lido o tomismo de manual na graduação? Aliás, onde eu disse que tal variante do tomismo existia apenas na universidade? Também não disse que inexistiam pensadores não-tomistas na Igreja; aliás, quem citou o Lonergan fui eu; idem para a Anscombe. Como é que você pretende me “desmascarar” mostrando a existência de um autor que eu mesmo citei??

    Minha suspeita é que algo neste meu texto irritou profundamente alguns leitores; talvez uma percepção errônea de que ele é um ataque à Fé. Ou talvez o espírito de time de futebol que tanta gente incorpora à filosofia; se falei algo mau do “tomismo” (ainda que de um tipo bem específico de tomismo), então só posso ser um malvado. Será que foi isso?

    Ao outro Leonardo: dizer que Descartes e Kant são medíocres é facilitar muito a vida do adversário na discussão! Parece até que você gosta de se auto-desqualificar.

  20. Meu caro Joel: seu texto é bem claro ao afirmar que a formação universitária filosófica brasileira possuía grande influência de um suposto “tomismo manualístico”. Eu nunca disse que era a “única coisa que existia no Brasil”, como você maldosamente inventa. O senhor ainda tentou demonstrar como tal influência serviu, ao mesmo tempo, como experiência negativa nos 4 autores citados e como foi danosa à intelectualidade católica. Para completar, completou com a frase lapidar que tal tomismo doutrinal afetou “o ensino filosófico por eles praticado matava a filosofia nas almas dos melhores”. Conforme eu demonstrei, tirando do MESMO LIVRO citado pelo senhor, esta acusação de que havia um “tomismo” doutrinal, engessante ou seja lá o que for, carece de realidade. Porchat estudou filosofia na França. Landim e Pe Vaz estudaram na antiga faculdade dos jesuítas de nova friburgo (portanto, faculdade eclesiástica, e fora dos padrões universitários normais). Por fim, Gerd Bornheim, esqueci de mencionar, formou-se na PUC/RS (novamente, outra faculdade eclesiástica) e, até onde eu sei, nunca reclamou no sentido negativo que vc atribui, de sua formação clássica. Pelo contrário, enfatizava com bastante veemência em suas aulas e cursos, a constante falta de leitura dos clássicos e a incompreensão não só do tomismo, mas da filosofia medieval como um todo, mesmo que discordasse desta direção filosófica. Sei disso porque EU MESMO perguntei diretamente a ele,por ocasião de um curso de estética que fiz na EMERJ – Escola de Magistratura do Rio de janeiro- em 1998. De todos os citados, o único que viu efetivamente algo de negativo na formação tomista foi o Landim, em que pese o paradoxo dele ter estudado numa faculdade eclesiástica. Me acusar de inquisitorial, guardião da fé ou algo que o valha não muda a trapaça e o espírito de revanche com que o senhor escreveu este “artigo”, muito menos esclarece como, onde e de que forma este temido tomismo manualesco imperou na formação moderna da intelectualidade brasileira. O problema REAL é que não existe na academia atual (e na moderna universidade brasileira, exceto por um período de efervescência entre os anos 30/50) nenhum tipo de matriz tomista, seja de manual, seja legítima. Diversas universidades federais sequer tem professores de filosofia medieval, havendo aquelas que até mesmo PROÍBEM que são tomás ou algum escolástico seja estudado em sede de pós-graduação. O que o senhor e o tal julio lemos estão fazendo é autêntica pilantragem, e nada tem a ver com defesa da fé, tradicionalismo religioso ou algo que o valha. É pura e simples latronagem de dois analfabetos filosóficos.

  21. Leonardo Mesquita, mantenha esse nível e você continuará a refutar a si mesmo. Por favor. E evite esse “senhor fulano”, que isso é cacoete retórico.

    Caso não saiba, os melhores professores de filosofia medieval da América Latina estão na USP.

  22. Julio Lemos e Joel,

    Recomendo aos senhores, apesar de duvidar muito que os senhores irão ler, a pequena obra “Crítica de la Crítica de la Razón Pura” (o original é francês) de Roger Verneaux e a obra de Il principio di Coerenza de Antonio Livi. ()

    Julio, eu jamais disse que Kant é um autor irrelevante, não passe de uma coisa à outra tão facilmente, eu disse apenas que é um péssimo filósofo. De modo que não se assemelha ao que você disse em relação a Tomás de Aquino e Aristóteles serem irrelevantes.
    Que alguém considere Tomás de Aquino e Aristóteles péssimos filósofos para mim não há problema. Pelo contrário, é alguém que talvez seja interessante de se ouvir. Devo confessar, gosto de ouvir a todos, mesmo aqueles que de mim discordam e aos que dizem certos “absurdos”, alguns os chamam de tolos, aliás, tenho um carinho especial por estes e confesso que eles tem me ajudado muito em relação ao pensar filosófico. Descartes e Kant são para mim de um interesse vivo e sincero. Os considero importantíssimos para estudar e progredir na compreensão da realidade, apesar de serem péssimos filósofos, sobretudo Kant. Preocupa-me que alguém se sinta tocado dessa forma pela minha opinião sobre estes autores, como se fosse algo absolutamente digno de descrédito, uma bobagem. Mas está certo, eu, católico conservador, tomista, é que sou fechado.
    Não sei se com suas afirmações a respeito de “academia” “casa” o senhor está pensando que eu estou sugerindo que seja bom passar longe da academia ou que eu não estou ligado a ela. Eu estudo em uma faculdade que é considerada uma das melhores do país em Filosofia. Entretanto, não a vejo dessa forma. E pouco me importa que a considerem assim. Aprendi algumas boas coisas com meus professores. A academia por si não vai contra o estudo pessoal, mas não acredito que longe da academia, com uma certa ajuda e orientação, alguém não possa alcançar a excelência na filosofia.
    Quanto ao resto do que você disse, não me interesso em discutir essas baboseiras.

    Joel, “dizer que Descartes e Kant são medíocres é facilitar muito a vida do adversário na discussão! Parece até que você gosta de se auto-desqualificar” São esses os argumentos que o senhor evoca?! Tá bacana, hein?!

    Um abraço para vocês dois e aos demais leitores. Boa sorte na caminhada intelectual.

  23. O nível está adequado ao embuste que foi promovido por esta afirmação sem pai, nem mãe sobre o tomismo e sua influência acadêmica. E esta outra, sobre os melhores professores de medieval da AMÉRICA LATINA estarem na USP, beira o patético tamanha absurdidade. Quem são estes eminentes medievalistas e qual a influência de suas prestigiosas obras no quadro da comunidade filosófica mundial, é o que eu perguntaria ao senhor, se fosse o caso de manter uma conversa honesta e equilibrada. Como não é, deixo o senhor (não entendi porque a implicância com o pronome, és mulher?) com suas afirmações pomposas e sem faticidade.

  24. Leonardo Lopes, eu li o Verneaux, mas não esse do Livi completo (li um trecho de Il principio e alguns artigos, que inclusive já recomendei há tempos. Conheci também um discípulo do Antonio Livi em Roma).

    Leonardo Mesquita, deixa dessa conversa de embustes e absurdos e indignação. Não vi nada de absurdo no que foi dito (fora você pensar que eu afirmei que o Gredt formou gerações — isso não está no texto, embora eu conceda que a afirmação está muito próxima da outra frase, podendo levar a confusão); o estrago da manualística é muito grande. No mais, esqueçamos tudo e conversemos civilizadamente.

    Obs.: a produção de José Carlos Estêvão e de Moacyr Novaes e. g., em nível nacional, é invejável; na América Latina, está acima do que se faz, embora internacionalmente eu desconheça o impacto disso. Provavelmente é pequeno, e nisso concordo contigo. Até porque não vejo nenhum sentido nessa prática de publicar em português quando ninguém lê nesse idioma fora daqui e de Portugal. (Essa é a minha crítica.) Mas é o que temos, e é melhor do que o que se faz fora da academia. Existe um trabalho nascente na São Bento de São Paulo em pós-graduação; agora em maio haverá o segundo Simpósito de Patrística e Filosofia Medieval, como você deve saber. Espero que ele vá para frente. Enquanto não começarem a publicar em inglês, entretanto, não sei o que esperar.

  25. Leonardo, gostei do livro de Verneaux. Li uma edição da Rialp traduzida. Compreendi melhor Kant com a ajuda dele (para Verneaux Kant está longe de ser um péssimo filósofo, como você deve saber); mas no fim das contas nunca me simpatizei com o esquema geral kantiano. O estilo sereno de Verneaux é ainda mais surpreendente se o comparamos com o grosso da filosofia continental do século XX.

  26. Julio,
    Verneaux de fato reconhece alguns méritos em Kant, principalmente seu trabalho contra Wolf. Apesar de destruir a obra maior de Kant, a parte mais interessante, a construtiva, Verneaux lhe é muito benevolente, sobretudo na introdução. Talvez por conta da suas condições limitadas. Também destaca o fato dele ser grande porque marcou a filosofia. Mas no decorrer do livro faz uma grande destruição. Acusando petições de princípio, aberrações, falhas graves… a princípio parece-me que mesmo para Verneaux, a marca de Kant na filosofia não é pelo conhecimento que ele traz, e no que se refere ao conhecimento trazido por Kant eu o tenho por péssimo filósofo, ao menos em geral. Embora eu reconheça sua importância. Importância histórica e filosófica (embora esta seja bem limitada) que em certo sentido o faz grande.

  27. Um parêntese: Eu sinceramente não entendo essa vontade louca de auto-vitimização que as olavetes tomistas propagam aos quatro cantos. Quem disse que hoje em dia não se estuda ou se ostraciza quem queira estudar Tomás ou Aristóteles na universidade brasileira? Será que nunca ouviram falar do GT de História da Filosofia Medieval e a Recepção da Filosofia Antiga? Há pencas de pesquisadores sérios e de primeira linha lá, a começar por Rodrigo Guerizoli (UFRJ), Alfredo Storck (UFRGS), Carlos Eduardo de Oliveira (UFSCAR), Marco Aurélio Oliveira da Silva (UFBA), e seguindo pela trinca da USP, parte dela já mencionada por Julio.

    Quanto a Platão e Aristóteles, são filósofos cada vez mais estudados. E, na USP, os professores sérios de antiga, como Zingano e Bolzani, passam longe de Heidegger. É verdade que Chaui propaga a leitura heideggeriana dos antigos, mas isso é porque sua mente sobrevive e respira na década de 60, em que muitos francófonos faziam macarronada heideggeriana para falar do mundo antigo (vide sobretudo Aubenque, ou mesmo, vá lá, Derrida).

  28. Eu verdadeiramente temo pela saúde desse Sr. Adriano, que vê olavetes por toda parte, até embaixo da cama.

    Se tem algo de que o Sr. Leonardo Mesquita não pode ser acusado é de olavete. Eu mesmo já o vi trocando farpas com o Olavo na internet.

    Parece que o maior defeito do Sr. Leonardo aqui não foi o olavetismo, mas o mínimo de honestidade em reconhecer o valor que há até mesmo em seus desafetos. Eu entendo a reação do Sr. Adriano, afinal eis aí um traço alienígena para quem está acostumado a viver no ambiente acadêmico.

  29. Bem, eu já fui vetado aqui uma vez,e depois que o sr. Joel fez biquinho de superioridade e resolveu simplesmente ignorar minha contestação, não tenho esperanças em nenhum tipo de debate honesto. Dizer que o tomismo ou a filosofia medieval são o “feijao com arroz” da universidade brasileira não é nem brincadeira, mas grave demonstração da deformidade mental patológico a qual estes rapazinhos de universidade ficam submetidos quando fazem uma pós. Dúvidas? Pergunte para Carlos Frederico Calvet, Ricardo da Costa, Paulo Faitanim, e qualquer outro minimamente interessado na idade média ou filosofia medieval como as universidades, e órgãos como a ANPOF, tem interesse nestes temas. Viver em auto-engano (ou fingimento) é mole. Daí a provar para todo mundo que o céu não é azul, vai uma larga distância.

    Quanto ao Olavo, realmente, trocamos farpas justamente porque, entre outras coisas, eu chamei seus seguidores de olavetes, muito embora eu já tenha sido seu aluno em tempos remotos, jamais fui como os atuais, que só leem ao Olavo e babam de ódio quando algo que ele diz é refutado ou contestado. Resta saber quem são estes desafetos citados aí.

  30. Leonardo, os vetos aqui ocorrem porque a política do site não permite ofensas pessoais. Graças a essa política, o site nunca fez concessões ao baixo nível, e os que se incluem na escola da ofensa — todos sabem quem são e a quem procuram imitar — felizmente deixaram de frequentá-lo ativamente. Contenhamos os ímpetos e talvez consigamos estabelecer um debate, ok? Abraços.

  31. Por Cristo, como esse tipo de pseudo-discussão virtual sem proveito é chato. Leonardo, entenda apenas uma coisa: Joel, até onde entendo, em momento algum afirmou que o tomismo (seja o de manual, seja qualquer outro) predomina no ensino universitário brasileiro (ou predominou). O que é preciso ver é que houve alguma influência colegial sobre muitos católicos estudantes de filosofia (pensemos na turma da JUC e quejandos). Você criou todo um reboliço por nada, leu algo que não estava escrito e ponto.

    Quanto ao que Renan disse, creio que o próprio Leonardo contradisse em boa parte, afinal Leonardo foi mesmo aluno de Olavo e, no texto que refutava o que Joel nunca dissera, menciona Olavo e Silvio como exemplos virtuosos. Daí eu chamá-lo de olavete tomista.

    E pronto.

  32. Sim, Uma discussão sem proveito, sobretudo, pelo caráter de seus contenedores. Joel Pinheiro e Julio lemos, os filósofos formigosos. A tese do “tomismo manualistico” é uma farsa. Já o comprovei. Não tenho Olavo ou “Silvio” (Grimaldo?) como “exemplos virtuosos” de nada. Apenas confirmei que já fui aluno e sou leitor do Olavo, o que, aliás, é ponto comum com quase todos os que aqui querem parecer os picas cósmicas de assuntos filosóficos, contudo, sem saber a própria história da história da filosofia no brasil, e seus desenvolvimentos.

    Quanto ao senhor Adriano, este, coitado, está mais perdido que cego em tiroteio. Ou se é olavete, ou tomista. Ambos é impossível. É um círculo quadrado.

  33. Os melhores medievalistas brasileiros são:

    – De Boni (PUC/RS) [aposentado ou em vias de]

    – Carlos Arthur (PUC/SP) [em vias de]

    – Benjamin de Souza Netto (Unicamp e São Bento de SP) [aposentado]

    Os dois primeiros (excluo dessa o terceiro, pois o mesmo não pôde se dedicar integralmente à atividade acadêmica, desde suas responsabilidades como monge beneditino) geraram todos os demais medievalistas que lhes seguiram – não tenho certeza quanto ao Storck -, cujos principais seguem abaixo:

    – Alfredo Storck, da UFRGS, como dito;

    – José Carlos Estêvão, da USP, já mencionado;

    – Carlos Eduardo de Oliveira, da UFSCAR, já mencionado;

    – Roberto Hofmeister Pich, da PUC/RS;

    – Alfredo Culleton, da Unisinos;

    – César Ribas Cezar, da Unifesp;

    – Juvenal Savian Filho, da Unifesp;

    – Jamil Iskandar, da Unifesp;

    – Carlos Alberto Albertuni, da UEL;

    – Padre Pelayo Palacios, do CEA;

    – Joel Gracioso, da São Bento de SP;

    – Uma mulher cujo nome eu me esqueci, também lá da Unifesp (é uma pena a Unifesp Humanas ter sido ejaculada pelo PT lá no fundo de Guarulhos);

    Eu, particularmente, aposto muito em dois caras que estão aí, entrando em cena: o Jonas Madureira (Seminário Batista de SP), e o Pedro Monticelli (São Bento de SP). Também é preciso ficar de olho nos caras que estão saindo dos Doutorados em Medieval da PUC/RS e da Unisinos, que têm publicado (em inglês!), e participado de congressos internacionais com uma frequência de fazer inveja aos nossos queridos uspianos. O Pich e o Culleton (responsáveis respectivamente pelos estudos medievais da PUC/RS e da Unisinos) são estudiosos muito prestigiados na Société Internationale Pour l’Étude de la Philosophie Médievale e no circuito internacional entre as universidades alemãs e americanas.

  34. “Filósofos formigosos”, caro Julio, deve ser uma referência tardia àquele seu clássico artigo opondo as “formigas trabalhadoras” às “cigarras mágicas”.

  35. Entendi, Funes. É que “formigosos” ficou meio bizarro.

    No mérito, o problema brasileiro de adorar as cigarras mágicas nunca foi tão cristalino. A preguiça é um pecado nacional. Só empresários, profissionais liberais e operários (sentido amplo) trabalham nesse país.

  36. Alguns meses atrás descobri uma pequena universidade na Califórnia, do estilo de artes liberais, muito interessante, o Thomas Aquinas College. http://www.thomasaquinas.edu/
    Há diversos cursos de artes liberais nos Estados Unidos, mas esse me chamou a atenção pela rara mistura de real comprometimento com a Verdade com a confrontação entre diversas doutrinas que moldaram o pensamento atual (inclusive Kant, Marx, Freud). Algo que realmente gostei no curso foi a recusa em utilizar manuais, apenas as obras clássicas originais são lidas http://www.thomasaquinas.edu/a-liberating-education/syllabus (como é frequentada pelos filhos da elite intelectual católica, muitos dos alunos já entram sabendo latim e/ou grego, o que facilita muito), mesmo assim é possível estudar esses idiomas clássicos durante o curso e ler traduções para o inglês (lembro de meu professor de Direito Romano repetindo o brocado italiano “traduttore traditore”, sábias palavras…). Talvez justamente por esses componentes há fenômeno oposto ao descrito nesta página. Quem sabe na próxima geração não possamos produzir no Brasil alguns colégios como o The Lyceum (http://thelyceum.org/curriculum.html), no qual o moleque de 17 anos termina o colegial tendo aprendido latim e grego e lido nos originais Homero e a parte grega da bíblia. Se nos focarmos hoje em aprender o que é importante e trabalharmos com seriedade, creio que não há motivo para ambições medíocres.

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