Um minuto de silêncio

Hoje faz um ano que o Bruno Tolentino morreu. Aqui vai a nossa pequena homenagem,

A Explicação

Por Bruno Tolentino

[…]

É o real tudo aquilo que, à medida
em que nos abandona e se evapora,
sagra o aqui e o agora
entre os braços da Cruz, nosso sinal
de mais na escuridão.
Tudo o mais é ilusão,
mero jogo mental
que às vezes nos confunde,
mas que não pode desfazer o nexo
entre o instante mortal
e o perene esplendor da rosa-mundi.

Esse é o grande cordão umbilical,
o traço de união, aquele elo
que Eliot entreviu num roseiral
e o Velho do Restelo
num cais de Portugal.
É o mesmo nexo sobrenatural
que, às vezes, com uma rapidez de seta,
inexplicavelmente nos inquieta
ao deixar-se entrever à face lisa
do que eu chamo de espelho convexo
e Platão comparava a uma gruta.

Metáforas que valem como o indício
de que a mente se expande quando escuta
o sussuro imortal que anima a brisa,
sossega a ventania
e acode a cada rosa na agonia;
ele é que suaviza
o derradeiro amplexo
que desfigura e transfigura o ser,
ele é que acalma
e leva pela mão a pobre alma,
resgatada dos braços do suplício
para enfim perceber
o esplendor de um jardim muito maior
que seu curto reflexo.
Se enxergá-lo é difícil,
não ver é ainda pior
 

8 comentários em “Um minuto de silêncio

  1. Eu não sabia aonde parabenizar pela revista que chegou ontem aqui. Li a aula de Bruno, que você transcreveu. Então receba os meus cumprimentos. E desejo que a estrada seja longa, fértil e honre o poeta que não cansa de me assombrar.

  2. Olá Guilherme!
    Olha, a revista é um sucesso e já está na tv. O canal 22, da arquidiocese de Belo Horizonte, através do Pe. Cândido, já fez a publicidade da revista em seu programa “Questões de Fé”. Logo logo faremos contato direto para que venham até BH falar um pouco da experiência de vocês aí em Sampa.
    Abraço

  3. Cheira à erudição sem palavras eruditas. Poucos me soam assim. Bruno Tolentino se foi, mas a sua obra é eterna.

  4. Vários de nós estávamos junto do Bruno há um ano. Foram momentos inesquecíveis, dolorosos: ver partir alguém que – porque não dizê-lo? – amávamos tanto, que nos formou e ensinou, uma pessoa única e especial. Guilherme, Martim, Rodolfo, Marcelo, Henrique: a dureza daqueles dias nos aproximou muito mais, não é mesmo? Acredito que a própria Dicta é, de algum modo, fruto daquilo tudo. Toda vez que me lembro do Bruno, sinto um aperto no coração, e acho que isso vai continuar por muito tempo. Agora cabe rezar por ele, e ter a esperança que ele possa estar logo vendo a Deus, como tanto desejava.
    Bruno foi antes de tudo um amigo; está certo que, para mim, foi o maior poeta brasileiro, mas mesmo isso ficou pequeno diante da amizade que compartilhamos com ele. Que ela continue a nos inspirar e animar!
    Belo poema escolhido, Guilherme!

  5. Gostaria de enviar o texto diretamente ao Martim e ao Guilherme. Como não tenho um contato direto deles, deixo aqui como coment o link para o meu blogue, no qual falo a respeito das palavras do Gabriel Perissé.

    http://esbocoserascunhos.blogspot.com/2008/06/de-como-fui-parar-no-observatrio-da.html

    ***

    Ouvi o Bruno uma única vez, no lançamento dA imitação do amanhecer. Obra que aliás ainda não li. Mas ele me parece ter sido de fato muito querido. Registro aqui então minhas condolências!

  6. Eu, leitor de um único Livro, e que venho de outros Ecos, pensei ser a poesia “um sinal de menos”, mas hoje sob a nova luz da explicação de bruno, revejo o real e adiciono o seu sinal de mais no meu escuro de menos.

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