Alan Sokal, professor de Física na New York University e de Matemática na University College London, conhecido de certa parcela do público brasileiro pela denúncia de certa picaretagem pós-moderna, acaba de publicar em três partes o ensaio intitulado “O que é a ciência e por que devemos nos importar com ela?” (em inglês). Aqui estão os textos:
What is science and why should we care? (parte I)
What is science and why should we care? (parte II)
What is science and why should we care? (parte III)
O ensaio foi publicado em um novo site do filósofo Massimo Pigliucci, professor da CUNY: o Scientia Salon. O site, aliás, aceita contribuições.
Na segunda parte, Sokal discute temas de máxima importância. Entre os pontos que ele estabelece, com os argumentos clássicos e variações, estão: (a) não devemos confiar na pseudociência (astrologia, homeopatia, etc); (b) o evolucionismo é um fato estabelecido;* (c) o modo religioso de entender o universo é incompatível com o modo racional (em sentido estrito).
(*) A more subtle issue concerns the mechanisms of biological evolution; and here our modern scientific understanding took a longer time to develop. Though the basic idea — descent with modification, combined with natural selection — was set forth with eminent clarity by Darwin already in his 1859 book, the precise mechanisms underlying Darwinian evolution did not become fully elucidated until the development of genetics and molecular biology in the first half of the twentieth century. Nowadays we have a good understanding of the overall process: errors in copying DNA during reproduction cause mutations; some of these mutations either increase or decrease the organism’s success at survival and reproduction; natural selection acts to increase the frequency in the gene pool of those mutations that increase the organism’s reproductive success; as a result, over time, species develop adaptations to ecological niches; old species die out and new species arise. This general picture is nowadays established beyond any reasonable doubt, not only by paleontology but also by laboratory experiments.
A leitura de ensaios como esse é essencial em países com baixíssima escolaridade e compreensão da ciência, como o Brasil e — como revelou uma pesquisa recente — os EUA. Quando desmascarou certos exponentes do pós-modernismo, Sokal realizou um serviço de utilidade pública — lembrado até hoje.
Alguns escritos de Alan Sokal estão cuidadosamente coligidos aqui.
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A propósito, há alguns anos o falecido (e merecedor de homenagens) Sérgio de Biasi escreveu um texto com recomendações em filosofia da ciência que já ajudaram muita gente.
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Ao ler todo este proselitismo a favor das evidências, por que me lembrei de René Girard?
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Sokal pensa em higienizar o debate… o que lhe falta são as evidências de que aquilo tudo que ele aponta como sujeiras são de fato sujeiras… Daí, como não poderia ser diferente, cai no proselitismo científico típico (pedante) do acadêmico…
Tiago, um dado interessante: já há muito a blogosfera roots conservadora, da época de ‘O Indivíduo’, divulga “Imposturas Intelectuais” de Alan Sokal, que denuncia a picaretagem pós-moderna. Mas nunca divulgou o trabalho central de Sokal: a difusão da cosmovisão científica em sentido amplo, contrária a quase todos os aspectos do conservadorismo à brasileira (muito semelhante ao dos EUA, porque inspirado nele).*
* Lembrando que o conservadorismo divulgado em nossas plagas faz uso de um ceticismo seletivo: desacredita apenas o progresso — o que é uma posição às vezes legítima, quando apoiada em evidências –, enquanto acredita em coisas *muito mais duvidosas* que o progresso. A saber: o conjunto de alegações da tradição ‘judaico-cristã’, pseudociência, dogmas sociais, escolástica, metodologias mortas há 600 anos. Quando não desacredita o evolucionismo e prefere sutilmente “suspender o juízo” quanto ao criacionismo — porque atacar o fundamentalismo soa como agressão ao inimigo.
E é justamente essa idiotice coletiva que prefere o wishful thinking à realidade, e chama a honestidade intelectual de “proselitismo a favor das evidências”. Bem, se queres o proselitismo da falcatrua, boa sorte.