A expressão da modernidade em Thomas Pynchon

Thomas Pynchon é tido como um dos maiores escritores vivos, um expoente do pós-modernismo literário e, segundo o crítico James Wood, um dos inventores do realismo histérico, junto com Don DeLillo. O fato, entretanto, é que Pynchon é sobretudo um mistério: recluso como J. D. Salinger, existem poucas fotos suas, circulam vários rumores sobre sua vida, praticamente não há entrevistas do autor e são raríssimos os relatos dele sobre a própria obra.

 

Compreender Pynchon é um trabalho árduo. Especialmente se entram em cena as opiniões não raro opostas que os críticos têm de sua obra. Um ponto em comum (ou o mais próximo disso que se pode chegar) é o papel de Pynchon como um narrador da modernidade. Inobstante os poucos lançamentos, sua ficção é abrangente e tem a modernidade como mote, o que se explicita em duas dimensões: tempos e temas. Obviamente, há expressões da modernidade na construção dos personagens, nas suas ações e relações, e nos enredos. Contudo, creio que os últimos fatores são determinantes na visão que o autor tem da modernidade, ao passo que os primeiros são determinantes na própria modernidade como temática da obra.

 

Pynchon tem seis romances publicados: V. (1963), O Leilão do Lote 49 (1966), O Arco-Íris da Gravidade (1973), Vineland (1990), Mason & Dixon (1997), e o ainda não traduzido Against the Day (2006). Destes, as três maiores obras, tanto em peso literário quanto em tamanho, são O Arco-Íris da Gravidade, Mason & Dixon e Against the Day, e é nesses romances que a dimensão do tempo ganha relevância.

 

Enquanto V., O Leilão do Lote 49 e Vineland são romances passados na época em que foram escritos (precisamente, nos poucos anos que os antecederam), os outros três livros têm dimensões históricas. E é a escolha das épocas que deixa clara a modernidade como tema de Pynchon. Isso acontece pois as três obras ocorrem, se não no âmago de grandes crises da história recente, nos seus momentos anteriores. O Arco-Íris da Gravidade passa-se no final da Segunda Guerra Mundial, predominantemente no meio da Alemanha. Já Mason & Dixon, nos Estados Unidos, às vésperas de Revolução Americana, e, Against the Day, nos anos anteriores à Primeira Guerra Mundial. Para completar, os dois últimos carregam, de certa forma, um ambiente ou  percepção paranóica (sendo a paranóia um tema recorrente em Pynchon) de que algo está a ocorrer.

 

Quanto aos temas, destaca-se que desfilam nas obras de Pynchon elementos não apenas comuns, mas característicos, ou até caricaturais, da modernidade. São freqüentes as intrusões das ciências e dos cientistas, o deslumbre e o medo da tecnologia, a predominância das ideologias, o choque entre a alta cultura e a cultura pop, a contracultura e o underground.

 

Mas Pynchon permanece um mistério. Sempre poderemos nos perguntar qual é a mensagem que o autor quer passar. E o pior, o único consolo que ele nos dá é um provérbio para paranóicos:

“If they can get you asking the wrong questions, they don’t need to worry about the aswers.” (Gravity’s Rainbow)

4 comentários em “A expressão da modernidade em Thomas Pynchon

  1. Olá! Só li “Vineland” mas tenho “O Arco-Irís da Gravidade”. Já que tem uma tag “Thomas Pynchon” espero que escrevam mais sobre ele (quem sabe isso não auxilia a leitura deste último livro…) Até mais

  2. Tenho 3 livros do Thomas Pynchon, mas até agora só li o mais fino, O Leilão do Lote 49 que encomedei de um sebo virtual, os outros dois são O Arco-íris da gravidade, que estou lendo, e Mason e Dixon que espero ler assim que concluir o arco-íris.

  3. Eu pensava escrever o que pensava mas comecei a sentir, a ter a sensação, aquela sensação, como se um foguete, um de verdade, estivesse rondando a antena parabólica do meu prédio, quer dizer, desse prédio aqui onde moro. De forma que, vou dizer, contar tudo mesmo, uma outra hora, depois, em um momento realmente seguro.
    Att

  4. Os críticos se contrapõem em suas ‘conclusões’ acerca da obra de Pynchom, mas duvido que escrevessem um miléssimo do que escreveu. Creio que a mensagem de Pynchon não é tão obscura quanto parece; para mim, em seus monumentais livros, está a dizer “é gente, a vida é isso aí, esse aglomerado de complexidades sociais e tecnológicas, sucessos e fracassos de um de outro e afinall de contas tudo isso acaba num ponto só – que grande ironia!” Um estado entrópico, característica inescapável da realidade física.

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *

Você pode usar estas tags e atributos de HTML: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>