Encontro de culturas

O embaixador japonês na Santa Sé explica porque o Cristianismo permanece algo “estrangeiro” aos japoneses. Partindo de sua espiritualidade que mistura elementos de Budismo e Xintoísmo, Kagefumi Ueno enumera três pontos principais.

– Diferentes concepções do “eu” (ou “self”): para o japonês, é algo a ser superado e eliminado, para o ocidental, algo a ser afirmado e aperfeiçoado.

– Relação diferente com a natureza: para o ocidental, matéria inferior, para o oriental, algo divino a ser reverenciado.

– modo de encarar os valores: para os ocidentais, valores são absolutos e devem ser afirmados a qualquer custo (sejam os valores da fé cristã, da liberdade de imprensa ou dos direitos dos animais); já os japoneses consideram mais prudente relativizar os valores quando isso evitar a violência.

No fim das contas, a fala envereda para a economia, na qual, apesar das diferenças de fundo, o embaixador reconhece preocupações comuns entre a Igreja Católica e o Budismo.

Não vejo como discordar das idéias apresentadas (ao menos na parte inicial e mais importante), mas ao mesmo tempo fico querendo fazer a pergunta: “Sim, as diferenças culturais são reais; mas então qual das duas responde melhor aos anseios da natureza humana?”

Christian Samurai
Samurai com crucifixo

18 comentários em “Encontro de culturas

  1. Falta de conhecimento da propria historia por parte do embaixador. Se os cristãos não tivessem sido expulsos e perseguidos (por ordem do governo), toda terra do sol nascente seria cristã. Interessante que muitos japoneses mantiveram a fé por muito tempo sem um padre para comunhão. Fora que Nagasaki e Hiroshima eram cidades católicas. Esta visão é limitada e panteista.

  2. Para uma revista que pretende ser o bastião do conhecimento e erudição atemporais (coisas inexistentes no panorama editorial brasileiro atual, tenho que concordar) vocês se mostram cada vez mais tendenciosos e… católicos.
    Não me entendam errado, também sou católico de nascimento, mas se continuarem neste ritmo, daqui a pouco serão confundidos com figuras exóticas (para dizer o mínimo) tais como Olavo de Carvalho. O que significa perder todo o crédito intelectual e serem tratados como uma anomalia inofensiva no cenário intelectual tupiniquim.
    Não acho que este seja a intenção de vocês ao iniciarem este projeto editorial, não?

  3. Bom, aparentemente, a cultura japonesa tem a “não-violência” como valor absoluto…

    E, Ricardo, ainda que concorde que se esse site for identificado como “católico” perderá ‘todo o crédito intelectual e serem tratados como uma anomalia inofensiva no cenário intelectual tupiniquim’, não posso também deixar de lhe questionar se esse fato não seria uma anomalia de nossos tempos que tem no preconceito anti-cristão uma das bases de seu pensamento? Não é hora de combater esse preconceito irracional?

  4. A conferência do embaixador é interessante e resume muito bem as diferenças principais entre a cosmovisão japonesa e a cristã.

    Certamente, ela suscita nos seus ouvintes (ou leitores) uma série de questões. A questão proposta pelo Joel é uma das mais óbvias e relevantes dentre elas.

    Não se preocupem com “credibilidade intelectual no cenário brasileiro”. Não se empenhem em agradar nenhum tipo de militância, nem católica e nem positivista. Continuem divulgando comparações oportunas entre culturas, fazendo perguntas pertinentes — e irritando quem não gostar disso.

  5. 1.Wagner

    Não existe este tal de preconceito anticristão. Isto é igual à estratégia de Lula, ao dizer que as denúncias de irregularidades contra seu governo são fruto de uma conspiração da “classe média alta de direita”. É apenas uma forma de distrair a atenção. Além do mais a classe mais pobre (enorme maioria) nunca teve problemas ao recorrer a religiões, digamos, “alternativas” (umbanda e espiritismo).

    Fileleno

    Se esta publicação não se preocupar com a credibilidade intelctual então no quê ela vai se apoiar? Na religião? Bem, pode até ser, mas então isto vai contra toda a proposta inicial da Dicta. Ou talvez eu seja secular demais e tenha entendido tudo errado…

    Abraços.

    PS:Desconsire o comentário anterior. Ficou pela metade. Obrigado.

  6. Se você não se preocupar com credibilidade intelectual você pode se apoiar em várias outras coisas: busca pela verdade, na religião cristã, etc. São várias as opções. E muitas vezes não se excluem. Você está secular, sim, acredito eu. Um dos ensinamentos mais básicos dos Evangelhos, não precisa recorrer à Igreja, ou ao Olavo, é que o mundo das glórias que os homens dão uns aos outros é ilusório. E se você pára para observar, buscando a verdade, realmente a credibilidade muitas vezes não se baseia em mérito próprio.

  7. Ricardo, concordo com você que seria um erro da revista se fechar e falar apenas de assuntos católicos para católicos. Não é nem nunca será nosso propósito.

    Mas, ao mesmo tempo, não vejo de forma alguma que isso seja o caso num post como este, que compara duas culturas, duas formas de ver o mundo e, o que deve ser notado, dá voz não ao lado católico mas ao lado xinto-budista (o quão bem ele representa as crenças do budismo e do xintoísmo não sei dizer, mas imagino que seja alguém com estudo, dado que é embaixador na Santa Sé, e o que ele fala ressoa com o – pouco – conhecimento que eu tenho do assunto).

    Ele é embaixador na Santa Sé, mas a fala seria relevante e digna deste site se ele fosse embaixador nos EUA, no Brasil ou em qualquer outro país. Contudo, um diálogo sobre esse assunto talvez só ocorra lá, o que não deixa de ser sintomático.

    Será que exageramos no número de posts ligados a espiritualidade e religião? Talvez; é um equilíbrio fino que estamos sempre buscando. Por outro lado, considere que talvez seja o cenário intelectual brasileiro que peque pela deficiência em tratar dessa dimensão da vida humana.

  8. Não há o menor indício de apologia Cristã no post acima. E a revista se mostra muito imparcial em termos de Religião. E o Exótico é uma excelente referência em matéria de Religiões Comparadas. Talvez tenha sido o introdutor no Brasil da Teoria da Unidade Transcendente das Religiões, aceitando, atualmente, que existe de fato uma unidade transcendente das religiões no plano metafísico, mas são absolutamente incompatíveis nos demais aspectos doutrinários.

  9. Léo

    Preconceito existe contra qualquer religião. O que eu não concordo é com a ideia de que exista alguma forma organizada e generalizada de preconceito contra o cristianismo católico, pelo menos no Ocidente.
    Talvez algumas pessoas tenham se exaltado com os episódios de pedofilia que foram revelados nos últimos tempos, estendendo a culpa de alguns membros da Igreja a toda ela.
    Mas a revolta destas pessoas é totalmente compreensível, afinal estamos falando de uma instituição religiosa de quase dois mil anos, que serve como guia de conduta para uma enorme parcela da população.
    Bem, é a isso que estava me referindo.

  10. “O que eu não concordo é com a ideia de que exista alguma forma organizada e generalizada de preconceito contra o cristianismo católico, pelo menos no Ocidente”

    Bicho, onde é que você estuda? eu, por exemplo, que não sou católico — sou um zé agnóstico –, reconheço traqüilamente o preconceito acadêmico com o coiso. Ou qualquer denominação cristã.

    Lembrando agora da minha aula de teoria antropológica 2, é tão fácil imaginar os olhares comedidos de desprezo para o caso de alguém se declarar evangélico ou, com todas as letras, católico. Lembro, inclusive, de uma menina que não se agüentava diante da necessidade do pintor americano, George Catlin, em pleno século 19, frisar a necessidade da salvação dos índios mandaneses em Cristo — um evento de 180 anos atrás e era como se ela não entendesse o porquê do George Catlin agir como agia. A notar, não era um assunto central nem nada na aula, estudávamos uma crítica à autoridade etnográfica e que, nela, continha o relato de Catlin, mas a menina não se agüentou em ter que notar e desprezar a perspectiva (comum pacas, lembremos, à época) de Catlin. Chutar cachorro morto, saca?

    Isso não é infreqüente. E, no que eu lembro dessa aula, eu não deixo de notar que existe a construção de uma autoridade acadêmica que não é lá muito favorável à idéia de alguém religioso . . .

  11. Eu estudo administração de empresas, e nem de longe se discute religião em salas de aula, afinal não tem nada a ver com as matérias ministradas.
    Bem diferente de uma aula de teoria antropológica, muito mais sujeita a este tipo de discussão. Também não creio que em uma aula de engenharia civil, só para citar outro exemplo, o assunto religião viesse à tona.
    Acho que você está generalizando, baseado em sua própria experiência.

  12. Ô, meus amigos, quando se fala de preconceito (sic) contra o cristianismo, está se falando de intolerância na academia (departamentos das ditas humanidades) e na imprensa, que são como irmãos siameses. Essas duas matrizes geram hoje o que se chama opinião pública e no meu humilde entender são o verdadeiro poder, pois vão indicar os princípios que regem a ação legal e política. Dizer que a coisa não existe . isso sim, é generalização baseada na própria experiência.

    Esse embaixador do Japão esqueceu que os governos do Japão ASSASSINARAM missionários e fiéis católicos, adornando o colo da Igreja com mais mártires. Onde a Igreja não tem oposição, ela cresce, fortifica-se e cria raízes. Os EUA são, hoje, o lugar onde o catolicismo mais se expande. Prova de que a fé católica responde aos anseios do coração humano? O membro do Estado que mantém uma religião de Estado prefere falar de uma resistência espiritual. Com armas. Então, tá.

    Quem reclama da Dicta parece aquele convidado para quem se prepara um prato e reclama que tem cebola!

    “O que significa perder todo o crédito intelectual e serem tratados como uma anomalia inofensiva no cenário intelectual tupiniquim.” Isso é muito baixo. Muito baixo mesmo. Dá menos trabalho do que ter que descobrir os reais méritos e defeitos da obra do Olavo de Carvalho, é verdade. Mas eu achei revoltante, pois parece a tática comunista de desqualificação permanente de tudo que não faz parte do grupão, de tudo que não é espelho.

  13. Eu leio a Dicta. Tem opiniões com as quais eu concordo (e são muitas) e outras não. Destas últimas eu reclamo aqui neste espaço, como muita gente faz. Isso aqui não é só um espaço para elogios, como sua metáfora do “prato com cebola” faz crer. Aliás não é a primeira vez que eu faço críticas contrárias e sou espinafrado por isso. Cansativo, não?
    Agora, a última coisa que eu esperava era ver minhas reclamações comparadas com táticas comunistas! Santo Deus, isso sim é baixo, meu caro.

    Abraços

  14. “‘O que significa perder todo o crédito intelectual e serem tratados como uma anomalia inofensiva no cenário intelectual tupiniquim.’ Isso é muito baixo. Muito baixo mesmo. Dá menos trabalho do que ter que descobrir os reais méritos e defeitos da obra do Olavo de Carvalho, é verdade. Mas eu achei revoltante, pois parece a tática comunista de desqualificação permanente de tudo que não faz parte do grupão, de tudo que não é espelho.”
    .
    .
    .
    .
    .
    Concordo em gênero, número e grau, Helder. O tal “Ricardo” quer se mostrar “intelequituaumente” independente… se alinhando com o pensamento politicamente correto! Ou seja, é um perfeito imbecil (não coletivo, e sim individual. Mas que vale por uma manada).

  15. Ok, desconsiderem minha mágoa da cebola. É claro que isto daqui é espaço para comentar (positiva e negativamente).

    Agora uma coisa que eu sustento: pode se dizer o que for do Olavo, menos que ele seja irrelevante!
    Não quis ofender, mas tal juízo é muito apressado!
    E como é desabonador na ligeireza! “Ah, ele é um doidinho!”, só faltou dizer. É isso que o povo que quer vê-lo isolado faz, estigmatiza. É isso que os comunistas fazem. Eu sei que você não é comunista, eles não leriam o primeiro parágrafo do texto. Diriam: “que ridículo, não entende nada de religião! kkkkk”. Saudações a todos e desculpem os excessos, Ricardo e equipe da Dicta, se os houve.

  16. Valha-me Deus!
    Estou sendo acusado de usar tática comunista, ser politicamento correto e um perfeito imbecil! Ou eu me expressei muito mal (se for o caso, peço desculpas) ou vocês entenderam tudo errado.
    O próprio autor do texto foi mais tolerante e elegante ao me criticar.
    A turma aqui pega pesado mesmo. Se fosse uma luta de boxe eu estaria sendo massacrado.
    De qualquer forma, me rendo. Vocês venceram.

    A recuperação vai ser lenta e gradual, mas acho que sobrevivo. Só espero não ficar com sequelas.

    Até o próximo round.

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *

Você pode usar estas tags e atributos de HTML: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>