O engajamento babaca de Martha Nussbaum

Martha Nussbaum, que ultimamente criou frisson na alta sociedade paulistana com uma palestra à distância feita na Casa do Saber, escreveu um perfil sobre sua maior influência, o filósofo inglês Bernard Williams, aquele que disseminou em nossas mentes a noção de moral luck. Se isso acontecesse no Brasil, todo mundo aplaudiria e diria que era um texto “emblemático”. Mas como, graças a Deus, o mundo anglo-saxão ainda permite um pouco de discordância – em especial, discordância nas coisas que realmente importam –, temos textos corajosos como o de David Rieff, o inusitado resultado da união entre a medíocre Susan Sontag e o grande Philip Rieff (aliás, um autor que deveria ser mais estudado, de uma estatura igual a de um Voegelin ou de um Lonergan). Em seu ensaio a respeito da eulogia de Nussbaum sobre Bernard Williams, ele mostra a que veio quando se questiona se o bom mocismo da madame se deve não a um problema de auto-satisfação moral (também conhecido como egoísmo) e sim a um problema de (má) consciência.

Nussbaum é considerada uma pioneira em unir as pontas díspares da filosofia grega com o engajamento político – chegando ao paroxismo de criar uma nova espécie de “politicamente correto”, talvez mais sofisticado, mas igualmente pernicioso. Rieff ataca o coração do problema ao afirmar que ela deveria seguir o exemplo de seu mestre – i.e. ter um julgamento cético sobre as coisas deste mundo, a atitude elementar de qualquer filósofo que se preze, e não um desejo desesperado de querer mudá-lo a qualquer custo – e não tomá-lo como desculpa para o seu próprio engagement.

A pergunta que me faço é a seguinte – obviamente, sempre com olhos voltados para a nossa pátria varonil: Será que alguém teria a coragem de fazer o mesmo com, por exemplo, Marilena Chauí, a nossa Martha Nussbaum da Rive Gauche?

9 comentários em “O engajamento babaca de Martha Nussbaum

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  2. só por curiosidade: pq ‘medíocre’ susan sontag? entendo que não concorde com ela politicamente, entendo também que não se goste dos ensaios dela.
    mas pra alguém com uma cultura do tamanho da dela, um estilo próprio, um olho agudo pra tendências culturais amplas de vários tipos, ‘medíocre’ parece engraçado. acho que faz até mais sentido achá-la uma imbecil.

  3. Desculpe ser chato, Martim, mas há um pequeno erro de digitacao no “engajement” ao final do penúltimo parágrafo.

  4. Depois da “desatencao” desmascarada pelo saudoso José Guilherme Merquior, a excelentíssima professora que “sempre tem razao” (Roberto Romano) ainda merece ser combatida?

    Tenho lá minhas dúvidas…

    Além do mais, o que esse pensamento engajado faz, “is not conscience, but self-satisfaction”.

  5. Caro Bernardo:

    Vc já leu algo do Philip Rieff, que foi esposo da Sontag? Se não leu, faça-o assim que puder e percebera porque Sontag é medíocre. Ah, sim, ter uma ampla cultura não significa prova de ser brilhante ou inteligente – significa apenas que vc leu livros demais. Abraços, M.

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  7. Seria interessante especificar onde exatamente começa o engajamento babaca: talvez na desproporção entre erudição e estilo (wit) que leva Nussbaum a convocar os gigantes – de Sófocles a Proust – a responder a questões morais estereotipadas, pedagógicas. Ela coloca na boca e nos textos dos mestres da ironia “issues” e “concerns” que talvez preocupam a governante de “The Turn of the Screw” ou as amas dos heróis de Sófocles, mas que em muitas análises (penso em particular na análise de Antígona ou de Em Busca do Tempo Perdido) dissolvem boa parte do frêmito das obras comentadas

  8. Mas que textinho babaca. Não tem praticamente nenhum objetivo além de fornecer uma desculpa para o autor poder xingar autores que contradizem o que ele pensa.

  9. O colega poderia ao menos indicar o que exatamente ele considera “babaca”. Desqualificar uma professora que tanto se esforça para acrescentar algo mais no debate social, merece ao menos explicações para que avaliemos as razoes.

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