O fenômeno Avatar

Ainda não vi Avatar, embora tenha lido tanto a respeito que sinto já conhecê-lo a fundo. Sei da história absolutamente convencional de civilizados malvados contra nativos bonzinhos, da filosofia/religião panteísta que permeia a vida mais nobre e pura dos N’avi, das caras na minha opinião muito feias, mesclas azuis de gato e homem, e que o grande atrativo são os efeitos especiais em 3D. Sei também que só conhece mesmo o filme quem o experimentou, pois Avatar é antes de tudo uma experiência sensorial, e não algo para se pensar a respeito. Os casos de “blues pós-Avatar”, espectadores que entram numa leve depressão depois de ver o filme pois o mundo real supostamente não chega aos pés da beleza de Pandora deixam-me intrigado.

Até chegar o dia fatídico, fico com a análise de James Bowman sobre o filme e o fenômeno por ele gerado.

10 comentários em “O fenômeno Avatar

  1. Eu particularmente acho que o James Cameron viu “A Missão”, do Roland Joffé, e pensou “hm, vou fazer um igual, mas com ETs, mudando o final e trocando essa baboseira de cristianismo por um panteísmo new age”.

  2. Bowman dixit. Só faria uma observação marginal, sobre dois pontos conectados e que não chegam a afetar a substância do artigo. Bowman se refere à perspectiva homérica e a seu contraste com a fantasia “anti-mimética” dos nossos dias, incluindo Lewis e Tolkien no pacote “anti-mimético”, dos que repudiam “consciente ou inconscientemente” a “tradição ocidental”. Sobre a perspectiva homérica, mesmo em texto jornalístico faria sentido ter presente que o Aedo não faz teologia quando, sei lá, apresenta Palas Atena disfarçada de pastor ou canta outros episódios. Quem vai negar que ele usa sua fantasia para aludir à realidade, inclusive a divina? O que leva ao segundo ponto. Em plena maré vazante pós-século XIX, quando o sentido da conexão com a realidade se degrada, Tolkien e Lewis operam, sim, nessa frequência “mágica” e propõem “novas realidades”, como Bowman aponta que o Cameron deseja fazer. “Abusus non tollit usus”, porém. Não sou crítico de arte, mas salta aos olhos a diferença entre Tolkien/Lewis e Cameron. Este não faz mais do que embrulhar para presente uma utopia no caminho da psicose, como aponta o Bowman. Tolkien e Lewis insistem em evocar algo além da memória literal embutida em suas narrativas, e esse algo não é utópico nem ideológico, mas perfeitamente razoável e por isso mesmo lealmente “mimético”. Uma boa maneira de recordar o contraste é reler o capítulo XII da “Silver Chair”, uma das “Crônicas de Narnia”. É fácil reencontrar por lá o sentido de ligação com a verdade expresso por Lewis em ensaio da década de 40: “…basic reality does not possess the characteristics of a human artefact (…) “; “I aim (…) at reversing the popular belief that reality is totally alien to our minds (…) There is no reason why our reaction to a beautiful landscape should not be the response, however humanly blurred and partial, to a something that is really there” (“De Futilitate”, na coleção de ensaios).

  3. Pois é. Jogar no mesmo saco negador da realidade toda obra de fantasia meramente por ser de fantasia é um exagero.

  4. Fico com o Márcio:

    É apenas mais uma perigosa bobagem que reforça a alienação do pensamento que formou a civilização ocidental.

    Platéias estupidificadas pelas imagens não precisam pensar segundo a realidade, mas apenas deixarem se levar pelas impressões primitivas revestidas na roupagem moderninha.

  5. “Avatar é antes de tudo uma experiência sensorial, e não algo para se pensar a respeito. ”

    Joel, você resumiu tudo nessa frase.

    Quando um filisteu qualquer me diz que “o legal mesmo do filme são os efeitos”, para mim soa como: “a garota é feia, mas tá arrumadinha”.

    Parabéns. Um dia chego lá. Abs.
    Edson

  6. Menos sobre Avatar e mais sobre o fenômeno: [the]”unholy alliance of scientific authority with Romantic therapeutic irrationalism is one of our most potent sources of false knowledge. The central fallacy of environmentalism is its distortion of the relationship of humans to nature, and its projection of human values and concerns onto an amoral material world.” http://insightscoop.typepad.com/2004/2010/03/james-cameron-congratulates-himself-for-rooting-against-humanity.html

  7. Também não vi. Meu irmão viu me contou a história. Exatamente isso: clichês politicamente corretos em cima de clichês politicamente corretos.
    O atrativo é s o efeito 3D mesmo.
    Dizem que o Homem Aranha vai ser em 3D. Esse eu quero ver.

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