Em que Pedro Mexia destrói António Lobo Antunes

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E por falar em nobelizáveis, leiam este texto divertidíssimo de Pedro Mexia, um dos melhores escritores portugueses da nova geração, sobre o seu “relacionamento” ou “falta de” com António Lobo Antunes, um gênio da língua que, se fez o que está a ser descrito abaixo, infelizmente coloca-se no mesmo patamar moral de alguns escritores tupiniquins que conheço:

Aquece e arrefece

Acaba de sair Uma Longa Viagem com António Lobo Antunes (Porto Editora), entrevistas com e sobre o autor feitas pelo jornalista João Céu e Silva. A páginas tantas, Céu e Silva pergunta: «Nunca se aborreceu com nenhum crítico?». Lobo Antunes responde: «Nunca disse nada, posso não gostar mas nunca digo nada. Mas é mais fácil não gostar das críticas boas, porque me parece que são por razões erradas. Critica más, não sei… Houve um senhor que eu não conheço, chamado Pedro Mexia, que escreveu mal sobre este último livro [O Meu Nome é Legião]. Não me aqueceu nem me arrefeceu, o homem não percebeu nada daquilo que estava a ler. E está mal escrito e tem mentiras».

Como imaginam, nos dez anos que levo a escrever essencialmente sobre literatura portuguesa, fui alvo de dezenas de ataques e insultos. Não ligo. Sempre achei esquisito que um autor dê réplica a um crítico, e ainda mais que um crítico se dê ao trabalho da tréplica. Só respondi uma vez, e exactamente pelo motivo pelo qual respondo agora.

Não contesto o que diz Lobo Antunes sobre a minha inteligência e a minha escrita. É a opinião dele. Registo apenas que quando elogiei Exortação aos Crocodilos e as suas crónicas, devo ter sido extraordinariamente inteligente e elegante na minha prosa, visto que Lobo Antunes não disse nada. É normal. Quando um crítico não gosta de um livro, é estúpido e escreve mal.

Acontece que a seguir Lobo Antunes diz que a minha recensão «tem mentiras». Isso já me encanita. Tenho todos os defeitos do mundo, mas esse não é um deles. Aliás, Lobo Antunes não diz qual é a «mentira». Nem lhe chama um «erro», ou um «lapso». Eu seria o primeiro a admitir que já cometi erros e lapsos em dez anos de textos, estranho seria que fosse infalível; mas mentir significa afirmar factos falsos e que sabemos que são falsos. E isso Lobo Antunes, por mais nobelizável que seja, não pode afirmar, sem exemplos nem provas, sob pena de parecer um biltre.

Tanto mais que ele, ó céus, me chama mentiroso na mesma resposta em que mente. Lobo Antunes diz: «um senhor que eu não conheço». É uma estratégia antiga: se ele «não conhece» é porque tal pessoa não existe, fulminada por uma espécie de morte civil. Que importância pode ter um sujeito que Lobo Antunes «não conhece»?

No entanto, a verdade é que Lobo Antunes me conhece. Soube das críticas positivas, porque disso me chegou notícia, e sabe quem eu sou porque nos cruzámos dezenas de vezes no mesmo restaurante na Estefânia e nos cumprimentávamos com um aceno de cabeça (até à tal crítica, claro, a partir daí ele virou a cara). Mais: quando lhe pedi um autógrafo numa Feira do Livro, ele olhou para mim quando eu disse o meu nome, e confessou, espontaneamente, que tinha gostado de um dos meus livros de poemas. Escreveu isso mesmo numa dedicatória: «Para Pedro Mexia, porque gostei do seu livro».

Portanto aqui temos um homem que chama mentiroso a alguém, sem dizer qual é a mentira, e que diz várias mentiras. Nunca fui amigo de Lobo Antunes, mas no sentido comum da palavra ele «conhece-me», ou seja, sabe que existo, já trocámos meia-dúzia de palavras, ele reconhece-me quando me vê. E até gostou de um dos meus livros, que nem fui eu que lhe ofereci.

A resposta de Lobo Antunes está aliás marcada pelo princípio da denegação. Quem é que diz que determinada pessoa «não aquece nem arrefece» e depois se dedica a atacar essa pessoa? E não sou só eu: «Há um homem no Expresso, um tal de António Guerreiro, que a cada livro me tem crucificado. Também não o conheço, é-me completamente indiferente». Mas se é indiferente, porque é que fala nisso, tanto mais que já o matou dizendo que «não o conhece»?

Lobo Antunes contrapõe à vil crítica lusa os «críticos muito bons» que há «na Alemanha» e «em Espanha». Mas quando Céu e Silva cita um crítico espanhol que faz algumas restrições a um romance de Lobo Antunes, este responde, fatalmente: «Não o conheço». E depois: «Quero lá saber o que ele diz».

Lobo Antunes gosta de críticos que «conheça» e que elogiem os livros dele, todos. Os outros são anónimos pouco espertos e que nem sabem escrever. O mais estranho de tudo é que Lobo Antunes já disse várias vezes que «nunca» lê a crítica. Para quem não lê, está muito bem informado. Para quem chama mentirosos aos outros, farta-se de mentir.

6 comentários em “Em que Pedro Mexia destrói António Lobo Antunes

  1. Mexia está certo ao pensar que escrever críticas é uma prática um pouco complicada. Ao se tratar dos assuntos de modo sério é muito provável que se assuste a todos. Ao se tratar aos confetes a coisa se perde em relevância: porque confete nunca é o caso. Aos tijolos a coisa também não é bem indicada: porque se pode procurar no que jogar tijolos. Então, cabe-se procurar os livros, obras etc. aos quais seja pertinente levantar questões ainda que suscitem certo silêncio. Mas algo de bom é que um crítico deve manter – e penso muito sobre a figura do crítico, inclusive conceitualmente – uma espécie de “menos um” ao melindre dos artistas. Pode ser que a crítica seja uma espécie de arte, mas uma arte a “menos um”. Mexia está muito melindroso com as críticas que recebe.

  2. O Sr. António, lamentavelmente, não se envergonha, e, deveria, de tratar a todos os outros escritores como pessoas mortas, isto só vem a mostrar que tal senhor não tem respeito por ninguém e nem por sí próprio, além de demonstrar fraqueza em aceitar as críticas que lhe são dirigidas, acha o eterno candidato a Nobel que é onipotente.
    Seus livros não me agradam, pois tenho a nítida impressão que o autor quer transferir todas as suas misérias para o leitor.
    Acredito que todos os personagens de seus livros sejam um único, o próprio autor a se dividir em pequenas máscaras.
    Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar, é bem inferior aos anteriores, pois há uma insessante repetição de tudo.

  3. Aproveite e compre o que ele afirma o genocídio em Angola. Este sujeito se não é um mentiroso, no mínimo é cruel, sádico…como pode narrar com tanta normalidade a ceifação de vidas para conseguir pontos???? E, já quase aos 30 anos, não era tão jovem assim.
    O escritor conseguiu de forma estupenda emporcalhar os combatentes portugueses, merecia responder por este crime de guerra sim. E, com toda a petulancia, ainda diz que acredita em Deus, será? Está mais para o diabo!

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