O Harold Ramis, que infelizmente morreu ontem, costumava dizer aos atores que dirigia: “finjam atuar aí enquanto eu finjo que filmo aqui”. A frase, quase uma brincadeira de quem esteve em tantos dos meus filmes preferidos da infância e adolescência (Caça-Fantasmas e Feitiço do Tempo, especialmente), ganha um significado especial agora que ele se foi, quase uma lição de como a gente deve levar a vida: não vamos nos levar muito a sério.
Hoje passei na frente do posto de bombeiros em Tribeca, onde funcionou o QG dos Caça-Fantasmas. Tirei umas fotos. E vi muita gente homenageando, mais do que Ramis, o personagem Egon Spengler. Deixaram ali bolinhos Twinkies, barras de chocolate Crunch, entre outras referências ao cientista. Tudo dentro do espírito de não levar esta vida muito a sério. Fica a lição.
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Estava aqui procurando no Google um ensaio muito bom que li uma vez sobre os possíveis significados do filme Feitiço do Tempo (dirigido pelo Harold Ramis) e que mencionava tanto uma leitura budista como judaica. Não achei, mas descobri uma matéria do NYT antiga que fala um pouco disso.
Da parte budista, o filme ilustra perfeitamente a noção de samsara, o contínuo ciclo de morte e renascimento, um sofrimento que todos nós tentamos escapar. O personagem de Bill Murray funcionaria como um bodisatva, que, ao atingir o nirvana, interrompe esse ciclo e ajuda a nos salvar. Ele não abandona o mundo quando morre, mas sim retorna para salvá-lo. O Dalai Lama é um bodisatva, por exemplo.
Da parte judaica, o personagem de Bill Murray é recompensado, a cada retorno (ou a cada dia que se repete no filme), por praticar mais e mais mitzvot – “boas ações”, em sua tradução mais comum. O Talmud se refere a qualquer ato de caridade como mitsvá. Para os judeus, o trabalho nunca termina enquanto o mundo não estiver perfeito.
Talvez sejam leituras exageradas, pouco acadêmicas, mas o próprio Ramis admitiu que o filme tem conexões fortes tanto com o judaísmo quanto com o budismo. Além disso, sua mãe, apesar de ter nascido judia, era budista e ele se lembra de ter aprendido muito da filosofia oriental com ela.
Bom, para quem nunca viu o filme, não tem mais desculpa pra não ver. É uma história e tanto, tem o Bill Murray, é dirigido pelo Ramis e ainda tem a famosa marmota, que o personagem insiste em chamá-la de “rato”.
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