Herança e mérito

A composição da elite americana tem mudado. O poder não está mais nas mãos de umas poucas famílias (majoritariamente protestantes e brancas) cujos filhos podiam ter a certeza de herdar o poder dos pais – entrada garantida nas melhores universidades, altos cargos da política, direção das grandes empresas, financeiras e bancos. Ele é cada vez mais acessível a quem provar o  mérito próprio; isto é, a quem tiver o melhor desempenho na escola e, em seguida, nas melhores faculdades.

Mas será que a nova elite, meritocrática, é melhor do que a antiga, hereditária? David Brooks, do New York Times, tem suas dúvidas.

Afinal, no que consiste esse “mérito” que tem permitido a ascenção social? No domínio de técnicas e conhecimentos específicos da área em que se quer trabalhar; o político de hoje em dia é o político profissional, que domina a técnica da política; e o mesmo vale para o jornalista (um caso curioso, aliás, pois a elite jornalística não era composta de gente rica – ainda assim, era um clube de difícil acesso a quem vinha de fora), para o dono ou administrador de empresas, etc.  A velha elite ao menos provia à sua descendência uma educação abrangente, capaz de lidar com grandes idéias e conceitos. A perspectiva de deixar um legado aos filhos também produzia, segundo o articulista, um incentivo em se pensar no longo prazo, ao contrário dos tecnólogos atuais, para quem – da política ao mundo financeiro – só o presente importa.

Afinal, o que era melhor (ou pior)? O privilégio hereditário, fechado e excludente, mas promotor de uma formação mais global e humana; ou a meritocracia democrática, transparente e aberta a todos, mas produtora de fileiras de mentes formatadas às suas especializações?

5 comentários em “Herança e mérito

  1. “O privilégio hereditário, fechado e excludente, mas promotor de uma formação mais global e humana; ou a meritocracia democrática, transparente e aberta a todos, mas produtora de fileiras de mentes formatadas às suas especializações?”

    Joel, seria muito utópico aspirar por um “tertius” nessa questão? Isto é, uma geração com uma formação abrangente e humanista (no bom sentido) e que ascendesse aos cargos ou funções de destaque aqueles que mostrassem melhor performance na aquisição dessa esucação?

  2. besteira.. saudosismo barato… conservadorismo chinfrim…

    ainda coloca os “emergentes” no mesmo saco, ignorando indiviualidades…

  3. Até aí, ele também coloca os “tradicionais” no mesmo saco, sem levar em conta a individualidade deles. Empate técnico nesse quesito.

    E veja que o autor não diz preferir um ao outro, só aponta que a transição não tem sido inteiramente benéfica; tem seu lado negativo também.

    O condicionamento democrático, que nos leva a condenar de saída tudo o que é hereditário, exclusivo e desigual, sente-se ofendido com uma análise dessas (assim como um já praticamente inexistente condicionamento elitista vê com horror a vulgaridade e a massificação produzidas pelo livre acesso e pela “igualdade de oportunidades”), mas ela não deixa de levantar bons pontos. Vivemos num mundo crescentemente tecnocrático, no qual os melhores profissionais, os primeiro lugares nas faculdades, assumem a liderança; e nem por isso as coisas estão melhores. Vejam o mundo financeiro!

    O auto comete sim um exagero ao elogiar a formação das famílias tradicionais; ele omite que seus membros não são muitas vezes os humanistas renascentistas que ele faz parecer (vide os membros dos clãs Clinton, Kennedy e Bush).

  4. Obrigado pela resposta, gostei.

    Suponho que o percentual de famílias “renascentistas” entre as tradicionais são semelhantes às que geram os tais “expoentes técnicos”.

    Vejo um outro preconceito aí também. É aquele típico de D. Pedro II versus Barão de Mauá.

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