Enquanto o mundo se preocupa com Julian Assange, o editor do Wikileaks, verdadeiro personagem que parece ter saído das páginas de um Thomas Pynchon ou de um Don DeLillo, os EUA encaram o volume de cartas deixado por Saul Bellow e que foi publicado no mês passado.
Neste artigo sensacional de Joseph Epstein – figurinha fácil do mundo high brow nova-iorquino – sabemos que Bellow era, como se esperava, um sujeito díficil de lidar, com contradições e incongruências que só os gênios da literatura estão autorizados a ter.
Ao mesmo tempo, sabemos que sua “vida triste” foi resultado de uma dedicação exclusiva à vocação literária que, se não lhe trouxe felicidade, pelo menos nos deu Augie March, Tommy Wilhem, Moses Herzog e o sr. Sammler.
Mas, ora bolas, quem disse que qualquer trabalho traz felicidade? Bellow é o exemplo consumado do escritor que, mesmo com seu sucesso, continuava inquieto. Talvez a melancolia seja o preço a pagar por suportar um daimon que não fazia concessões a ninguém, nem mesmo aos seres mais queridos. Em outras palavras: até o mais brilhante de nossa raça sempre será um suffering joker.
Vocês poderiam dar uma olhada na diagramação do site. O “Compartilhe” ficou muito próximo do texto. Mal se termina o que se leu e sem nenhum espaço, como se fizesse parte até do texto, aparece o “Compartilhe”.
De resto, quero comprar essa coleção de cartas e, claro, continuem com o bom trabalho.
Coincidentemente, eu estava revendo uns filmes, e me deparei com uma declaração de Saul sobre um dos mais importantes personagens do século XX – http://youtu.be/h-IpdevalF8
Arrisco um off topic apenas para agradecer ao Marcelo Viana a chance de rever “Zelig”, depois de muitos anos. O link apareceu na hora certa. Digam o que disserem do Woody Allen e de seus pendores nietzcheanos, etc (quem atira a primeira pedra?), este filme continua a ser das melhores traduções que se pode encontrar em linguagem moderna para o muito abusado “verdade e amor se encontrarão”, do Salmo 85,11. O resgate de Zelig em Berlim é das coisas mais engraçadas e comoventes a que já assisti na tela. Os doutos ou meramente ilustrados, como este escriba, podem também reconhecer aí tanto do René Girard. Um belo filme para o Advento.