Em defesa da aventura

Thomas Gainsborough - Coast Scene with Shipping
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Nessa semana, o texto da Dicta 3 a ser publicado é Em defesa da Aventura: de Homero a Conrad. Semana que vem tem mais. Aliás, alguma sugestão?

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Em defesa da aventura: de Homero a Conrad
por Rodrigo Duarte Garcia

 

Em 1961, dois anos antes de morrer, o escritor irlandês C.S. Lewis publicou o pequeno ensaio An Experiment in Criticism, propondo uma experiência simples – mas muito interessante – de crítica literária: julgar os livros não apenas por si mesmos, mas especialmente pelo tipo de leitura que poderiam proporcionar. A idéia era transferir a atenção isolada da obra e examinar as qualidades e defeitos que fazem um bom ou mau leitor. Naturalmente, as investigações não pretendiam ter o caráter de um método científico rigoroso ou qualquer coisa aborrecida do gênero, mas apenas mostrar que, se a apreciação estética é uma experiência individual, os livros podem e devem ser julgados pela leitura que deles fazem os melhores leitores. Bem, no final das contas, é exatamente por essa razão que você lê com interesse os comentários de Nabokov sobre Jane Austen, mas não perderia um minuto com o que a sua tia – fã incondicional de Danielle Steel e de livros de auto-ajuda – teria a dizer sobre Mansfield Park.

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5 comentários em “Em defesa da aventura

  1. Da Folha de hoje:

    “Os piratas avançam”
    “Se tivesse como comprar, não baixaria”, diz usuário
    “Autores lamentam casos, mas não veem solução”

    “Jovens criam controvérsia com revista”

    Estão em boa companhia, hein amiguinhos?

  2. Excelente texto, mas queria chamar a atenção aqui para uma entrevista do poeta Carlos Drummond de Andrade que Reinaldo Azevedo mencionou em seu blog hoje (http://www.geracaobooks.com.br/literatura/texto2.php). Impressionou-me, além da extrema sinceridade, uma certa calma amargura e ceticismo do mesmo. Deu a entrevista no ano em que morreu e percebo que ela é o exato oposto da entrevista de Tolentino que mesmo, à beira da morte, parecia alegre e esperançoso. Destaco alguns trechos:

    “O senhor acredita em Deus?

    Drummond – Não.

    Só isso? Não?!

    Drummond – Sou rigorosamente agnóstico. Uma pessoa que não pode afirmar a inexistência de Deus, da mesma maneira que não pode afirmar a existência. Não tenho, na minha capacidade intelectual. condições para afirmar que Deus existe. E, a não ser os teólogos. duvido que alguém mais tenha capacidade para isso. Mas eu passo muito bem sem Deus. Não me dá remorso e foi uma conquista da minha vida. à qual agradeço em parte aos meus queridos jesuítas. Porque eles é que começaram a fazer desabar em mim a idéia de Deus como um Todo-Poderoso que regula a vida e a morte das pessoas. Mas respeito profundamente qualquer forma de religião

    O senhor é feliz?

    Drummond – Não sei. Não sei. Eu não sei o que é ser feliz. Eu vivo, e vivo em paz com meus semelhantes.

    O que é a esperança, para o senhor?

    Drummond – Um fio muito fino,ao qual eu meu agarro para não morrer desesperado

    O que o senhor acha do suicídio?

    Drummond – Uma solução heróica. De uma grandeza moral enorme. A não ser, claro, quando o suicida é doente, que se mata porque está privado do raciocínio. ”

    E por fim, a mais hilária das respostas:

    “Bem, acho que estamos no fim. O senhor quer dizer mais alguma coisa?

    Drummond – Eu não. Não quero dizer nada. Você me arrancou uma porção de coisas que eu não devia dizer. Por minha iniciativa, eu não digo nada a ninguém, sabe? “

  3. è otimo ver gente como voces remamando contra a mare do engajamento ideologico militante que reina na America Latina.

    Contra opinioes originais e qualidade estetica como a da revista nao ha ” Politicamente correto” que possa.

    O resto e choradeira.

  4. Esse texto de Rodrigo Duarte é bom. Depois dele o cara lê O Conde de Monte Cristo sem achar que tá perdendo tempo.

    Os inteligentes e brilhantes sempre dizem que o Conde é um livro mal escrito.

    Mas é uma ótima aventura.

    *

    Gostaria de ver aqui o excelente ensaio do João Pereira Coutinho. Pro meu gosto o que de melhor saiu na revista até agora.

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