Aleksandr Sokúrov

 

por Álvaro Machado, especial para Dicta &Contradicta

Companheira do muito querido professor Boris Schnaiderman, um dos fundadores dos cursos de russo do Departamento de Línguas Orientais da Universidade de São Paulo, a professora Jerusa Pires Ferreira resolveu lembrar a atenção que o casal sempre dedicou ao tema literário do Fausto, em coluna do caderno “Ilustríssima” da Folha de São Paulo de 29 de julho de 2012.

O registro parece ter sido provocado pela exibição, nos cinemas do país, do filme Fausto (2011), do diretor Aleksandr Sokúrov, também objeto de meu ensaio “Responsabilidade Individual e Servidão Voluntária na Tetralogia do Poder de Aleksandr Sokúrov”, publicado no novo número de Dicta & Contradicta, a ser lançado neste mês de agosto.

Em “O Fausto segundo Candido”, Jerusa Pires cita de passagem o filme do russo, “autoral, em que têm força as discussões sobre o poder e o amor”. Mas sua finalidade principal no artigo é lembrar com saudades encontros pautados pelo tema nos anos 1970 – e também em 2010, já na companhia de Boris – em casa do professor e crítico Antonio Candido, outro estudioso do que ela chama “tecido fáustico” – a malha de lendas e livros que desde a Idade Média é tecida sobre o motivo arquetípico da corrupção da alma humana.

O professor Boris, hoje se recuperando de um problema de saúde, não tem podido acompanhar como gostaria a mais recente produção artística vinda da Rússia, material que sempre alimentou suas reflexões, ensaios, palestras e livros. Assim, é uma grande pena não podermos ler, ainda, sua opinião sobre o novo filme de Sokúrov, no qual certamente ele encontraria ângulos muito diversos daqueles que a crítica cinematográfica tem repisado na Europa e no Brasil. Seu conhecimento da cultura russa certamente lhe permitiria externar conclusões originais.

Em todo caso, o artigo de Jerusa é, para mim, nova ocasião de lembrar a atenção que o professor Boris sempre deu à nova produção cultural russa. Em seu livro Os Escombros e o Mito; a Cultura e o Fim da União Sovietica (Cia. das Letras, 1997), ele citou generosamente crítica minha na Folha de São Paulo ao filme Uma Vida Independente, de Vitáli Kaniévski. Aliás, dificilmente o intelectual recusou a jornalistas um pedido de entrevista e sempre teve paciência em dar-lhes verdadeiras aulas particulares, ajudando a desmontar, dessa maneira, o muro habitualmente erigido pelo meio acadêmico frente à imprensa.  Depois, no lançamento do volume Aleksandr Sokúrov (Cosac Naify, 2002), aceitou prontamente meu convite e da Mostra de Cinema de São Paulo de participar de encontro público com o cineasta, quando foi exibido o filme Arca Russa (2001). E ainda publicou dois artigos riquíssimos sobre esse filme de Sokúrov no jornal O Estado de S. Paulo.

Uma boa notícia é a de que a professora Jerusa está preparando um volume sobre os Faustos ibero e latino-americanos. E quem sabe ainda tenhamos à frente a melhor das notícias, ou seja, de Boris Schnaiderman também poder ver e comentar o filme de Sokúrov sobre o mito fáustico.

Um comentário em “Aleksandr Sokúrov

  1. Talvez a referência interesse a alguém: Fausto e a América Latina. Org. Helmut Galle/M. V. Mazzari, São Paulo, 2010.
    Abraços
    Juliana

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