Independência

O nosso editor sugeriu-me escrever um artigo sobre a dificuldade que se encontra para pinicar as vacas sagradas do conservadorismo, em suas bem-humoradas palavras. É uma sugestão, e não é minha área. A provocação, todavia, é muito boa, pois se trata de um problema que muita gente tem enfrentado — uma espécie de policiamento ideológico de sinal trocado. Quem passa longe de discussões ideológicas não raro consegue entender que tanto a direita quanto a esquerda (sem esquecer do centro e de qualquer posição política ou intelectual na reta dos números reais) são lugares de morte do pensamento e refúgios da desonestidade intelectual.

Suponha que você seja partidário irrestrito de um movimento de esquerda ou mesmo de um partido. Suponha que o cabeça (ou um dos cabeças) desse movimento tenha sido comprovadamente desmascarado. (O que acaba de acontecer, a propósito.) O que você faz? Qualquer pessoa honesta deixaria de apoiá-lo, hipoteticamente, e inclusive reexaminaria o que a teria levado a prestar assentimento ao seu programa. Mas por que na prática isso é tão difícil? O problema não ocorre apenas quando o caso atinge uma pessoa — i. e., quando a decepção ocorre em virtude de uma falha moral suficientemente grave. Ocorre também quando um programa não funciona, ou quando se defende teses que se mostram claramente insustentáveis. Um exemplo? Muitos intelectuais defenderam o comunismo. Mesmo quando tudo conspirava para mostrar com fatos que todo programa comunista estava acometido de erros estruturais, presentes já em germe na fonte, e não apenas por enganos de percurso, acidentais, um sem número de intelectuais fez vista grossa, mesmo com reparos no estilo hipster como “eu sou a favor do comunismo de raiz, que até hoje não foi implantado” [graças a Deus ou a Marx].

O exemplo do comunismo é apenas uma instância suprema da cegueira ideológica. O que poucos estão dispostos a aceitar é que ela atinge qualquer causa defendida com paixão e sem senso crítico, mesmo que sob a bandeira do conservadorismo de raiz, “anti-ideológico”. Basta que seja uma causa. Da oposição ao casamento gay à defesa do aborto irrestrito, o que transparece é a cegueira dos “causídicos”. É possível mostrar com clareza onde reside o erro?

Um indivíduo realista não tem causas. Ele sabe que o mundo é vário, intratável, e sempre continuará sendo o mundo; e que, quando dois ou mais se unirem em torno de um ideal, a trapaça vencerá as boas intenções. E esse é apenas o aspecto mais superficial das tentações. O homem não tem a capacidade de resistir de modo durável aos convites da cegueira. A julgar pelos olhos daquele que defende uma causa, a cegueira causa prazer; não raro se abandona toda sutileza, mesmo que o causídico seja acadêmico ou filósofo, para regozijar-se no mal alheio. Denunciará o mal no mundo, as conspirações contra os bons, misturará política com metafísica, perdoará os insultos e os julgamentos apressados desde que venham dos amigos, e será inflexível com tudo o que vier daqueles que não partilham da mesma causa. Não importa o mérito dela. E esse é o aspecto objetivo. Vou citar apenas um exemplo; não interessam-me movimentos desse tipo. Mas pensem na espécie de ‘nova direita espiritual’ que ganhou força no Brasil suburbano. Indignados com os erros grotescos da esquerda, uma pletora de intelectuais e sub-intelectuais alternativos acreditaram ter encontrado no cristianismo (teórico) uma chave para a compreensão dos erros do mundo moderno; atraíram-se por uma espécie de teoria de tudo, capaz de se aplicar a todos os fenômenos, desenhada com suficiente sutileza e santarronice (dizem que é o que traduz melhor o termo self-righteousness). Há diferenças brutais entre esses autores — entre René Girard, Voegelin e Guénon, por exemplo, cujos méritos não pretendo discutir aqui –, mas não é difícil captar-lhes o elemento comum, já esboçado, de denúncia dos males do mundo moderno, o que costuma vir acompanhado, mesmo inconsistentemente, da defesa do livre mercado, bandeira que era da esquerda há algumas dezenas de anos. Pessoalmente, a suspeita sobre essas teorias, muitas vezes versões exageradas, mas nem tanto, dos autores originais (como Marx transfigurado pela Teologia da Libertação), foi-me recomendada justamente por pessoas que praticavam o cristianismo, e que achavam muita graça na pretensão orgulhosa, até “satânica”, desses “sujeitos mais católicos que o Papa”, que “pregam Cristo e vivem, simultaneamente, em concubinato e em estado de difamação permanente contra tudo e contra todos” (sim, isso está literalmente num e-mail que guardei). Quem quer que tenha divulgado esses autores no Brasil fez um dano maior do que o que pensava combater. Eu mesmo incluo-me nessa turma nefasta, pois falei com certo entusiasmo adolescente, no início do milênio, dos três citados e de mais um monte deles. Mas, como eu dizia, esse é apenas um exemplo, uma partição em um conjunto de elementos bizarros quase incontáveis.

Creio que as “vacas sagradas” aparecem nesse contexto, na esquerda e na direita, e no “muito pelo contrário”. Autores erram; teorias, mais ainda. O fenômeno social, por mais que possamos distinguir nele padrões impressionantemente recorrentes, rebela-se contra a categorização em causas e preferências e movimentos. (E é difícil rivalizar em potencial destrutivo com o cristianismo feito teoria.) Só temos controle sobre nossa ação imediata. Podemos ser bons e virtuosos com nossos familiares, amigos, vizinhos, ou com quem quer que cruze o nosso caminho. Mas não podemos ser bons coletivamente, participando de discussões na Internet, denunciando o mal do mundo, o mau-caratismo dos esquerdistas, o esoterismo, e mesmo a polarização ideológica.

Devemos julgar todas as teses com cuidado e independência, e desconfiar da ênfase e da segurança excessiva. E é evidente que isso é possível, ao menos como tentativa (sempre com resultados). Ou pensamos com nossas cabeças, ou admitimos que apenas macaqueamos o que ouvimos na Internet ou na meia dúzia de livros que lemos. A única causa para uma pessoa ou para um país é a independência. (Que é o tema, aliás, da proveitosa coletânea de artigos do meu amigo João Pereira Coutinho: Vida Independente). Isso não significa revolta contra a autoridade; o que é autoridade, tautologicamente, é autoridade. Nada mais que isso. Os pais não deixam de ser pais quando seus filhos saem de casa e começam a andar com as próprias pernas. Para quem acredita em Deus — bem, Deus não tem especial predileção pelos autômatos e pelos picaretas. Para quem não acredita em Deus, façam o dever de casa e estudem ciência de verdade, i. e., aquelas coisas que parecem tão entediantes, cheias de fórmulas e números, a quem diz, com amor fingido, “I fucking love science”.

Como dizia alguém: “Se alguém quiser me seguir… já que eu não sou Jesus, por favor avise, para que eu possa seguir outro caminho”.

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Esse é, evidentemente, um artigo de opinião, com os benefícios e malefícios de costume. Não provo nenhuma tese, e não o pretendo fazer; até porque isso tudo me parece um tanto óbvio. Se algo parece fazer sentido, convido o leitor a examinar e, caso se convença, a permanecer convencido até prova em contrário. A vida das ideias é algo instável; mas quem não examina as coisas (e esse é o sentido mais caro da palavra grega skepsis, de onde saiu o polissêmico “ceticismo”; cf. Liddell-Scott, v. sképsis, II: “examination, speculation, consideration”) acaba por levar uma vida indigna. No mais, há lugar de sobra para pregadores.

A esfera pública e a mídia nos deixam a impressão de que não existe vida além delas: vida além da discussão, do ruído, das notícias, das desgraças e da denúncia do mal.

Curiosamente, vidas inteiras se desenvolvem muito longe dessas esferas. No silêncio e na discrição, no trabalho diário e no estudo.

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P. S. em 21/10/2012: Esse texto exige um esclarecimento, após a publicação das notas certeiras de Adriano Correia e Pedro Sette-Câmara, que estão mutuamente de acordo no essencial. Quando li a citação de um texto do mesmo Pedro Sette-Câmara, pensei que ele dizia melhor o que o eu mesmo pretendia dizer sobre o problema (mais especificamente, a mútua rotulação, inimiga do pensamento). Não tenho a mesma arte que meus amigos. Ler esses textos ajudará o leitor a ‘matizar’, como se diz, os meus exageros. Em uma frase, minha pretensão era mostrar que certos argumentos apressados, aliados à divulgação sem critério desses autores, causa mais dano que o que se busca combater. O núcleo do meu texto não é, todavia, objeto da argumentação do Pedro (basta notar que todo o trecho justamente criticado começa e termina anunciando que se trata de um exemplo, uma ilustração; creio que ele é correto, mas que se deve notar que quem divulga ideias e autores com critério, e sem intuito meramente ideológico, não é alvo do exemplo). O leitor faça o seu julgamento.

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26 comentários em “Independência

  1. É verdadeiro o que você diz. Mas, divulgar os autores foi um mal? Acho isso um grande exagero. Pra muita gente, autores de direita não existiam. Direita era coisa de homem de negócios e coronel político. Só a esquerda, a contracultura, tinham “algo a dizer”. Pelo menos surgiu um contraponto à então onipresente contracultura e seus autores “críticos do sistema”. Muita gente lembrou (ou descobriu) a dignidade do empreendimento honesto (e o fracasso pessoal embutido no discurso “rebelde”) ao ler esses autores. O que não significa que não tenha chegado a hora de uma auto-crítica e, quem sabe, da busca de uma síntese.

  2. Luiz, é justamente uma das implicações do que eu digo (que é a hora da auto-crítica, etc). Não acho exagero. O que está errado, está errado.

  3. “O que está errado, está errado”, isso é certo. Mas o que está errado exatamente, Julio? Tudo que Girard e Voegelin escreveram está errado e é melhor que ninguém nem mesmo conheça seus nomes?

  4. Não, Felipe. Leia o texto. Minha intenção não é fazer nenhuma crítica a autores (como disse textualmente), mas ao espírito desse cristianismo teórico. Em parte, a culpa é dos próprios autores, mas não há espaço para isso aqui.

  5. Como dizia Guimarães Rosa: “Deveras se vê que o viver da gente não é tão cerzidinho assim!…” E eu digo: deveras se vê e, também, deveras não se vê.
    O texto pode render uma boa discussão. Limito-me, porém, a observar que Girard, mesmo confessadamente cristão, está longe de enquadrar-se no papel de ideólogo, e tampouco de anti-ideólogo. Se repararem bem, ele só é considerado um pensador conservador e de direita, na exata medida em que seu pensamento é evitado pela esquerda e pelos liberais – o que, de fato, nem sempre acontece. Neste sentido, é bom não esquecer que muito antes de cair no gosto da juventude conservadora brasileira, Girard já era lido e comentado pelos teólogos da libertação. Não esquecer também que um de seus biógrafos, o sociólogo venezuelano Gabriel Andrade, é ateu, e empenha-se em fazer uma releitura da hipótese mimética, coando-a de suas implicações metafísicas. Não esquecer que o teólogo James Alison, um dos principais divulgadores da teoria girardiana e um dos coordenadores da Fundação Imitatio, defende aberta e infatigavelmente a causa gay. E que Mark Anspach, outro renomado epígono girardiano, no livro “Anatomia da Vingança” (recentemente publicado no Brasil pela É-realizações), critica de forma objetiva o livre mercado descrevendo-o como um círculo vicioso que, inevitavelmente, precisa ser regulado pelo Estado.
    Portanto, muito se engana quem pretende reduzir a hipótese girardiana a mais um discurso ideológico às direitas ou às esquerdas. Deveras se vê que, quanto a isso, ele não é tão cerzidinho assim.
    Graças a Deus!

  6. Bem observado, Christiano (só conhecia dois desses pontos surpreendentes). Como prometi não comentar os méritos dos autores, limito-me a agradecer o seu comentário.

  7. Primeiramente, peço que descarte o comentário anterior que saiu com muitos erros de digitação.

    Há um artigo interessante de José Guilherme Merquior da década de 1980, se não me engano contido num prefácio a uma coletânea de ensaios de Raymond Aron, da Editora da Universidade de Brasília, em que ele passa em revista a obra dos que criticam a modernidade como um todo. No artigo, ele referia-se diretamente às obras de Leo Strauss, Hannah Arendt e Eric Voegelin, e termina exaltando a modernidade.

    Você diz que não vale a pena discutir autores, mas gostaria de discutir pelo menos um, Eric Voegelin. Não me parece que ele tenha defendido uma “teoria de tudo” (aliás, esta é uma expressão um tanto vaga, inexata). Se o entendi bem, o que ele pretendia demonstrar era que a origem mais profunda dos movimentos revolucionários (apenas um dos fenômenos da modernidade) estava nos movimentos gnósticos e messiânicos surgidos no seio da civilização cristã. Quem leu sabe que a tese parece plausibilíssima e ele não está sozinho nisto, pois há muitos autores que defendem mais ou menos a mesma idéia. Será que sua teoria era correta? A identificação dos movimentos revolucionários com o gnosticismo ou o milenarismo não era mera analogia? Não sei se ele provou. Porém, não vi onde ele condenou a modernidade como um todo. Me lembro, por exemplo, que no final de “A Ciência Política”, pele defende as democracias modernas americana e inglesa como fenômenos modernos que se opunham aos movimentos revolucionários. A obra de Eric Voegelin, se bem o entendi, também pretende demonstrar que os sistemas políticos de qualquer sociedade humana refletem a concepção que determinada sociedade possui da ordem do cosmos como um todo Só neste sentido seria uma “teoria de tudo”, porque se aplicaria a todas a sociedades ou civilizações humanas. Todavia, não era, obviamente, uma teoria do todo da realidade, mas de um aspecto dela, a sociedade política, que é apenas uma das espécies de sociedade, como ensina qualquer manual de Teoria Geral do Estado.

    No mais, concordo com o Luiz em que divulgar a obra destes autores não foi um erro. Muito pelo contrário, ampliou as perspectivas, trouxe novos temas à discussão. Se a poderosa obra de divulgação que um sujeito cujo nome aqui não se menciona conseguiu mudar o foco da atenção de muitos estudiosos das humanidades em geral, na academia ou fora dela, para estes autores é porque a perspectiva destes autores lhes parecia muito mais interessante e correta do que a perspectiva dos autores mais caros às universidades brasileiras: os marxistas, estruturalistas, desconstrucionistas, freudistas, etc.

    Creio que uma das coisas que você pretende com estes artigos é mudar o foco de atenção desta turma de novo para autores que se dedicam a temas, digamos assim, atomísticos ou bastante pontuais, por que não dizer a questiúnculas, como a dos “futuros contingentes”, ou “um estudo da noção de pronesis em Aristóteles” que rendem bibliotecas, e onde o nível de certeza é realmente mais seguro. Só não me entra na cabeça que o estudo destes temas atomísticos não possa coexistir com a especulação de temas mais gerais, desde que o estudioso mantenha em sua consciência a distinção dos níveis de certeza destas especulações.

  8. Vinícius, você tem razão sobre Voegelin, cujos méritos, já adiantei, não discutiria. Sobre ele oferecer uma perspectiva melhor que a dos marxistas, etc, não sei dizer. Essas escolas têm perdido importância na academia; uma importância que Voegelin, aliás, nunca teve. Mas é preciso ver cada área: só vejo pequenos grupos de estudantes se concentrando em temas bastante específicos. Alguns, com bastante competência, mesmo no Brasil. Mas o panorama geral, no mundo inteiro, é um pouco desconexo. Exemplos de um bom generalismo são revistas não-acadêmicas (na linha da Dicta, mas melhores, se me permitem dizer, como a New Criterion, apesar do espírito um pouco ideológico que às vezes se revela) e articulistas como Anthony Daniels e tantos outros.

    Difícil, hoje, com o acúmulo de conhecimentos, ser um humanista (ou generalista) competente. Antes tínhamos grandes figuras como Samuel Johnson. Hoje eu citaria o exemplo de Charles Taylor e o de Thomas Nagel, além de Hitchens, há pouco falecido, e vários em ciências, como Roger Penrose. Há também bons divulgadores de filosofia que, como os citados, antes passaram pelo mais do que necessário crivo acadêmico. Como vê, é difícil fazer um panorama geral. O que me parece nefasto é uma divulgação mesclada de “autores conservadores”, que nunca dão o critério e o senso crítico; como se precisassem passar pela recomendação de um mestre para serem lidos. Esse não é um bom contraponto ao marxismo, estruturalismo, etc, até porque vem acompanhado do mesmo vício de cegueira ideológica; se não vemos um Voegelin pontificando (e de fato nada do que li dele — de obras de fôlego a artigos coligidos — lembra, nem de longe, pregação contra a modernidade, como você bem observou), por que divulgá-lo assim? Se é difícil conquistar a independência, não o é lembrar que isso é possível e tem de ser buscado.

    Por fim, em nenhum momento divulguei autores como autores. A única coisa que me parece digna de aprender é a pensar. (E se quiser pensar em termos filosóficos, terá de enfrentar ‘questiúnculas’, pois desde Aristóteles é só assim que se faz filosofia, e não denunciando o mal no mundo e o escândalo do PT.) Procurar “autores” é um dos maiores inimigos do pensamento, e o brasileiro é pródigo nisso. Se há uma mudança de foco que desejo, é essa.

  9. Julio,

    Sem entrar no mérito dos autores (mesmo porque eu não os conheço suficientemente para isso), o seu ponto me pareceu interessante.

    Mas, ficando no ‘psicológico’ de suas colocações, não há o risco de se instituir um novo “partido” intelectual que poderíamos chamar de “independentes”? E estes não teriam com o tempo um “ídalo” a quem seguir ou mirar? Nâo é verdade que todos (da extrema direita à extrema esquerda) se consideram tão “realistas” quanto você propõe que seja salutar agir?

    É possível realmente ser “independentes”, isto é, não localizar-se em nenhum ponto do espectro intelectual vigente (a mesma pergunta que se costuma fazer se , de fato, existe imprensa “isenta”)?

    É tão ruim assim ter um preconceito intelectual que me coloque de sobressalto quando ouço ideias que o contrariem? Isso – desde que não resvale na desonestidade intelectual ou no fanatismo – não pode ser bom?

    Por fim, o Olavo de Carvalho seria um exemplar tupiniquim que caberia em sua lista de autores?

  10. Wagner, obrigado pelos comentários e perguntas. São muito bons. Veja, criar um partido independente, na prática, é cair nos vícios que eu, bem ou mal, apontei. Se isso acontecer, não se poderá conferir a característica de independência à pessoa ou ao grupo de ideias. Simples assim.

    A independência é possível? Sempre foi. Tente, por exemplo, caracterizar o “partido” de Dante (excluída a sua cidade querida, que lhe fazia ferver o sangue…), Shakespeare, Goethe ou mesmo de um contemporâneo nosso como Hitchens ou, em nossas terras, Diogo Mainardi. Podemos não concordar com eles; mas eles merecem o epíteto de pessoas independentes. Algumas de suas posições são de esquerda, outras de direita, outras de centro; mas somos nós que assim as classificamos. Essas categorias (direita, esquerda, etc) não entram como critério na formação das opiniões de pessoas independentes. Elas não pensam: “bem, essa opinião é de direita, logo me identifico com ela”. (Isso é mais comum do que parece, e ocorre até com autores bons e bem treinados; costuma atingir quem quer que aceite com orgulho o epíteto de conservador ou de esquerdista, ou do que quer que seja.) Essas pessoas são inclassificáveis porque se posicionam tema a tema e, dada a rejeição de uma cosmovisão omnicompreensiva, tendem a ser criticados por ambos os lados. Isso é saudável e possível. É muito mais fácil opinar ideologicamente, em bloco; mas o resultado é a dependência intelectual que vemos tanto em direitistas como em esquerdistas. Como a sutileza não é natural ao brasileiro, sobram em nosso país a difamação e as condenações sumárias em todos os ambientes.

    Os preconceitos podem ser, por pura sorte, atalhos para o que é bom. Mas na prática não valem como argumentos e não me parece saudável cultivá-los. Muito menos se for por razões estéticas. (Acredite, muita gente acha bonito parecer “de direita” e favorável aos preconceitos.)

    Sobre o autor tupiniquim citado, não, não está na minha lista de autores. Ultimamente, como expliquei no comentário em resposta ao Vinícius, ando desconfiando dessa política de colecionar autores.

  11. Foi uma boa lembrança, Paulo. O Daniel Piza é um bom exemplo. Muitas vezes discordei dele. Mas há que lhe conferir o adjetivo! Abraço.

  12. Pois é. Vejo que independência é uma das principais características dos ensaístas clássicos, principalmente entre os ingleses, que não estiveram presos a formas, temas ou preconceitos.

    Penso isso, na medida do que pude ler, do Theodore Dalrymple e do Javier Marias, entre outros.

  13. Que coisa linda esta fome de “independentismo”… até parece coisa ditada pela cr pq, afinal, das cem nos interessam as cem. Ou, como já perdemos a batalha, pelo menos fiquemos com os recursos. Quem te viu, quem te vê!

    Crítica feroz à parte, detesto esta coisa dos cons brigando com os neocons que desdizem dos upcons… Vcs sabem que existe mundo lá fora? Sério, pessoal, passo 1 levantar a cabecinha do livro ou da tela do computador, passo 2 se dirigir para a janela, passo 3 olhar, passo 4 esquecer que existe mente e lembrar que existe vida, passo 5 recordar que a vpV leva os rapazes a se comoverem com o mundo real – real!

    Enquanto, peço vênia, vossas excelências discutem e discutem, têm eleições acontecendo. A daqui importa um pouco, a de lá importa muito. Até lá os cons já estão tendo uma dificuldade enorme, aqui já perdemos e não conseguimos sair do atoleiro.

    Acho louvável um think thank, mas para que serve este think thank se não há contrapartida na vida real? A existência de tts se dá para justificar, vá lá, as ações reais de um… partido, sim de um partido,… de um movimento, de campanhas, de ação! Ação!

    Meu Deus, tô parecendo da TFP! Mas não é que eles tinham – tinham – algum atrativo!?

    Eu sei muito bem para que serve este tt… e fico triste, pq é um verdadeiro desperdício. Vocês sabem que, infelizmente, será?, não há outra forma a não ser pela política?

    Sério, que tal voltar a Tocqueville? Começar a ler e discutir os cientistas políticos? As discussões de hoje não vão levar para muito longe.

    Se temos, ainda temos?, de construir uma nova cultura, como acham que vão fazer isso? Criando briga entre as correntes? Ora, passou da hora de perder a vergonha e colocar a cara na rua.

    Não se esqueçam da piada do motorista de ônibus e do padre. Quem entrou primeiro foi o motorista! Até hj tenho dúvidas se o Padre entrou ou se foi só uma forma de tornar “pastoralmente correta” a piada!

    Vamos dirigir cambada!!

    Ps.: Peço desculpas pelo tom pesado, não consigo escrever diferente, até tentei mas foi pro lixo. Sério, entendo se não publicarem mas prometem que vão pensar??

  14. Caio, gostei da ‘pinicada’ nas vacas sagradas do independentismo (risos). Você consegue ser polêmico e franco sem ser mordaz; isso é raro. Eu não sou político (em quase nenhum sentido, senão o de viver em sociedade e ser a favor de que o príncipe dirija a nação segundo o bem comum — o que já é muito!), e interessa-me mais a ética que os programas. Mas não sou contrário à ação política. Creio até que, com independência de movimentos, se possa agir com maior liberdade. Talvez você tenha esquecido que as consequências daquilo que escrevo, se são a reflexão, não deixam de ser bastante práticas. Um abraço, e comente quando quiser.

  15. Sei que a intenção deste post não era a discutir autores, mas vou fugir ao problema central mais uma vez.

    Depois que li o post de Pedro Sette Câmara fiquei a pensar em René Girard do qual li alguma coisa, sempre com muito interesse desde que o grande número de menções entusiásticas a ele no site Sapientiam Auten Nom Vincit Malitia e O Indivíduo me chamaram a atenção para a sua obra, no início dos anos 2000.

    De fato, Julio Lemos parece que foi injusto com ele, pois, com efeito, René Girard é quase tudo o que Julio Lemos gosta. Senão vejamos.

    René Girard não é cigarra mágica. Ao ler suas obras nos damos conta da prodigiosa bibliografia que ele atravessou na comprovação de sua tese, uma infinidade de textos clássicos, umas bibliotecas de estudos de ciências sociais, de história, psicologia, literatura etc. Tudo aquilo deve ter lhe dado um imenso trabalho árduo, severo. Ciência dura. Se não era uma formiga engenheira, por falta de matemática, era, de certo, uma formiga filóloga.

    René Girard não é um autor, por assim dizer, muito alternativo, do qual se deveria desconfiar, pois como mostrou Pedro Sette, é um ícone acadêmico mundial, admirado no maistream e fora dele e dialoga com uma longa tradição de estudos sociais. Por outro lado , é independente, como frisou um comentarista acima, servindo como fundamento teórico para causídicos de todas as estirpes, direitistas, esquerdistas, cristãos, não cristãos, etc.

    Por fim, seus livros merecem o selo de filologicamente correto, eis que está sempre discutindo o sentido mais profundo dos textos religiosos clássicos. No livro “A Vilência e o Sagrado” há um capítulo inteiro sobre a origem da palavra pharmakós, que originou fármaco, ou remédio, e que ele diz ser o nome de um tipo específico de bode espiatório na Grécia Antiga.

    Só faltou botar uns toques de análise lógica nos seus livros.

    Mas num certo sentido, realmente parece que as teorias girardianas tem algo de “teorias de tudo.” No livro “A Vilência e o Sagrado” , se me recordo bem, ele esposa muito claramente a tese de que a origem de toda sociedade humana e das suas instituições, o Direito, A Religião, a Moral, a Superestrutura, enfim, para usar um termo marxista, são fruto da crise sacrificial. Neste sentido, parece-se um pouco com o marxismo para o qual a origem de tudo é a luta de classes. Mas não precisaria existir uma ordem social antes para que houvesse uma crise sacrificial? Certamente ele já respondeu a esta pergunta, mas não sei o que disse. Talvez seja isso que Julio Lemos quer dizer com teoria de tudo. Além disto, há outras teorias sobre a origem de tudo e há a dificuldade de se explicar tudo com base nestas teorias.

    Por fim, me ocorreu a idéia de ver um liberal-democrata girardiano fazer uma leitura girardiana do julgamento do mensalão. A multidão de uns 50 milhões de brasileiros, homens de bem, politizados, mordendo o beiço inferior com sede de justiça contra os corruputos e o Marcos Valérios, coitado, lá em Belo Horizonte, sofrendo com síndrome do pânico, dormindo três horas por noite, com a mulher que já tentou suicídio três vezes, só aguardando as sirenes das viaturas da polícia federal chegarem na porta da sua casa para buscá-lo. Paradoxos. Por um lado há de fato esse desejo coletivo de linchamento, por outro lado há a necessidade de que essa condenação se consume, pois, do contrário, o estado democrático de direito estaria desacreditado, e o estado democrático de direito, em virtude de sua rede formidável de garantias individuais (o princípio da ampla defesa, do contraditório, da legalidade, do in dubio pro reo, etc.) é o sistema jurídico e político que melhor protege o indivíduo contra o linchamento da coletividade. Creio que o girardiano só poderia tratar essas condenações como um mal infelizmente necessário, nunca com aplausos, manifestações cívicas de louvores ao anjo negro vingador, como se depois de rolarem as cabeças do Zé, do Valério, etc., um novo Brasil mais ético, mais justo, mais honesto, mais solidário fosse nascer.

  16. Julio, concordo que seja errado utilizar uma ideologia para não se ter que pensar. Mas, se entendi seu texto, você é contra a utilização de qualquer ideologia, seja de direita, seja de esquerda, porque elas comprometeriam a independência de pensamento, e a favor de se tomar decisões caso a caso, sem inclinações a um ou outro lado. Não acredito que isso seja possível.

    A ciência nos fornece meios para obtermos informações precisas; mas ela não toma decisões por nós. E nossas decisões são baseadas em nossos valores e sua hierarquia, naquilo que acreditamos ser não apenas correto, mas também, “mais correto”.
    E nossos valores definem nossa ideologia. Quer dizer, não escolhemos nossa ideologia; ela simplesmente se molda à medida em que vamos formando nossa visão de mundo.

    É impossível governar sem ter uma posição delineada. Algumas questões dependem de interpretações não apenas precisas dos fatos, mas também, ideológicas. Por exemplo: devemos manter empresas estatais ou devemos privatizá-las? Devemos manter programas de auxílio social, com recursos obtidos por meio da arrecadação de impostos, ou devemos diminuir a carga tributária e estimular o livre mercado? As repostas a essas questões dependem da visão de mundo de quem as responde, uma vez que cada pessoa irá considerar valores distintos, ou atribuirá pesos distintos para os mesmos valores. Não podemos fazer este tipo de escolhas sem sermos influenciados por eles.

    Além disso, na prática da política, muitas decisões baseiam-se em outras anteriores, o que levaria ainda mais longe a influência da ideologia neste campo e que, também por isso, a tornam indispensável. Afinal de contas, um governante que tomasse medidas contrárias às anteriores iria apenas rodar em círculos, sem levar o país a lugar algum, propondo paliativos aos problemas que se apresentassem, e ignorando o futuro.

    Pra finalizar, peço desculpas se disse alguma bobagem; não pretendo ser mais do que um filósofo de boteco, apesar de não ser nem formado em Filosofia nem frequentador de botecos.

    Qual a sua opinião?

  17. Eduardo, obrigado pelo comentário. É uma boa pergunta. Veja, precisamos definir minimamente os termos de acordo com o texto. Ideologia é uma visão de mundo total e pré-dada, ou seja, “pronta”. Na prática, uma pessoa ideologicamente orientada não consegue julgar de acordo com a prudência: não sabe sopesar valores, inferir a partir de princípios práticos ou considerar atentamente as circunstâncias. Esquerdistas e direitistas têm em comum a imprudência, mesmo quando fazem propaganda do seu oposto (traço mais encontrado entre conservadores e tradicionalistas, na acepção de dicionário).

    Basicamente, você compra uma ideologia inteira, e passa a julgar tudo aos olhos dela. Assim, o Estado é o mal encarnado, ou o capitalismo, ou a Igreja, ou as comunidades intermediárias, etc. E é impossível buscar o bem comum, a finalidade da política bem entendida, se há um compromisso prévio com uma visão que separa a humanidade em amigos e inimigos. Para o prudente, não há amigos ou inimigos na hora de julgar. Dá-se a cada um o que é seu, aplica-se a regra de ouro e, principalmente, conta-se com a experiência. Por valorizarem a prudência, conservadores e tradicionalistas acertam mais, e fazem propaganda de valores corretos; mas infelizmente, na prática, costumam julgar com flexibilidade os amigos e com rigor extremo os inimigos de esquerda. Se um esquerdista, ou um inimigo qualquer, faz algo meritório, fe-lo pelos motivos errados, ou provocará um dano mais tarde. Por isso é preciso passar por cima dessas visões de mundo pré-concebidas e julgar programas e ações de modo prudente. Isso é difícil, e é também um ideal, mas de início não tem compromisso com nenhum grupo ou corpo de idéias coerente. Por isso, se o Arnaldo Jabor, que é uma besta, diz algo sensato, por que devo discordar dele? Os ‘comprometidos’ fazem isso o tempo todo. Esquerdistas são canalhas comprometidos com uma conspiração global, etc, e devem ser odiados.

    Esse tipo de atitude é infantil e indigna de quem pretende ser sensato. E é o meu alvo — a atitude, e não pessoas — nesse texto. Ser independente — o que é sempre relativo, dado que a independência, como a prudência e qualquer virtude, é um critério de julgamento e ação, e não uma visão de mundo pronta e acabada — é procurar essa autonomia ‘prudencial’, e não ser um buda ou ficar em cima do muro. Toma-se muitas posições. Quem lapida um diamente não fica sentado esperando. Corta um pedaço aqui, neste ângulo, e outro ali, doa a quem doer, porque só está comprometido um trabalho bem feito, honesto. Muitos podem ser colocados como exemplo, mas evito fazer isso. Ninguém vive de autores “do meu time” e de bons exemplos sem cair no mesmo vício.

    Uma “posição delineada”, como você disse, é quase inescapável, mas não impossível. Aqui entra em jogo o mesmo critério prudencial. Como as utopias são nefastas, temos de julgar caso a caso o que funciona. Eu particularmente tendo a favorecer qualquer posição política que dê força ao empresariado, porque penso que é a classe que produz riquezas e tem menos rabo preso, a menos que se trate de empresas muito grandes com laços fortes com o governo; por isso, baixar e abolir impostos costuma ser bom, o mesmo quanto ao favorecimento de sociedades intermediárias, pequenas e médias empresas, lideranças locais, municipalismo. Costuma ser. Como não sou economista, não posso ter certeza — ainda mais porque mesmo os economistas erram. Cada escola econômica ou política tem seus acertos, se a experiência o confirma. Assim, porque devo me comprometer com uma posição pronta, delineada de antemão, se sei que muitos programas podem não funcionar? Comprometer-se com política ou com uma teoria parcial ou total sobre o funcionamento do mundo (por mais ‘transcendental’ que seja, por mais preocupada com o bem comum, como o distributismo de Chesterton e Schumacher) é comprar a própria decepção, e perder a briga antes de sair de casa.

  18. Da ideologia – pequeno ensaio (quanta pretensão!)

    Eduardo e Júlio que boa discussão essa de vocês dois. Estou com você Eduardo. Não há como não ter uma ideologia. Aqueles que se declaram independentes veem no “independentismo” uma… ideologia! Já ouviram falar de um certo Kassab? Ele não é de direita, nem de centro e nem de esquerda! Ora, ele é um metamorfo, alguém que se adapta as conveniências – minha opinião! Ou é um covarde, com medo de se posicionar, de desagradar, em primeiro a si e depois aos outros.

    Concordo com Júlio em que nem tudo que reluz é ouro. É preciso analisar a ideologia, diria que antes, a prática da ideologia. Também concordo que alguns abusam do radicalismo e tapam sua mente aos erros práticos dos companheiros. Mas isto significa que a ideologia não presta? Ver na história da igreja alguns papas indignos nos leva a desacreditar da ideologia cristã? Não me parece… Ver nos comunistas alguns facínoras deveria implicar em jogar tudo no lixo? Ora, “O Capital” é um livro fantástico! Posso discordar, e discordo profundamente, mas não me venham dizer que não é uma grande obra! Observar algumas loucuras utópicas de Ayn Rand significa jogar sua filosofia no lixo? E não poder mais sonhar com o mundo novo de Galt!??

    Vamos à etimologia? Ideologia vem do grego Idea, “protótipo ideal”, literalmente “forma, aparência” e Logos, “tratado, discurso, estudo”. Ou seja, “estudo de um protótipo ideal” (Nota. recorro a etimologia e não ao conceito sociológico de ideologia, senão teríamos que ir para os franceses pré Napoleão e não sairíamos de um círculo). E protótipo? Também do grego, Protos, “primeiro”e Typos, “batida, punção, marca impressa”. Assim, para mim, ideologia é “estudo de uma primeira punção ideal”.

    Quero ressaltar as palavras “estudo” e “primeira”. Se é “estudo”, não é finalístico, é caminhante – tô parecendo o Ayres Britto!! Se é “primeira”, não é última, é início.

    Ideologia, nesta minha interpretação, é um estudo de uma idéia que tem potencial para ser, no campo “técnico”, uma “idéia ideal”. Não é norma de vida, não é sonho utópico, não é determinação… Se é “estudo” é crítica, é reflexiva, é independente – opa! chegamos!

    Erram os que pensam que ideologia não se constrói permanentemente e, por se construir permanentemente, não é crítica consigo mesma ou não tem capacidade para ser crítica – influência de Berger e Luckmann e sua construção social da realidade.

    Lá no começo disse que era preciso analisar a prática da ideologia. Por que – meu Deus, é junto? ou separado? malditas faltas e desatenções nas aulas de portuga! – a ideologia, em si, está sempre sendo analisada, repensada, aprimorada. Ou não vemos progresso nas obras de Aquino, de Pascal, de Tocqueville? A prática desta ideologia é que complica as coisas. Ora, se é “caminhante” como querer que a prática responda as questões da vida? Como querer que a aplicação cega daquilo que é “estudo” dê resultados de teoria consolidada?

    Mas prática e teoria não se confundem, somos nós – ou eles – adoro essas referências ao indeterminado “eles” – que confundimos. Se ideologia é crítica, é reflexiva, é independente, não há como ser independente sem ter – e ser, e sentir, e agir – ideologia. A independência também é um estudo de uma primeira punção ideal em que a análise “ad hoc”, com base nos valores ético-morais adquiridos, se torna a concepção que tem punção – não, eu não li Freud – para ser uma “idéia ideal”.

    Não há como ser independente sem ter ideologia. A ideologia, por ser reflexiva, liberta – não, não sou adepto da teologia da libertação – das amarras do nada, do negacionismo, do ceticismo. E olha que vos fala um cada vez mais cético!

    Aprendi nas aulinhas de catecismo católico – protestantes tradicionais e gnósticos pensam algo semelhante – que a liberdade não é fazer nada, ser nada ou ter nada. O assumir a prática – olha ela aí de novo – é que nos liberta. Liberdade é escolher e seguir a escolha. O resto é nadismo…
    E nadismo não é independência.

    Ideologia não é finalística, é caminho. Sin caminante(s) no hay camino…

    Boa prática a todos! Hehe

    Ps.: Não ter ideologia é uma ideologia! Ser crítico de todas as ideologias é ter ideologia!

  19. O Coutinho não participa deste delírio chamado “independentismo”. Ele não tem medo de se assumir: é um dos autores do livro “POR QUE VIREI À DIREITA – TRÊS INTELECTUAIS EXPLICAM SUA OPÇÃO PELO CONSERVADORISMO” – com Luiz Felipe Pondé e Denis Rosenfield. Os três autores, como pessoas normais, não hesitam em reconhecer a posição que seus pensamentos ocupam, o que não implica dizer que concordem e discordem das mesmas coisas.

    Por fim, vale a lida de mais um (mais um!) ótimo protesto do Pondé contra a academia (citando Nietzsche – este vale para os credencialistas de plantão?): http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/1180196-o-filosofo-do-martelo-na-academia.shtml

  20. “Independentismo” não existe, Rodrigo Caruso, e assumir posições não é “sair do armário”. Existe independência e sensatez. Você pode ser alcunhado como sendo “de direita”, como eu sou frequentemente (e de fato, se fosse obrigado a me rotular sob ameaça de morte, eu me declararia direitista), e mesmo assim não querer entrar na lambança ideológica, que mais prejudica do que liberta. Se você se anuncia como “um homem de direita”, vai ser obrigado a fazer retoques o tempo todo: “mas com isso eu não concordo, não sou tradicionalista”, “foi Marx quem o disse, mas nisso ele está certo”, etc etc etc. O melhor é não fazer anúncios de afiliação ideológica em bloco, sob pena de ficar preso a esquemas magnéticos. Mas se prefere a histeria, bom, é escolha sua.

    Eu fiz observações ao autor do prefácio desse livro, por telefone, e foi uma das coisas que eu disse a ele. Toda essa histeria em torno do sair do armário direitista é conversa fácil, supérflua, de quem quer chocar.

    O LF Pondé já desagradou aos que gostavam dos textos antigos dele, e até a mim, com denúncias às madames paulistanas e livros superficiais; mas esse texto em particular me parece bem razoável. Mas no geral ele agrada esquerdistas às vezes mais que direitistas com os discursos dele. Costumo assistir ao Jornal da Cultura e estou acostumado com isso. Nem em Deus ele acredita.

  21. “Há diferenças brutais entre esses autores — entre René Girard, Voegelin e Guénon, por exemplo, cujos méritos não pretendo discutir aqui –, mas não é difícil captar-lhes o elemento comum, já esboçado, de denúncia dos males do mundo moderno, o que costuma vir acompanhado, mesmo inconsistentemente, da defesa do livre mercado, bandeira que era da esquerda há algumas dezenas de anos. ”

    Tem certeza de que não quer reescrever esse trecho?

  22. Não, Caio; está correto. Claramente — embora muita gente não consiga ler passagens simples — a ideia é que a denúncia dos males do mundo moderno costuma vir acompanhada, nestas plagas influenciadas pelo vale-tudo filosófico, da defesa do livre mercado, uma linha claramente compatível com linhas de esquerda modernas (Murray Rothbard, por exemplo — mas esse é apenas um exemplo perfeito). Quer que eu desenhe?

  23. É uma injustiça criticar René Guénon para pinicar supostas vacas sagradas do conservadorismo. A obra de Guénon começou a ser traduzida para o português nos anos 50, ou seja, muito antes do ex-aluno do astrólogo ter nascido. Além disso, Guénon, em uma carta, disse que os Protocolos dos Sábios de Sião são parcialmente verdadeiros. Logo, a defesa do sionismo feita pelo astrólogo jamais seria endossada por Guénon.
    Tenho amigos que conhecem o astrólogo há algumas décadas. Fiquei sabendo que ele quebrou a redação do Jornal da Tarde nos anos 70 , foi retirado da redação numa camisa-de-força e levado para um hospício. Apesar da internação forçada, o astrólogo não ficou curado, pois mau-caratismo não tem cura. Ele fugiu do Brasil devendo dinheiro para várias pessoas. Apenas da filha do jornalista Alberto Dines, o astrólogo pegou emprestado quinze mil dólares e que não pagou um centavo.
    Quanto ao ex-aluno e suposta vaca sagrada sagrada do conservadorismo, siga o exemplo do Felipe Coelho e mande-o roer um carvalho. Pode ter certeza de que ele vai gostar.

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