E finalmente a Companhia das Letras resolveu publicar o catatau chamado 2666, de Roberto Bolaño, o escritor mais prestigiado dos últimos tempos – e que não faria diferença nenhuma se não estivesse morto e enterrado.
Há cerca de dois anos comecei a ler Bolaño, tudo por culpa do blog português Bibliotecário de Babel, que o idolatra sem pudores. Foi uma decepção. Não consegui passar da metade de Os detetives selvagens, sequer atravessei a primeira parte de 2666, não engoli direito o monólogo de Noturno do Chile. Bolaño escreve bem, mas a repercussão de sua obra é algo superestimada por todos, em especial os amigos que pipocam ali e acolá e dizem tê-lo conhecido como se fosse o último messias da literatura. Isso, sem dúvida, me fez desistir na leitura de seus romances, que não me impressionaram em nada e mostraram apenas um homem desesperado que queria construir sua lenda a qualquer custo.
Parece-me que a crítica literária de jornal caiu nesta lenda e agora tem de vendê-la sem pensar nas conseqüências – que são simples: todos vão querer imitar Roberto Bolaño e dar com os burros n’água. Para estes sujeitos, que andam pelos lugares trendys de São Paulo e Rio de Janeiro, e acham que o hype é o que fica (quando, na verdade, é só o que passa sem deixar saudades), tenho um conselho quando perguntarem a você, leitor, se leu Bolaño: responda apenas que precisa ler Stendhal.
Agora, se você quer fugir do hype, e, além disso, saber escrever bem na sua própria língua, não perca o curso que o Antonio Fernando Borges criou especialmente para a Internet, Em Busca da Prosa Perdida. Borges é sempre Borges e, no Brasil, ele é o autor de dois livros que são muito superiores a qualquer Bolaño: Brás, Quincas & Cia. e Memorial de Buenos Aires – que, olhem só, também foram publicados pela mesma Companhia das Letras. Só assim o leitor saberá reconhecer o que é a literatura passageira e a literatura que veio para ficar, independente das modas e dos tempos.
Será que algum dia você vai argumentar para além do “aquele ali é ruim/meu amigão aqui que é bom”?
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Martim, concordo quanto ao fato de o Bolaño ser superestimado, no sentido de que seus admiradores o tratam como um gênio, o que ele não é – o argentino Juan José Saer, por exemplo, é bastante superior ao Bolaño, para citar outro autor sul-americano. Mas é sim um bom escritor, embora irregular. Gosto muito de Noturno do Chile, da parte dos depoimentos de Os Detetives Selvagens e de contos como Prefiguração de Lalo Cura e O Olho Silva. Mas ainda não me arrisquei no 2666.
Agora, é sempre bom lembrar do AFB. Já está na hora de um romance novo, diga-se.
Vinicius:
Você tem toda a razão na sua reclamação. Sou um sujeito muito fiel aos meus amigos – em especial, se eles escrevem bem, como é o caso do Antonio Fernando Borges. Por acaso já leu algum livro dele? Se não, faça-o agora e verá que tenho razão.
Agora, certamente você não é meu amigo, e tenho de admitir que escreve bons textos, como este aqui:
http://relances.wordpress.com/2010/03/17/the-hurt-locker-guerra-ao-terror/
Aliás, parabéns pelo blog!
Rgs
Martim
Wow…
… e agora?
Estava à espera da Feira do Livro para adquirir o calhamaço e agora hesito…
Não hesite Margarida, a não ser que você queira entrar no (anti) hype do Martim. Leia e tire suas próprias conclusões.
Li a metade do livro 2666 de Bolaño. É um escritor razoável, mas nada além disso. Certamente não muda a vida de ninguém, diferentemente do que ocorre com um Mann ou Musil, aos quais Bolaño é comparado.
Uma coisa há que admitir, o chileno tinha talento para criar personagens interessantes. Aqueles críticos e professores especializados em Benno von Archimboldi são muito divertidos.
O comentário do Sr. blogueiro é ridículo e miserável em termos de argumentação. Talvez quem esteja a buscar seguidores muito maid o que o próprio Bolano (que nunca quis isso em vida) seja um cara que escreve “isso é ruim” e “aquilo é bom”.